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Por que a ciência está em todas as partes
Beatriz González Amandi e Ana Victória Pérez
Tradução: Rodrigo Cunha
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Artigo
Por que a ciência está em todas as partes
Por Beatriz González Amandi e Ana Victória Pérez
Tradução: Rodrigo Cunha
10/12/2010

Em junho de 1752, Benjamin Franklin já havia conseguido concluir que por trás dos raios havia algo mais que um castigo divino, mas ainda lhe faltava comprová-lo empiricamente. Estava convencido de que essas luzes que apareciam no céu quando havia tempestade continham uma carga elétrica e decidiu provar com um arriscado experimento que lhe rendeu, anos depois, o reconhecimento como o inventor do para-raios. Para isso, Franklin ligou uma pipa de seda a uma chave metálica e a fez voar em meio a uma tempestade, conseguindo ser atingido por um raio e demonstrando, assim, que ao forte lampejo de luz que se podia ver a olho nu, se seguia uma forte descarga elétrica. O barbante o qual sustentava a pipa também era de seda e ainda não estava úmido, razão pela qual não conduzia a eletricidade. Não fosse assim, Franklin teria morrido realizando o experimento, como aconteceu com outros que tentaram reproduzi-lo depois.

Esse experimento, simples e arriscado, serviu de inspiração para o logotipo e o lema da I Feira Iberoamericana da Ciência, da Tecnologia e da Inovação, Empírika 2010, que se realizou entre os dias 12 e 21 de novembro deste ano na cidade espanhola de Salamanca. Assim como aconteceu com a pipa de Franklin, a pipa da Empírika já começou sua jornada e espera seguir voando nos próximos anos para dar continuidade a uma iniciativa que nasce como um evento bienal e itinerante, que chegará a São Paulo em 2012, ao México em 2014 e a Bogotá em 2016, com o objetivo de realizar de novo uma parada em Salamanca em 2018, coincidindo com a celebração do oitavo centenário da fundação de sua universidade, uma instituição fortemente vinculada com a Iberoamérica.

O objetivo dessa iniciativa é tão somente oferecer uma visão próxima e lúdica da ciência e da tecnologia ao público em geral, mas também busca outros resultados que visam incentivar as próprias instituições participantes, como o fato de que, através da Feira, se consegue destacar o papel das universidades, dos centros de pesquisa e das empresas como agentes inovadores, fundamentais para a construção do saber social e a difusão de conhecimentos, assim como também se incentiva o contato entre as instituições científicas e universitárias, as empresas e o resto da sociedade e se favorece o encontro entre o espaço europeu de educação superior e o espaço iberoamericano do conhecimento, ressaltando a importância da ciência como ponte de ligação entre diferentes realidades geográficas e culturais.

Esses objetivos gerais são os que deram como resultado, nesta primeira edição, um grande sucesso de público, uma vez que se conseguiu superar os 33 mil visitantes em uma cidade de apenas 180 mil habitantes na qual não existe o costume de se realizar atividades lúdicas relacionadas com ciência e tecnologia, pois carece de espaços específicos para isso, fora a própria Universidade de Salamanca.

Atividades como os espaços “Pesquise” e “Inove” (onde se realizaram vários experimentos ao vivo), os ônibus científicos (com oficinas sobre energias e laser), o planetário móvel, os “Cafés com ciência”, a Casa Biotech ou “Ciência na economia”, entre outras ações, conseguiram despertar a curiosidade e mostrar ao grande público que, como diz seu lema, “a ciência está em todas as partes”.

Mas o balanço dos resultados ficaria incompleto se se restringisse apenas ao público participante em geral, já que seus objetivos eram mais amplos. Assim, pode-se falar de 38 instituições iberoamericanas procedentes de seis diferentes países, que atuaram como participantes ativas em um evento que foi inaugurado pela ministra de Ciência e Inovação do governo da Espanha, Cristina Garmendia, que destacou a importância desse tipo de ações voltadas para incrementar a cultura científica dos cidadãos e a melhorar as relações entre instituições do espaço iberoamericano. Nesse sentido, tais relações também se viram fortalecidas, como mostra o balanço de encontros profissionais, acordos e mesas de trabalho celebrados, que envolvem aspectos e disciplinas variados, como as mesas de trabalho sobre participação pública e política científica, o lançamento da Rede Latina Laser Lab, o Simpósio sobre Inovação em Divulgação da Ciência ou os cafés tecnológicos. Esses encontros facilitaram o estabelecimento de acordos entre os participantes com o objetivo de desenvolver diferentes projetos iberoamericanos no âmbito da pesquisa, da política científica da comunicação da ciência. Entre eles, destacam-se a ampliação da Agenda Cidadã 2030, por parte da Fundação Espanhola de Ciência e Tecnologia, para cinco países iberoamericanos, a adesão do Instituto de Saúde Pública do México, da Somedicyt e da da Rede Cadi à plataforma de informação científica Dicyt, ou o estabelecimento de iniciativas de intercâmbio de alunos e professores entre a brasileira Universidade Estadual de Campinas e a Universidade de Salamanca.

A Empírika 2010 já fechou suas portas e agora caminha para outras latitudes. Sua realização se deve ao entusiasmo que instituições, como os ministérios espanhóis de Ciência e Inovação (através da Fundação Espanhola para Ciência e Tecnologia) e Relações Exteriores (através da Agência Espanhola de Cooperação Internacional), assim como a Junta de Leão e Castela e a Universidade de Salamanca, mostraram em uma iniciativa organizada pela Fundação 3CIN, que agora, graças ao compromisso conjunto firmado com a Secretaria de Educação Superior de São Paulo, as Universidades de Campinas e São Paulo e o museu científico Catavento, dará continuidade à Empírika através da segunda edição, que viajará para terras brasileiras, ampliando o horizonte de uma iniciativa que voltará à Universidade de Salamanca em 2018, motivada pelo oitavo centenário dessa instituição acadêmica. Dessa forma, a segunda edição da Empírika já começa com dois novos desafios, o de envolver novas entidades procedentes dos demais países iberoamericanos e o de aumentar a participação online.

Propostas como as do Parque das Ciências de Granada, do Gabinete de Física, do Conselho Superior de Pesquisas Científicas espanhol, do Conacyt mexicano, da Fundação Espanhola para Ciência e Tecnologia, ou dos Museus de Ciência e Tecnologia de São Paulo e Bogotá devem agora dar lugar a outras instituições e entidades de pesquisa que mostrarão seus avanços e explicarão de maneira simples e com experimentos e oficinas interativos para onde avança a ciência e a tecnologia brasileira e como é sua relação com os demais países do espaço iberoamericano. Abre-se, assim, uma nova oportunidade de aproximar países com um passado comum e um futuro de oportunidades em que a proximidade cultural e linguística deve ter um papel decisivo para que a região iberoamericana ocupe o lugar que merece no espaço geoeconômico internacional.

Beatriz González Amandi, é graduada em ciências da informação e mestre em comunicação científica. É também co-diretora da Agência Dicyt e da Tribuna de la Ciencia. Ana Victoria Pérez Rodríguez é graduada em ciências da informação, mestre em comunicação científica e co-diretora da Agência Dicyt e da Tribuna de la Ciencia. É também diretora da Fundação 3CIN.