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2005

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Imprensa auxilia participação da sociedade nos processos de C&T


Os meios de comunicação podem auxiliar a participação da sociedade nas discussões de ciência e tecnologia. Essa é uma das conclusões do Seminário Internacional Ciência, Tecnologia e Sociedade: Novos Modelos de Governança, que aconteceu entre 9 e 11 de dezembro, em Brasília. Reunindo pesquisadores de diversas áreas do Brasil e de outros países, o evento discutiu formas de promover a participação da sociedade em discussões científicas.

"A ciência é um assunto sério demais para ficar apenas nas mãos dos cientistas", ressaltou o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Vogt. A Fapesp foi uma das organizadoras do evento, juntamente com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A imprensa foi considerada uma importante aliada para efetivar a participação da sociedade em discussões do meio acadêmico. Para Vogt, a educação tem um papel primordial nesse processo, por isso a formação de jornalistas e de cientistas é importante para haver mais diálogo e intercâmbio entre as partes. Neste sentido, ele ressalta que iniciativas como os cursos voltados para o jornalismo científico, como a especialização oferecida pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp, devem ser incentivadas.

De acordo com o jornalista Marcelo Leite, colunista da seção semanal Ciência em Dia do jornal Folha de S.Paulo, a imprensa deve buscar ser mais - e não menos - crítica com relação à ciência. "É preciso ter crítica científica, assim como existe crítica de arte. Os cientistas ainda acreditam que os jornalistas não são capazes de fazer crítica da agenda ou da produção científica", afirmou. Leite criticou também a cobertura de ciência no Brasil que, para ele, ainda é muito "entusiasta".

Problemas no diálogo entre cientistas e jornalistas não são características apenas do Brasil. De acordo com o representante da Universidade de Liverpool (Inglaterra), Alan Irwin, os cientistas ingleses costumam criticar as matérias científicas veiculadas na mídia. "Não cabe aos cientistas concordar com a mídia. Existem discordâncias dentro da própria academia", ressaltou.


Modelo europeu
Os pesquisadores estrangeiros presentes no Seminário apresentaram lições retiradas das experiências européias que relacionaram ciência, tecnologia e governança e que podem ser transpostas, com devidos cuidados, para o cenário brasileiro. Irwin, por exemplo, ressaltou que na Inglaterra observou-se que um consenso da sociedade não deve ser um objetivo nas consultas públicas. Ele recomenda que se faça um aprendizado institucional, baseado em experiências anteriores, para que se estreite a relação entre sociedade e ciência no Brasil.

Já o pesquisador Pierre-Benoit Joly, do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA, em francês), ressaltou que na França verificou-se que o envolvimento do cidadão comum permite uma maior análise dos problemas estudados pela ciência. "O modelo do Estado como monopolizador da ciência apresenta fortes limitações, mas é preciso discutir quem deverá assumir a discussão entre a academia e a sociedade", enfatizou o pesquisador.

Em países como a Inglaterra e a França, predomina o modelo de governança baseado na consulta pública, enquanto que no Brasil ainda se mantém um modelo positivista, ultrapassado, que acredita que a sociedade não tem conhecimento sobre assuntos científicos para opinar em uma consulta pública. "Os problemas são sociais e, por isso, não podem ficar só com cientistas. No Brasil, as discussões ainda estão restritas às elites", afirmou a pesquisadora Julia Guivant, da UFSC. Para Guivant, o Brasil está, atualmente, perdendo a oportunidade de debater sobre temas científicos atuais, como a questão dos transgênicos.

A discussão de novas formas de governança que permitam a participação pública nos processos de ciência e de tecnologia tomou forma em abril, quando aconteceu o Seminário Tecnologias, Riscos e Incertezas - desafios para uma democratização da ciência, na UFSC. A idéia agora é montar uma publicação que reúna os textos apresentados no Seminário e, assim, dar continuidade à discussão no próximo ano.

Atualizado em 15/12/04
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