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Reportagem
Morte em números: as principais causas de óbito no Brasil e no mundo
Por Tatiana Venancio
10/11/2014

Estima-se que cerca de 150 mil pessoas, em todas as faixas etárias, morram por dia no mundo, por motivos diversos. Nos jornais diários há sempre um espaço para o tema. Mortes naturais, inevitáveis, negligenciadas, surpreendentes, revoltantes ou inacreditáveis. Mas quais são as principais causas? Análises estatísticas ajudam a elucidar a questão.

No Brasil, a expectativa de vida aumentou e os índices de mortalidade apresentaram queda nos últimos 30 anos, de 631 por 100 mil habitantes, em 1980, para 608 em 2012. Segundo a OMS e o Datasus, os problemas do aparelho circulatório são as principais causas de mortes no país e no mundo.

Os Indicadores e Dados Básicos (IDB) mostram que, em 1990, a taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório no Brasil era de 34% e em 2011 caiu para 30%. Essas enfermidades são divididas em doenças isquêmicas do coração, como o infarto do miocárdio, e doenças cerebrovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. “As duas são decorrentes do processo de aterosclerose, e caracterizadas como doenças crônico-degenerativas, que são as principais causas de mortalidade dos países mais desenvolvidos e também, atualmente, nos países em desenvolvimento”, explica Antônio de Padua Mansur, professor associado da Faculdade de Medicina da USP e médico assistente da Unidade Clínica de Coronariopatias Crônicas do InCor.

Segundo Mansur, diabetes, hipertensão, obesidade e dislipidemias são fatores de risco para as fatalidades cardiovasculares. Além disso, gênero, tabagismo e idade também acrescentam riscos – as doenças cardiovasculares acometem mais homens que mulheres devido a ações hormonais e hábitos de vida distintos.

Para o médico, a educação e a mudança dos hábitos são as principais formas de reduzir essas fatalidades. O acesso à informação por meio de campanhas feitas pelo governo, enfatizando a importância da alimentação balanceada e da prática de atividades físicas são essenciais. “No Brasil temos uma queda da mortalidade por doenças cardiovasculares, mas se quisermos intensificá-la, temos que educar e informar. Observamos essa queda pois hoje se vê mais informação, seja no jornal, na novela, ou no esporte. Nos Estados Unidos começou assim e desde a década de 1960 há uma diminuição da mortalidade por tais doenças. No nosso país começamos a observar uma redução a partir de 1984 e ela vem se mantendo”, compara.

Do que morrem os jovens?

Dados apresentados pelo Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde apontam que as principais causas de morte entre os jovens brasileiros são homicídios, acidentes de trânsito e suicídios.

Em média, em 2012, 154 pessoas morreram por dia vítimas de homicídio, 7% a mais do que no ano anterior. Comparando-se os períodos de 2002 e 2012, houve crescimento de 13%. No total, foram vítimas 30 mil jovens com idade entre 15 e 29 anos, o que representa 53% do total. E 91% eram homens.

Os dados mostram que, a partir dos 13 anos, o risco de ser vítima de homicídio aumenta gradativamente até os 20 anos, seguido de queda acentuada. As principais vítimas são os negros: em 2012, a ameaça era quase três vezes maior (41 mil negros e 15 mil brancos). Analisando os dados prévios, percebe-se que esse índice tem se tornado cada vez mais acentuado – o número de assassinatos de negros aumentou de 30 mil em 2002 para 41 mil em 2012, enquanto o de brancos diminuiu de 19 mil para 14 mil no mesmo período.

E os números são alarmantes. No ranking mundial, o Brasil ocupa a oitava posição de países que possuem maior taxa de jovens vítimas de homicídio. No total, são 54 por 100 mil habitantes. A primeira posição é de El Salvador com 119 para 100 mil habitantes.

O trânsito também é fator de preocupação. Em números absolutos, o Brasil é o quarto país no ranking de mortes por acidentes de trânsitos em todo o mundo, com 40 mil fatalidades anuais. Quando analisadas somente as mortes entre jovens por essa causa, os brasileiros ocupam a sétima posição.

“O Brasil não tem conseguido controlar, nem reverter, a tendência de mortalidade crescente no trânsito, ao contrário de dezenas de outros países nas Américas, e também de países com nível de desenvolvimento econômico e social semelhante. Apesar de importantes avanços da legislação, da estrutura de fiscalização, de campanhas públicas, de integração intersetorial do poder público, não temos ainda qualquer sinal de que sairemos dessa posição de país com alta mortalidade no trânsito”, afirma Eduardo Biavati, mestre em sociologia e especialista em educação e segurança no trânsito.

Fatores como altas velocidades, imprudência e uso de álcool estão na equação que torna o trânsito tão letal. A aprovação do Código de Trânsito Brasileiro, instituído pela Lei nº 9.503, teve impacto significativo nos primeiros anos, com acentuada queda nas ocorrências fatais. Entretanto, no período de 2002 a 2012, o número de mortes por acidentes de trânsito aumentou em 38,4%.

Com a implementação da Lei 12.760, em dezembro de 2012, que modificou o Código de Trânsito Brasileiro e fixou em 0,6 g de álcool por litro de sangue como o valor inicial a ser considerado crime, houve queda no número de mortes novamente. No período entre janeiro e novembro de 2013, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, foram registradas 87 mortes, comparadas a 104 em 2012. Estima-se ainda que com o aumento dos valores das multas para motoristas que provocam situações de risco no trânsito, a taxa de acidentes diminua consideravelmente.

A maioria dos acidentes de trânsito ocorre com pessoas entre 15 e 39 anos, e cerca de 85% das mortes são de homens entre 15 e 29 anos. “Ser jovem é um fator agravante, porque não há preparação para compartilhar o uso do espaço público das vias e a negociar, em cada situação real, as regras coletivas para esse uso. Apesar do enunciado no atual Código de que a educação para o trânsito deveria ser promovida em todos os níveis de ensino, muito pouco ou quase nada se fez sistematicamente nas últimas duas décadas no Brasil”, explica Biavati.

No entanto, medidas têm sido tomadas para que haja uma mudança no quadro dos acidentes. Segundo o pesquisador, haverá muitas novidades num futuro próximo, muitas delas relacionadas à introdução de tecnologias de comunicação entre as pessoas e entre os veículos. “Teremos veículos cada vez mais inteligentes, mais conectados, circulando nas vias, e já temos praticamente prontos os veículos autônomos, máquinas que não precisarão de motoristas no comando. Não é um futuro distante, muito pelo contrário. Mas é claro que isso trará outras questões importantes e exigirá, também, uma reeducação de todos nós”, completa o especialista.

Suicídios entre jovens e idosos

No período entre 1980 e 2012 houve um aumento de cerca de 164% dos casos de suicídio, o que tem despertado a atenção dos órgãos públicos mundiais. Diante disso, a OMS e a International Association for Suicide Prevention (IASP) instituíram 10 de setembro como o Dia Mundial para Prevenção do Suicídio. Dados apresentados no primeiro Relatório Global para Prevenção do Suicídio apontaram que mais de 800 mil pessoas tiram a vida, por ano, no mundo. Estima-se que essa seja uma das principais causas de mortalidade durante a adolescência, especialmente entre 15 e 19 anos.

Segundo a OMS, os índices mais elevados se encontram no Leste Europeu, como na Lituânia, com 51 casos por 100 mil habitantes e Rússia, com 43 por 100 mil habitantes. “O elevado número de pessoas que comete suicídio no mundo pode nos assustar porque no Brasil e na América Latina, como um todo, a violência que mais mata são os homicídios. Mas no mundo, a violência que mais mata é a auto infligida. Eles estão entre as 10 principais causas de óbito, tendo aumentado 60% nos últimos 50 anos”, explica Maria Cecília de Souza Minayo, doutora em saúde pública e pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz.

O suicídio está entre as cinco principais causas de mortalidade de jovens em todas as regiões do mundo, com exceção do continente africano, onde, embora o suicídio não esteja entre as cinco principais causas de mortalidade, atualmente, 9 em cada 100 mil habitantes dá fim à própria vida. Essa taxa só é menor se comparada às taxas do sudeste da Ásia.

O Brasil é o 63o país com maior taxa de suicídios no mundo, sendo o oitavo na América Latina. “Há uma questão com a qual devemos nos preocupar: dentro do país as taxas são distribuídas desigualmente. Elas são mais baixas no Norte e muito mais altas na região Sul, onde, em várias cidades, os índices se assemelham aos de países da Europa Central (onde são muito elevados). Outro ponto importante a ser observado é que as taxas de suicídio entre homens estão crescendo, e as de mulheres permanecem estáveis”, afirma Minayo.

Além da alta incidência entre jovens, o suicídio também é muito recorrente entre idosos, e Minayo aponta que, entre eles, as taxas médias para o país praticamente dobram. Os problemas que estão associados ao suicídio dessa faixa etária são múltiplos e, em geral, atuam de forma simultânea: doenças e transtornos mentais, uso de medicamentos, drogas, álcool e intoxicações, fatores médicos, fatores micro sociais (desemprego, perda de status) e fatores socioambientais (problemas interpessoais e facilidade de perpetrar o ato).

A OMS criou o Supre (Suicide Prevention), um livreto destinado aos profissionais da saúde como forma de aumentar a atenção destes para esse problema e um manual de prevenção para o combate contra o suicídio em todas as idades. “O suicídio pode ser prevenido. Mas em parte. Pois ele é sempre um ato voluntário cometido por uma pessoa numa situação de extremo sofrimento e desespero”, conclui a pesquisadora.