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Dacher Keltner e Emiliana Simon-Thomas
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Entrevistas
Dacher Keltner e Emiliana Simon-Thomas
Dacher Keltner e Emiliana Simon-Thomas, pesquisadores da Universidade da Califórnia, acreditam que podemos ser mais felizes por meio de práticas que permitam emoções positivas.
Simone Caixeta de Andrade
10/09/2014

As pesquisas de Dacher Keltner focam nas funções sociais das emoções e como os relacionamentos do indivíduo são influenciados por emoções positivas, que interagem com o ambiente físico e o moldam. Keltner argumenta que “as emoções capacitam os indivíduos a responderem adaptativamente aos problemas e oportunidades que definem a vida social humana”. Keltner é professor do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia – Berkeley, e codiretor do Centro de Ciência do Bem Maior (do inglês Greater Good Science Center), afiliado à universidade. Também é autor do livro Nascido para ser bom: a ciência de uma vida significativa (do inglês, Born to be good: the science of a meaningful life, ainda sem edição em português)Emiliana Simon-Thomas é diretora científica do centro e seu trabalho foca na ciência que conecta saúde e felicidade à inserção social, cuidado e relações colaborativas. Juntos, eles concederam essa entrevista à revista ComCiência.


É possível definir a felicidade?

Dacher Keltner e Emiliana Simon-Thomas – Existem várias definições de felicidade, e estas mudam de acordo com o período histórico (os gregos, por exemplo, achavam que a felicidade estava relacionada à virtude) e com a cultura (o leste asiático põe mais ênfase na harmonia social e no dever). Nós definimos a felicidade, de uma forma geral, como “a vida que segue bem” (contentamento) e de acordo com o balanço de emoções positivas e negativas que você sente diariamente. Nós acreditamos que podemos impulsionar a felicidade por meio da criação de práticas que permitam emoções positivas, como gratidão, compaixão, admiração, humor e práticas que removam a “carga” ou o poder do estresse, como aquelas que abraçam as dificuldades da vida e que encontram representações criativas para a angústia, por exemplo.

Aparentemente, existe uma meta auto imposta para ser feliz. É um fracasso ser infeliz? Alternativamente, nós podemos vencer o fluxo de sinais moleculares e físicos que conduzem à infelicidade e canalizá-los em energia criativa, como vários pintores famosos - Paul Gauguin, Edvard Munch, Vincent van Gogh e tantos outros artistas - faziam?

D.K e E S. – Sim, se nós nascemos com profundas tendências genéticas para o sofrimento, essas técnicas de gratidão, admiração, expressão artística e narrativa sobre a felicidade podem transformar o sofrimento, raiva e desespero em contribuições para o mundo. Falamos sobre elas no MOOC (Massive Open Online Course).

É possível vincular a felicidade a uma única estrutura do cérebro?

D.K e E S. – A felicidade está relacionada a várias estruturas do cérebro (nervo vago e partes do lobo frontal, por exemplo), respostas imunológicas, cortisol reduzido e neurotransmissores dopamina e ocitocina.

“A linguagem das emoções” poderia nos ajudar a entender a felicidade em uma perspectiva evolutiva?

D.K e E S. – Nós evoluímos para sermos felizes? Em alguns aspectos, sim. Muitos processos que fazem as pessoas felizes – partilha, gentileza, altruísmo, empatia, divertimento, sentimento de admiração e encantamento – possuem claras raízes evolucionárias.

Em Admirável mundo novo (Aldous Huxley) a felicidade era oferecida por meio de pílulas da felicidade. Qual sua opinião sobre as atuais pílulas da felicidade, desenvolvidas pelas companhias farmacêuticas?

D.K e E S. – Somos muito céticos sobre soluções farmacêuticas (como inibidores seletivos da recaptação da serotonina, por exemplo) que façam as pessoas mais felizes e compartilhamos o ceticismo de Huxley. Os caminhos reais para a felicidade demandam trabalho e envolvem meditações para toda a vida, formas de treinar a mente e práticas sociais. Críticas recentes dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (feitos pela professora Marcia Angell da Universidade de Harvard, por exemplo) são persuasivas. Não endossaríamos as pílulas da felicidade, exceto para 4 a 5% da população que está lutando contra um desespero psicossocial profundo.

No prefácio de seu livro Born to be good, você propõe responder a uma pergunta fundamental “Como podemos ser felizes?” A resposta poderia ser resumida em alguns conceitos chave?

D. K. – Os conceitos chave são: conexão, ser gentil, empatia, perdão, gratidão, divertimento, admiração, consciência da história da sua vida e estar atento (sem julgar as tensões e dificuldades da vida).


Acesse aqui a entrevista original em inglês.