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Artigo
Cidades inovadoras
Por Rodrigo da Rocha Loures
10/02/2011

O conceito de “cidade inovadora”, desenvolvido e adotado pelo programa Cidades Inovadoras da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) é centrado nas pessoas. A essência das cidades são as pessoas. A diferença entre uma “cidade” e uma “cidade inovadora” está nas pessoas que habitam e constroem esses ambientes.

As nossas experiências em projetos de prospectiva e de desenvolvimento social e tecnológico nos asseguram que cidades inovadoras são “habitats” de pessoas inovadoras. São locais onde pessoas inovadoras querem ficar, onde sentem que podem e conseguem manifestar seu potencial humano e fazer a diferença. Onde encontram condições favoráveis para o desenvolvimento de seus projetos, negócios e sonhos. Assim, as cidades inovadoras são aquelas capazes de criar e manter ambientes que atraiam, retenham e desenvolvam pessoas empreendedoras e, consequentemente, empreendimentos inovadores e sustentáveis.

Como diria Michael Porter, “numa economia globalizada, a combinação das vantagens locais é fator ainda mais crucial”. Tal como Porter, também estamos convencidos de que o desenvolvimento local deve ser buscado dentro da própria comunidade num movimento endógeno. E o tripé que vai garantir o desenvolvimento sustentável das cidades é composto pela qualidade de vida das pessoas, do empreendedorismo e da inovação.

Neste contexto endógeno, a sinergia e cooperação entre pessoas, instituições e empresas são indispensáveis para gerar o capital social que dá sustentação aos projetos estruturantes das cidades inovadoras.

Alguns desses projetos estruturantes conhecidos são, por exemplo: banda larga e acesso gratuito à internet, educação digital para todos, incubadoras de empresas, parques tecnológicos, ensino de empreendedorismo nas escolas, estímulos a inventores, bibliotecas, fundos locais de capital de risco, acessibilidade nos transportes, novas metodologias de ensino-aprendizagem, indicadores sociais de primeiro mundo, inclusão econômica de todos os cidadãos e sustentabilidade ambiental.

No entanto, cada cidade vai definir coletivamente quais são suas prioridades e projetos estratégicos e o melhor modelo de governança para implementá-los. O fundamental é que a comunidade participe ativamente desse processo. Não há mais lugar para planejar o futuro da cidade sem o envolvimento das pessoas que vivem a cidade.

Curitiba 2030

A nossa primeira experiência de aplicação do conceito de cidade inovadora é o projeto Curitiba 2030, iniciado em 2010. Seu objetivo é indicar caminhos para criação de um ambiente urbano propício à inovação, ao desenvolvimento das potencialidades humanas, e ao surgimento de novos negócios, em uma dinâmica de sinergia socioambiental.

Para tanto, e dentro de uma abordagem participativa, o projeto se propõe a construir uma visão de futuro para Curitiba em coerência com as tendências internacionais de futuro; priorizar áreas de grande impacto no futuro da cidade; elaborar visões, objetivos e ações para as áreas priorizadas, de acordo com um pensamento estratégico de futuro e com as potencialidades que Curitiba oferece; identificar os eixos estruturantes e os vetores de transformação fundamentais para alcançar a visão de futuro; mobilizar especialistas e cidadãos e comprometê-los com o futuro de sua cidade; situar Curitiba dentro do seleto grupo de cidades que fizeram estudos prospectivos para balizar o seu desenvolvimento.

As etapas do Projeto Curitiba 2030 se sustentaram nos seguintes pilares: estudos preparatórios; mobilização de atores chaves; consulta pública; métodos interativos e participativos de sistematização; e construção de conteúdo.

Foram consolidados diagnósticos sobre a situação atual de Curitiba e realizadas pesquisas sobre cidades que já elaboraram estudos prospectivos. E também identificados e analisados tendências e fatores de mudança que moldarão o futuro das cidades nos próximos 15 a 20 anos. Essas informações compuseram a base de análise da situação de Curitiba em relação a outras cidades e às tendências de futuro, bem como do processo de transformação em uma cidade inovadora, que tem um projeto em comum de longo prazo.

Isto também serviu de base para a realização de encontros presenciais com pessoas de diferentes segmentos sociais que trataram de temas considerados prioritários para a cidade em 2030, a saber: Governança; Cidade em Rede; Cidade do Conhecimento; Transporte e Mobilidade; Meio Ambiente e Biodiversidade; Saúde e Bem Estar; e Coexistência em uma Cidade Global. Cada um desses temas conta com uma visão, objetivos associados à visão e ações específicas para alcançar os objetivos pactuados.

A visão da governança sustenta-se na capacitação dos servidores públicos e na participação dos cidadãos, utilizando tecnologias da informação e acompanhando tendências de flexibilização e descentralização da administração pública.

Conectividade e interação são palavras de ordem da cidade em rede. Curitiba visa ser referência internacional no uso de redes para sustentar o desenvolvimento dos cidadãos e das organizações.

Curitiba deseja ser reconhecida como uma cidade do conhecimento, onde os cidadãos tenham alto grau de formação e qualificação, contribuindo para a produção do conhecimento. O cidadão entenderá a educação como chave do processo de sucesso individual e coletivo, tomando para si a tarefa de dar um novo significado ao que seja viver com ética e responsabilidade – fundamentos do respeito, da solidariedade e da qualidade de vida.

Para alcançar essa visão é necessário mobilizar a sociedade para comprometer-se com o sistema educacional, envolvendo mais a família, empresas e redes sociais com a escola. A nova escola, dotada de tecnologias e metodologias adequadas, será multifuncional, proporcionando diversos eventos culturais, sociais etc, acompanhando as tendências sociais, econômicas e ambientais de desenvolvimento sustentável.

A cidade deverá criar mecanismos de retenção de “talentos”, começando pela valorização da carreira docente: com incentivos à formação continuada de qualidade e abordagem multidimensional – acesso a programas socioculturais, formação internacional e instituição de prêmios que incentivem os professores a compartilhar conhecimentos com a sociedade, em sintonia com as suas expectativas e com a realidade.

O professor passará de “detentor do conhecimento” a “mediador do processo de aprendizagem”, pois o cidadão-educador será também produtor de conhecimento e pesquisador das diversas áreas do saber. Desta forma, as políticas para a educação deverão contemplar não somente o perfil da educação convencional para um mundo globalizado, mas também a formação de pessoas com valores cívicos.

Com acesso universal à internet de banda larga, a construção do conhecimento não será somente na escola, mas nos domicílios, locais de trabalho e de lazer. Esta facilidade permitirá uma educação personalizada, com ferramentas como e-teaching, e-learning e educação just-in-time, que prioriza o uso de simuladores. Deverão ser criados Hubs transetoriais que desenvolvam diferentes tecnologias facilitadoras e, com isso, obtenham reconhecimento internacional e marca própria (robótica, mecatrônica, mecânica de precisão, dentre outros).

Será essencial articular a criação de observatórios que promovam estudos de tendências e de oportunidades para setores econômicos relevantes para a cidade. Um deles, sobre perfis profissionais do futuro, cujas tarefas serão identificar e difundir competências profissionais requeridas pelo mercado. Outro observatório, voltado à educação, buscará metodologias e tecnologias educacionais inovadoras e definirá programas de capacitação alinhados com tendências internacionais e com as necessidades da comunidade.

A visão de futuro de Curitiba, quanto ao transporte e à mobilidade é tornar-se referência em políticas públicas que permitam alcançar os parâmetros máximos de sustentabilidade, por meio de um transporte de qualidade em toda a área metropolitana, com integração multimodal e estruturação das cidades que constituem a Região Metropolitana de Curitiba. O transporte público tornar-se-á atrativo pela segurança, qualidade, respeito aos horários e maior agilidade de locomoção.

Curitiba pretende ser uma cidade sustentável que respeita a biodiversidade e integra as pessoas com o ambiente, tornando-se uma referência internacional. O desenvolvimento urbano sustentável demanda tarefas complexas, integrando aspectos ambientais, econômicos, sociais e espaciais. Consequentemente deve orientar o uso dos ecossistemas e seus recursos e da ocupação do solo, conforme potenciais e limite; garantir a expansão da economia e adequar-se às mudanças demográficas, garantindo qualidade de vida à população.

A cidade almeja ser uma referência internacional em qualidade de vida com foco na saúde, na acessibilidade e na segurança.

A visão de Curitiba é ser uma cidade capaz de contribuir para a alegria, o sucesso e a satisfação da população. A abertura à diversidade cultural, às tecnologias, aos processos e às ideologias será seu ponto de partida para a convivência harmoniosa. A solidariedade e a justiça serão fundamentais para a contínua mitigação dos impactos das diferenças econômicas e sociais entre a população. A integração da sociedade, nos diversos processos políticos, econômicos, educacionais e ao sistema global, será sua bandeira.

Outras cidades do Paraná, tal como Londrina, já se inicia na construção da sua estratégia de se transformar numa cidade inovadora.

CICI2010 e 2011

Outro desafio no contexto do nosso programa de cidades inovadoras é consolidar de forma coletiva esse novo conceito, bem como disseminar rapidamente essa nova abordagem no Brasil e no planeta.

Para isso organizamos, em março de 2010, a Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI2010) cujo objetivo foi congregar experiências de sucesso em planejamento urbano, sustentabilidade, mobilidade, gestão e políticas públicas, entre outras, que transformaram cidades em ambientes propícios ao desenvolvimento econômico, social e ambiental. O evento contou com a presença de 3.500 participantes, de 35 países. No total, 75 cidades estiveram oficialmente representadas na CICI2010. Ao longo de quatro dias, 105 conferencistas apresentaram suas propostas e experiências inovadoras para o desenvolvimento de conglomerados urbanos.

Os bons resultados da CICI2010 nos levaram a promover a CICI2011, que acontece entre 17 e 20 de maio, em Curitiba. O debate contará com palestrantes de renome internacional e será ampliado por dez eventos integrados, que criarão um verdadeiro mosaico de temáticas, complementando e expandindo ainda mais as reflexões- de assuntos como educação, tecnologia, justiça social, cidadãos ativos, progresso humano, urbanização, política e ação social.

Todos estão convidados a participar deste evento internacional que pode ser melhor conhecido no www.cici2011.org.br.

Rodrigo da Rocha Loures é presidente da Federação das Indústrias do Paraná.