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Repensando o papel do Estado em um mundo pós-pandemia: Lições da Teoria Monetária Moderna

Por David Deccache

As políticas econômicas emergenciais evitaram um colapso sistêmico. Contudo, as consequências da pandemia são de caráter estrutural e permanente. Isso porque os danos econômicos atuais são significativos em termos de desemprego; falência de pequenas empresas; precarização no mundo do trabalho e, por consequência, ampliação das desigualdades interseccionais. Este contexto impõe a discussão de um novo papel para o Estado, que dê centralidade à reconstrução e ampliação da nossa infraestrutura física e social deteriorada por anos de políticas de austeridade fiscal; garanta o pleno emprego dos fatores de produção; combata as múltiplas desigualdades com políticas de transferência direta de renda e invista pesado em capacitação tecnológica para a superação dos desafios ambientais crescentes. Para alcançar tal objetivo, é necessária a superação das teorias econômicas convencionais que colocam o equilíbrio fiscal acima da plena utilização da capacidade produtiva da economia. Neste sentido, o presente artigo defende que a Teoria Monetária Moderna (MMT) é a abordagem mais adequada para a compreensão e viabilização deste novo papel que o Estado precisará cumprir no mundo pós-pandemia. Continue lendo Repensando o papel do Estado em um mundo pós-pandemia: Lições da Teoria Monetária Moderna

A atualidade de um editorial de 150 anos sobre divulgação científica

Por Peter Schulz

A divulgação científica hoje faz parte da agenda de discussões sobre ciência com uma intensidade que parece inédita no contexto de negacionismo científico e ataques à ciência que presenciamos. No entanto, divulgação científica (ou popularização da ciência ou ciência popular) tem historiografia rica. Rica, mas em crise recente com debates sobre mudanças para um paradigma em que ciência e sua divulgação/popularização não deveriam ser categorias separadas, por tão entrelaçadas, embora diferentemente em distintos lugares e tempo. Continue lendo A atualidade de um editorial de 150 anos sobre divulgação científica

A China na economia-mundo capitalista de 1840 aos dias atuais: da incorporação forçada à integração total, voluntária e irreversível

Por Pedro Vieira

Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no 14º Colóquio Brasileiro de Economia Política dos Sistemas-Mundo, Florianópolis, 10-11 de dezembro 2020. O objetivo deste ensaio é mostrar que desde 1840 até o presente, a China sempre esteve inserida na economia-mundo capitalista (E-MC), que é o sistema social histórico que surgiu na Europa no século XVI e que através da incorporação de áreas externas no final do século XIX já abarcava todo o globo terrestre. O sistema é capitalista porque a acumulação incessante de capital organiza e subordina a sociedade mundial. Essa é a regra mais importante do sistema e se impõe a indivíduos, instituições e países, que são recompensados ​​se a seguirem e punidos se a negarem. A China resistiu às tentativas anteriores e só foi incorporada na primeira metade do século XIX.  Desde então, as relações da China com a economia-mundo parecem ter passado por três fases: 1840-1949: integração forçada, parcial e fragmentada; 1949-1978: integração mínima; 1978-presente: integração voluntária, total e irreversível. Continue lendo A China na economia-mundo capitalista de 1840 aos dias atuais: da incorporação forçada à integração total, voluntária e irreversível

Uma breve trajetória da questão ambiental recente na China

Por Marcos Costa Lima e Tatiane Souza de Albuquerque

A questão ambiental tem sido incorporada na política de diferentes países, que buscam direcionar esforços com o intuito de amenizar a sua pegada de carbono, garantindo um processo de desenvolvimento mais sustentável. A fim de entender os problemas que o maior emissor de poluentes tem enfrentado, este artigo tem como objetivo identificar quais são os maiores dilemas ambientais na China e quais políticas ambientais foram adotadas recentemente. Como resultado dessa pesquisa, foi observado que após mudanças estratégicas por parte do governo chinês houve uma melhora recente na qualidade do ar, porém os problemas ambientais ainda são diversos e algumas soluções permanecem no âmbito do imaginário, necessitando de um maior alinhamento entre os poderes central e locais para pôr as políticas ambientais em prática de modo mais eficiente e assertivo. Além disso, solucionar o problema da corrupção é fundamental, visto que atrasa os resultados e afasta investimentos no setor. Diante da escolha entre reduzir a pegada de carbono e manter o crescimento do PIB, cabe acompanhar os desfechos da trajetória que a China irá percorrer a fim de entender como as metas de neutralidade de carbono até 2060 serão atingidas. Continue lendo Uma breve trajetória da questão ambiental recente na China

Oculto, camuflado, disfarçado: colonialismo alemão na China

Por Mechthild Leutner

O racismo contra os asiáticos vem se mostrando cada vez mais evidente na Alemanha desde o início da pandemia de coronavírus em 2020, incitado por discussões na mídia sobre a questão se a China deve ou não ser culpada pelo surto. Pessoas que são asiáticas sofrem ataques verbais, imagens na mídia estigmatizam os chineses que usam máscaras e humoristas ridicularizam o idioma chinês. Trata-se de uma continuação dos clichês e imagens negativas sobre a China que se originaram nos tempos coloniais e que já foram revividos durante a ditadura nazista e a fase anticomunista da Guerra Fria nas décadas de 1950 e 1960. Continue lendo Oculto, camuflado, disfarçado: colonialismo alemão na China

Guerra tecnológica entre China e EUA no contexto da indústria 4.0

Por Antônio Carlos Diegues e José Eduardo Roselino

É evidente a dependência chinesa indireta de tecnologias de empresas dos EUA. Mas, ainda que superar essas limitações no médio prazo não seja uma tarefa trivial, um observador atento não deve se esquecer do inquestionável sucesso conseguido nas últimas décadas pela política industrial e tecnológica chinesa. Continue lendo Guerra tecnológica entre China e EUA no contexto da indústria 4.0

Pandemia de neoliberalismo: a ortodoxia nunca desafiada

Por Rafael Evangelista

Passados mais de seis meses desde a decretação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) da pandemia do novo coronavírus, o novo normal brasileiro na verdade continua um ciclo iniciado entre 2015 e 2016, e que parece longe de acabar. Tratou-se de fato de uma ruptura radical com a ideia de que cabe às instituições democráticas e seus representantes organizar a vida social e o uso dos recursos materiais tendo em vista a sobrevivência e o bem-estar geral da população. Uso a palavra “cabe” aqui tanto no sentido do que é possível como entendendo que há uma responsabilidade, uma obrigação de ação. Muitos entenderam que a pandemia, embora trágica, seria uma oportunidade para rever certas omissões, para pactuar nacionalmente uma organização social que nos oferecesse, enquanto sociedade, uma maior capacidade de sobreviver a tragédias e imprevistos. Em lugar disso ganhamos um “e daí?”, repetido em diversas situações. Continue lendo Pandemia de neoliberalismo: a ortodoxia nunca desafiada

Desafios e oportunidades para o desenvolvimento de células solares fotovoltaicas emergentes

Por Paulo Ernesto Marchezi, Francineide Lopes de Araújo, Eduardo Giangrossi Machado, Agnaldo de Souza Gonçalves e Ana Flavia Nogueira

Ano após ano a população mundial cresce e com ela a demanda por energia. Seja pelo alto desenvolvimento tecnológico dos países ricos ou pela necessidade de industrialização dos países emergentes, este aumento torna-se preocupante. Mais recentemente, observamos também uma demanda crescente de energia para recarga de veículos elétricos, dispositivos eletrônicos (gadgets) conectados à internet e até mesmo sensores em aplicações de internet das coisas (IoT). A maioria das fontes energéticas empregadas atualmente para geração de eletricidade são procedentes da queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), que são fontes não renováveis de energia, altamente poluentes e as maiores responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa. Por esses motivos, a busca por fontes de energia mais limpas, renováveis e sustentáveis têm sido um dos principais desafios da ciência moderna. Dentre as fontes renováveis de energia disponíveis, a energia solar é considerada a mais abundante porque em apenas um ano a energia solar que chega à Terra é cerca de 35 vezes maior do que as reservas mundiais de combustíveis fósseis. Desse modo, é primordial o desenvolvimento de tecnologias que aproveitem a energia solar para gerar eletricidade de forma economicamente competitiva e com o maior alcance possível. Atualmente, a tecnologia empregada para converter a energia solar diretamente em energia elétrica é a tecnologia fotovoltaica. Continue lendo Desafios e oportunidades para o desenvolvimento de células solares fotovoltaicas emergentes

Sistemas de armazenamento de energia para mobilidade e sistemas estacionários no Brasil

Por Hudson Zanin e Leonardo Morais da Silva

Estamos vivendo agora um movimento acelerado de eletrificação dos transportes e modificação da composição da matriz energética global. Mesmo assim, faz sentido pensar em veículos elétricos no Brasil? E no mundo? Se sim, em quais cenários? Quais os motivos e os principais atores por detrás dessa transformação que está acontecendo? Continue lendo Sistemas de armazenamento de energia para mobilidade e sistemas estacionários no Brasil