Regiões 
              metropolitanas precisam 
              de administração conjunta
            
              Uma maneira de melhorar o planejamento de regiões metropolitanas 
              que compartilham problemas que ultrapassam os limites municipais 
              é através de estudos que mapeiam a área, distribuindo 
              espacialmente os dados demográficos, econômicos e sociais, 
              como o recém divulgado Atlas da Região Metropolitana 
              de Campinas (RMC), que inclui 19 municípios. "Quando 
              se pensa em região metropolitana a idéia é 
              que não haja um governo metropolitano, mas algumas instâncias 
              de poder que pudessem pensar a região como um todo", 
              afirma João Marcos Pinto da Cunha, coordenador do Núcleo 
              de Estudos da População da Unicamp, que elaborou o 
              estudo em parceria com o Núcleo de Estudos Sociais e Urbanos, 
              ambos da Unicamp.
            Apesar 
              de existirem 26 Regiões Metropolitanas no Brasil, o Atlas 
              da RMC é o primeiro que evidencia a dimensão regional 
              como aquela que engloba alguns problemas que devem ser acompanhados 
              e pensados pelos prefeitos. Para tanto, fez-se um recorte político 
              administrativo dos municípios e reuniram-se dados referentes 
              às características demográficas, ao fluxo populacional 
              metropolitano, às condições sócio-econômicas 
              e a infraestrutura-habitacional dos vários municípios. 
              "Ao mesmo tempo em que olhávamos para aos municípios, 
              delimitamos a mancha urbana, que é onde aparecem alguns problemas 
              da Região Metropolitana de Campinas", explica Áurea 
              Davanzo, pesquisadora do Nesur. Um desses problemas, por exemplo, 
              é mostrado nos mapas onde estão representados os chefes 
              de domicílio sem rendimento, que no Atlas é chamado 
              de "cordilheira da pobreza", e nos que mostram os chefes 
              de domicílio com quatro anos de estudo. Sobrepondo os mapas 
              é possível identificar uma relação direta 
              dos investimentos em educação com o desenvolvimento 
              econômico e social da região. De acordo com Davanzo, 
              a mancha urbana regional permite deixar de lado as barreiras entre 
              os municípios e trabalhar com outra realidade conceitual, 
              que poderia ser trabalhada por cada município ou um governo 
              metropolitano. 
            
               
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                   Chefes 
                    de domicílio sem rendimento 
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                   Chefes 
                    de domicílio com até 4 anos de estudo 
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                   Clique 
                    nos mapas para ampliá-los 
                    Fonte: Nepo-Unicamp 
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            Jacob 
              Binsztok, professor de geografia da Universidade Federal Fluminense 
              (UFF), explica que não se olha mais a região por um 
              prisma estatal, como se fazia na época do nacional desenvolvimentismo, 
              mas sim por um prisma governamental. Na opinião dele, a questão 
              da governabilidade dessas regiões não seria apenas 
              papel do Estado, mas também da sociedade civil organizada.
            Cunha, 
              do Nepo, explica que a uniformização administrativa 
              das regiões metropolitanas no país não é 
              possível, pois não existe uma institucionalização 
              no âmbito federal e, portanto, cada Estado tem legislação 
              própria para administrar a sua região. "Quando 
              se pensa em região metropolitana a idéia é 
              que não haja um governo metropolitano, mas algumas instâncias 
              de poder que pudessem pensá-la como um todo", completa 
              o coordenador. No entanto, ele acredita que isso é desfavorecido 
              pela autonomia administrativa e legislativa própria dos municípios. 
              "A institucionalização das regiões metropolitanas, 
              em termos de governo, é praticamente inviável no Brasil", 
              opina Cunha, enfatizando que se tivéssemos um instrumento 
              de planejamento metropolitano, que permitisse pensar o cidadão 
              metropolitano, ficaria mais fácil.
            O 
              professor da UFF acrescenta que é fundamental uma teoria 
              geral de Brasil e não apenas um recorte regional, como vem 
              acontecendo. A ausência de um projeto nacional que pense o 
              território brasileiro como um todo, evitaria a fragmentação 
              do território e a concentração de riquezas 
              em determinadas parcelas do território. Ele ainda argumenta 
              que os estudos locais e regionais terão uma validade bastante 
              expressiva se ajudarem a construir uma teoria geral sobre o país. 
              "Há hoje uma questão espacial séria no 
              Brasil, pois os geógrafos estão restritos a estudos 
              com escalas muito reduzidas. Até que ponto podemos pegar 
              o estudo de caso de uma região, com suas peculiaridades, 
              e projetar isso para uma escala maior?", enfatiza Binsztok.
            O 
              estudo denominado Dinâmica Intrametropolitana e Vulnerabilidade 
              Sócio-demográfica nas Metrópoles do Interior 
              Paulista deverá, futuramente, confeccionar o Atlas da 
              Região Metropolitana da Baixada Santista (RMbS). Assim como 
              a região que engloba Campinas, Cunha explica que essas regiões 
              metropolitanas são emergentes e não possuem um estudo 
              aprofundado, o que não é o caso da Região Metropolitana 
              de São Paulo (RMSP). Essas três regiões formam 
              as regiões metropolitanas do estado de São Paulo e 
              são responsáveis por quase um quarto do PIB nacional.