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Reportagem
O turismo brasileiro em números
Por Carolina Medeiros
10/06/2015
A Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, para os especialistas em turismo, são eventos responsáveis por colocar o país em uma posição de destaque como destino turístico. De acordo com a edição de 2015 do Índice de Competitividade em Turismo e Viagens, do Fórum Econômico Mundial, em 2014, o Brasil alcançou a 28ª posição entre os 141 países analisados, dando um salto de 23 posições em relação ao ano anterior. Dentre os aspectos avaliados pela pesquisa estão os recursos naturais (quesito que coloca o país no topo da lista), a infraestrutura aeroportuária (item no qual o Brasil subiu de 48ª para 41ª), o número de estádios de futebol (subiu de 63ª para 3ª) e a infraestrutura hoteleira (60ª para 51ª).

Em números absolutos, o turismo movimentou, entre atividades diretas e indiretas ou induzidas, R$ 492 bilhões no Brasil no ano passado, de acordo com dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), o que representa 9,6% do Produto Interno Bruto (PIB). O WTTC tem como membros os principais empresários do setor e faz anualmente o levantamento dos resultados econômicos do turismo em 184 países. O número de viagens domésticas, que no ano passado chegou a 206 milhões, foi 2% maior que em 2013 (201,7 milhões), um recorde histórico desde 2005, quando o país somou 138,7 milhões de viagens em território nacional. Parte desse crescimento foi decorrente da Copa e dos deslocamentos das delegações e dos torcedores de uma cidade sede a outra, mas também cresceu o número de brasileiros viajando dentro do país: em 2014, 62 milhões realizaram algum tipo de viagem, o que representa um terço da população nacional.

O WTTC destaca ainda o número de desembarques de estrangeiros em território nacional, que passou de 4,1 milhões em 2013 para 5,81 milhões no ano passado. De acordo com dados do Ministério do Turismo, os desembarques internacionais já vinham crescendo antes mesmo da Copa, passando de um total de 9,018 milhões em 2011 para 9,468 milhões em 2013, sendo uma boa parte de brasileiros retornando de suas viagens ao exterior. Em 2014, o Brasil teve uma receita cambial de US$ 6,9 bilhões de reais gastos por estrangeiros no país, o maior índice desde a criação do Ministério do Turismo em 2003. Mas os gastos de brasileiros no exterior foram bem maiores, de US$ 25,6 bilhões. Desde 2005, há mais gastos de brasileiros lá fora do que o de estrangeiros aqui no Brasil.

Na opinião da professora e coordenadora do curso de turismo da PUC-Campinas, Francis Pedroso, mais do que os grandes eventos, o principal fator que ajudou a impulsionar esses números é o aumento das promoções das agências de turismo. “Houve um crescimento significativo no número de rotas, linhas áreas e agências de turismo, o que faz com que aumente a concorrência e, por consequência, há um aumento no número de promoções nos pacotes de viagens. Isso porque o Brasil não é um país barato”, avalia.

Diante desses números tão positivos, Vinícius Lummertz, secretário de Políticas Nacionais do Ministério do Turismo, sugere que incentivar o turismo nacional talvez seja um dos melhores caminhos para sair da atual crise da economia brasileira. Para ele, é no setor de serviços que o Brasil possui destaque em relação a outros países. “Não é na indústria que a gente se destaca. Nesse campo, precisaremos de muitos anos para recuperar o tempo perdido. Temos vantagem nas belezas naturais, das praias e dos parques, e na cultura. O aproveitamento do potencial do turismo necessita de um aprimoramento radical”, defende. Para ele, muito tem sido feito, mas ainda há muito a se fazer, principalmente na chamada zona costeira, que envolve os portos, as marinas, as praias e os oceanos, onde ainda existe muito interesse político e pouco investimento.

Lummertz destaca, ainda, que os parques e centros históricos também são outro campo problemático dentro do turismo, porque poucos são os administrados pelo poder público. Segundo ele, enquanto os parques brasileiros recebem 6 milhões de visitantes ao ano, são 280 milhões os visitantes que vão aos parques norte-americanos. “Essa diferença entre o número de visitas a parques estrangeiros e a parque nacionais ocorre porque os daqui estão sob gestões que defendem apenas a preservação desses locais. O mesmo vale para os centros históricos nacionais. Em vários locais do mundo, os centros históricos se transformaram em verdadeiros negócios de mercado”, explica.

Apesar desses problemas, nota-se crescimento do setor de turismo em cidades como Rio de Janeiro, Florianópolis, São Paulo, Búzios, Curitiba, Porto Alegre e Campinas. De acordo com o Estudo da Demanda Turística Internacional, organizado pelo Ministério do Turismo, em 2013, ano-base 2012, essas cidades foram as mais visitadas, tanto por estrangeiros quanto por brasileiros, seja para o turismo de negócios ou para o de lazer.

Sobre os destinos preferidos, tanto por estrangeiros quanto por brasileiros, a professora da PUC explica que os principais aeroportos do país estão localizados nessas cidades, além delas serem as que possuem as melhores infraestruturas hoteleiras. Pedroso reconhece a importância dos grandes eventos para o turismo brasileiro, pois, segundo ela, até os anos 1990 não havia grandes investimentos no setor e, nem mesmo grandes redes hoteleiras no Brasil.

O Ministério do Turismo aponta que a ampliação das companhias áreas, que teve início nessa época, também foi fundamental para a evolução dos índices nas últimas décadas. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), nos últimos seis anos, cerca de 400 milhões de passageiros usaram o transporte aéreo para turismo. A Abear prevê ainda que, até 2020, cerca de 211 milhões de turistas brasileiros e estrangeiros viajem de avião pelo país.

O que reforça esses dados que vêm indicando que o Brasil tem um dos maiores fluxos aéreos do mundo é o fato de sermos um país com grande extensão territorial e com infraestrutura precária de estradas. Outra contribuição para o crescimento desse fluxo aéreo foram as privatizações de algumas administrações aeroportuárias que, segundo Lummertz, representaram uma ação positiva e, por ter dado tão certo, serão aplicadas em outros 285 aeroportos regionais nos próximos anos.

Pedroso destaca ainda que, após a década de 1990, o aumento das redes hoteleiras, associado ao aumento e expansão das companhias áreas, teve como consequência a elevação da procura pela formação em turismo. Mas a professora da PUC lembra que estamos falando de uma profissão não regulamentada, pouco conhecida e com baixos investimentos. “Para mim, o fato de não ser regulamentada não influencia no campo de trabalho. Os alunos têm acesso a boas oportunidades de estágio e emprego. O que é um problema é a falta de informação sobre o que fazem os profissionais formados na área, sendo que as políticas públicas incentivam muito pouco o conhecimento sobre essa atividade profissional”.

Para o Conselho Nacional de Políticas em Turismo, o grande entrave para um maior crescimento econômico do setor é a cultura política brasileira. “Somos um país com diversas estruturas de poder e que, diferentemente dos Estados Unidos, não foi criado sob um consenso, o que faz do Brasil uma nação com diversas questões jurídicas que atrapalham o crescimento do turismo”, explica.

Lummertz reforça que, assim como já entendemos que a agricultura brasileira é uma importante – senão a mais importante – fonte de renda para o país, uma vez que nos colocou numa posição de destaque no campo do agrobusiness, o mesmo deve ser feito com o turismo, reforçando a ideia de que essa pode ser a solução para a crise econômica que estamos enfrentando.