Para chegar a essas conclusões foram analisados resultados obtidos nas grandes áreas urbanas e pela maioria dos modelos climáticos, juntamente com a evidência disponível de que existem mais raios no planeta durante a ocorrência do fenômeno El Niño (aquecimento das águas do oceano Pacífico Equatorial), do que durante o La Niña (resfriamento destas águas). “A temperatura é o fator preponderante para a ocorrência de tempestades e, consequentemente, de raios. Contudo, as variações de temperatura em uma dada região dependem também das mudanças nos sistemas de circulação globais da atmosfera e das variações das temperaturas na superfície dos oceanos”, comenta o autor.
O Brasil é hoje o campeão mundial de raios e deverá continuar sendo. De acordo com o Elat, as observações feitas por satélite já indicam um aumento de 18 % na incidência de descargas atmosféricas nos últimos dez anos e a tendência é de que ocorra um acréscimo ainda maior nas próximas décadas. “Os raios deverão aumentar em geral no país, mas em algumas regiões este aumento deverá ser mais significativo, como é o caso da região Amazônica. Contudo, é possível que em pequenas regiões, principalmente no sul do país, ocorram diminuições”, avalia. O pesquisador do Inpe acredita que essas previsões dependem do cenário climático que deverá ocorrer nas próximas décadas em função das ações que serão ou não tomadas para evitar o ritmo de aceleração das mudanças climáticas.
As mudanças no clima sempre existiram ao longo da história do planeta, repercutindo em variações da temperatura global e, assim, alterando a incidência de raios. A diferença é que as mudanças enfrentadas hoje, dizem os especialistas, estão ocorrendo em uma escala de tempo muito menor, isto é, em décadas ao invés de milhares de anos. Outro agravante é que o planeta nunca foi tão populoso e com tecnologias tão sensíveis, o que pode implicar em mais mortes e prejuízos causados pelo aumento da incidência de raios. No Brasil, as consequencias podem ser agravadas, já que a estimativa é que, anualmente, haja cerca de 50 milhões de descargas atmosféricas, que causam em média 100 mortes e em um prejuízo R$1 bilhão.
O livro de Osmar Pinto Junior é o primeiro a abordar a relação entre raios e aquecimento global, apontada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) como extremamente importante para a compreensão das mudanças climáticas. A publicação revela que, assim como no passado os raios tropicais foram a principal fonte do fogo, o que representou uma das grandes conquistas da humanidade, no futuro eles serão fundamentais para monitorar as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, particularmente o aumento de furacões e de tempestades severas.
A maior parte dos raios ocorre, atualmente, na região tropical do planeta, principalmente na porção central do continente africano, na região tropical da América do Sul e na Indonésia. Esse fato já era conhecido até mesmo há 200 anos, como pode ser evidenciado na carta escrita pelo Marquês da Borba para a sua família, em 1808, quando ele chegou ao Rio de Janeiro com Dom João VI. Ele escreveu que diariamente ocorriam trovões como ele jamais havia escutado. Apesar disso, a informação sobre raios nos trópicos é ainda escassa, mas há importantes esforços para reuni-la e analisá-la, como exemplifica a obra do pesquisador do Inpe.