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Militares desenham novas armas
com justificativa de luta pela segurança


Pelo menos desde a Primeira Guerra Mundial, quando armas químicas foram amplamente utilizadas, a atividade científica tem seu currículo manchado por se envolver na guerra, sinônimo de morte e destruição. Em tempos de capitalismo acelerado, o diálogo entre ambos não poderia falar outra língua senão a do dinheiro. E militares, cientistas e empresários não poderiam se reunir em outro evento senão em uma convenção de negócios travestida de congresso científico.

A 24ª Conferência Científica do Exército, realizada entre 29 de novembro e 2 de dezembro, nos EUA, pareceu ter sido exatamente isso, uma grande feira em que desenvolvedores de tecnologias em armamentos procuraram mostrar seus novos brinquedos. Foi uma oportunidade também para elocubrarem sobre as novas "oportunidades" do futuro, quais serão as armas necessárias ao soldado norte-americano no campo de batalha dos novos conflitos.

Em parte, eventos como esses são possíveis devido ao sistema usado nos EUA para o desenvolvimento de armamentos. Ao invés do Estado, por meio da Marinha, Exército ou Aeronáutica, fazer o papel de principal desenvolvedor é dada a oportunidade também para que empresas realizem essas atividades. Elas são contratadas antes mesmo de já terem algo pronto, respondendo a demandas de pesquisa do Ministério da Defesa para idéias de armamentos que só existem no papel. Em um país em que o orçamento militar de 2004 se aproxima dos US$ 400 bilhões, essas idéias são mais do que mirabolantes.

A ênfase da última Conferência foi o medo das armas químicas e biológicas misturado à promessa de um novo soldado "biologicamente melhorado" e às nanotecnologias combinadas com as tecnologias de informação. A ambição é tornar o campo de batalha cada vez mais distante do soldado dos EUA

A invasão do Iraque foi um recuo na curva decrescente de mortes de soldados norte-americanos no campo de batalha. De acordo com Ray Kurzweil, a primeira Guerra no Golfo, no início da década de 1990, foi marcada por um número baixíssimo de mortes em combate, se comparado ao número total de mortes de militares dos EUA. Já a invasão do Iraque, retomou as marcas de outras guerras (como a da Coréia e do Vietnã), cujo número de mortes em batalhas é bastante próximo do número total de mortes de militares. A solução, segundo Kurzweil e outros palestrantes, seria tirar o soldado do campo de batalha, fazendo uso progressivo de nano-sensores (capazes de detectar, sons imagens e compostos químicos presentes no ar) e de tanques, aviões e mesmo "balas inteligentes" que possam ser controlados remotamente.

No futuro, as nano-guerras?
A promiscuidade crescente entre objetivos militares e os investimentos em nanotecnologia já começa a despertar a preocupação dos próprios cientistas. Durante o Fórum Social Europeu, em Londres, uma dos seminários, organizado pela Rede de Cientistas e Engenheiros pela Responsabilidade Global (INES, na sigla em inglês), foi intitulado O poder e a influência dos militares na ciência e na tecnologia. A tônica do debate foi justamente a nanotecnologia.

Uma dos participantes do evento que fez alertas bastante contundentes foi Alexis Vlandas, doutorando em ciência de materiais e nanotecnologia pela Universidade de Oxford, Inglaterra. Ele alertou para o crescente financiamento de origem militar para a nanotecnologia - correspondente a um terço do financiamento total da área - e questionou a pretensa neutralidade da pesquisa científico-militar. "Os cientistas aceitam o financiamento que vem dessas fontes, alegando que o que fazem é pesquisa básica de interesse público, sem aplicação tecnológica. Mas isso é falso, se há financiamento há interesse", afirmou. "O Ministério da Defesa está financiando pesquisas sobre a resistência a antibióticos. Por quê?", pergunta.

Lembrando o péssimo efeito causado na opinião pública sobre a ciência depois do envolvimento de físicos na construção da bomba atômica, Vlandas afirmou ainda que o financiamento militar deveria ser recusado pelos cientistas. "O modo como desenvolvemos a nanotecnologia hoje afetará a opinião pública sobre ela", alertou.

Uma das perspectivas apontadas como promissoras e vistas com entusiasmo no Congresso Científico do Exército, a construção do novo soldado, alterado física, química e biologicamente, foi vista com muita preocupação pelos pesquisadores reunidos no Fórum Social. A fusão das áreas deve permitir alterações efetivas no corpo humano, assemelhando-o e integrando-o às máquinas e computadores.

Ao que parece, no futuro, as guerras não serão como as de hoje. Afirmando-se a busca da segurança e luta contra o terrorismo, os armamentos devem se tornar ainda mais letais.

Atualizado em 16/12/04
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