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Reportagem
Olimpíadas de Astronomia se fortalecem no Brasil
Por Fernanda Grael
10/10/2015

 

O Rio de Janeiro sediou a VII Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (Olaa) entre os dias 27 de setembro e 4 de outubro. A equipe brasileira bateu um recorde de medalhas de ouro, com quatro, além de uma de prata – ano passado foram três de ouro. De acordo com o coordenador nacional da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) e fundador da Olaa, João Batista Garcia Canalle, a equipe atual é realmente um destaque. “Foi a mais vitoriosa de todas as edições da Olaa, não só comparando com as equipes brasileiras passadas, mas com todas que já participaram”, diz.

Os brasileiros que participaram da Olaa foram os cinco melhores da OBA, selecionados entre 100 mil estudantes. A Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica é voltada para alunos do ensino médio e, como a astronomia não é uma disciplina escolar, gera oportunidade da abordagem do tema por meio da interação entre astrônomos, professores e alunos. Este ano foram 46 mil medalhas entre os 868 mil alunos participantes, o que, para Canalle, é um grande estímulo para que eles continuem estudando, não só astronomia, mas física, matemática, português e geografia, pois o conteúdo da prova é abrangente.

O astrônomo Wagner Marcolino, professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a OBA ajuda a divulgar a astronomia nas escolas, despertar interesse nos alunos e até a desmistificar o assunto, que muitas vezes é confundido com a astrologia. “O desempenho de alunos brasileiros nas olimpíadas é de dar orgulho. Uma escola que tenha aluno medalhista certamente verá a astronomia de maneira diferente”, complementa o professor.

Em 2014, a OBA teve 772,257 mil participantes, o maior número de alunos entre todas as olimpíadas científicas do país, que reuniram quase 2 milhões de pessoas. A segunda maior, em número de participantes, foi a de Matemática, com 564 mil inscritos.

Nas olimpíadas internacionais, como a IOAA (International Olympiad on Astronomy and Astrophysics) o desempenho do Brasil pode melhorar. Em 2014, o país obteve 2 medalhas de bronze, e em 2013 foram 2 de prata e 3 de bronze. Os alunos que participam da IOAA são selecionados pela OBA, e a vivência é uma oportunidade para comparar o nível da educação dada aos alunos brasileiros com o de outros países na mesma área do conhecimento.

A crise nas olimpíadas científicas

O cenário das olimpíadas científicas para o próximo ano, porém, não é muito promissor. Isso porque está previsto um corte significativo no recurso designado para as 13 olimpíadas de conhecimento projetadas no Brasil, segundo informa Douglas Falcão, responsável pelo Departamento de Popularização do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. No fim do ano será lançado um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para as organizações das olimpíadas, para o qual estão disponíveis R$ 2 milhões – uma queda considerada abrupta, pois esse ano os recursos foram de R$ 3,8 milhões.

O valor do edital anual voltado à organização das olimpíadas é dividido entre as 13 modalidades. Desde 2002 os recursos vinham aumentando, segundo João Canalle, e nunca antes houve redução no valor. Se os projetos das olimpíadas forem aprovados do mesmo modo que neste ano, os recursos para cada uma serão reduzidos drasticamente. “A OBA, por exemplo, tinha quase 800 mil. Se aprovarem o projeto, e se mantidas as proporções deste ano, teríamos no máximo 400 mil”, lamenta Canalle.

Diante desse cenário, os organizadores decidiram se manifestar e estão redigindo um documento para entregar para a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Ensino Superior (Capes), – que assim como o CNPq e o Ministério de Educação e Cultura (MEC), também financia as olimpíadas de conhecimento. A intenção é mostrar a evolução dos valores empenhados em cada um dos editais, o total de alunos impactados e os resultados positivos percebidos em competições internacionais.

A ciência da astronomia

A astronomia é uma ciência que desperta grande interesse no público, e as descobertas sempre geram grande repercussão e divulgação na mídia, sejam as belas imagens de galáxias e planetas ou a profundidade das questões abordadas, como “de onde viemos?” ou “qual a origem do universo?”. “Conhecendo a astronomia, uma pessoa se situa melhor no universo, ganhando uma perspectiva diferente das coisas, da vida. Compreender que estamos orbitando uma estrela, que viaja pelo espaço junto com bilhões de outras em nossa galáxia, que por sua vez é só mais uma entre muitas outras, realmente nos faz pensar diferente”, aponta Wagner Marcolino, da UFRJ.

A astronomia é também uma porta de entrada para as demais ciências, pois o interesse no tema leva as pessoas a estudarem outras áreas do âmbito científico e tecnológico. Apesar disso, é uma área restrita profissionalmente, pois requer muitos anos de estudo e existem poucas vagas nos centros de pesquisa no Brasil. O físico Gustavo Rojas, que atua como líder das equipes brasileiras que disputam a Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA), diz que, apesar de despertar interesse, a formação de um astrônomo profissional é bastante rigorosa. “Um astrônomo deve ter uma base sólida em matemática, física, computação e inglês. As oportunidades de emprego quase sempre exigem doutorado. Mesmo assim, o número de astrônomos profissionais em atuação no país tem aumentado consideravelmente nos últimos 15 anos”.

Outro fator importante das olimpíadas é que acabam sendo uma forma de divulgação dessa ciência para o público geral. “A divulgação científica na área de astronomia é essencial para que as pesquisas tenham continuidade. A maioria dos grandes projetos são custeados pelos contribuintes, e nada mais justo do que dar um retorno a eles da melhor maneira possível, explicando em linguagem simples e acessível porque esse tema fascina tanto os cientistas desde o início da civilização”, complementa Rojas.