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Resenhas
A arquitetura da felicidade
Beleza ou funcionalidade? Um passeio pela história e pela filosofia da arquitetura oferece algumas pistas.
Por Simone Pallone
08/10/2010

O livro de Alain de Botton, filósofo suíço que vive em Londres, apresenta vários aspectos relacionados à arquitetura, de características das construções da Roma antiga aos arranha-céus forrados de espelhos das grandes metrópoles. Em 271 páginas, o tema é dividido em seis capítulos, e traz um grande número de fotos que ajudam a compreender os exemplos dados pelo autor, além de reforçarem o interesse pela história da arquitetura.

A questão central de que trata Botton é a capacidade dos projetos de arquitetura de despertarem a sensação de felicidade nas pessoas. Seja pela beleza que impõem, pela memória que evocam ou pela satisfação de necessidades que representam.

O autor inicia o livro falando do significado primordial de uma casa, que é o de abrigar. Mas ele mesmo salienta que a casa proporciona “não apenas refúgio físico, mas também psicológico, é guardiã da identidade”. Ele trata do sentido de funcionalidade, da casa oferecer condições das pessoas desenvolverem suas obrigações, suas relações afetivas, guardar sua identidade, suas memórias. É no interior da casa que os seus moradores constroem a sua história, ou muitas delas.

O livro apresenta muitos exemplos de casas e prédios que chamaram a atenção em diferentes períodos. Colunas, fachadas, telhados de diferentes tipos, característicos de culturas específicas, mas que voltam em casas novas que pretendem evocar a imponência de palácios, por exemplo, ou a lembrança do país de origem, ou a exaltação à religião. O autor relata também algumas passagens sobre arquitetos importantes, como Le Corbusier, da França, Karl Friederick Schinkel, da Alemanha, John Wood (o Jovem), da Inglaterra, e Oscar Niemeyer, do Brasil, falando de suas importantes obras e o que representam.

Sobre Corbusier, por exemplo, mostra as arrojadas investidas do arquiteto que, influenciado pela ciência e pelo design das recentes aeronaves, revolucionou a arquitetura, com a proposta de prédios menos rebuscados nos detalhes. As casas do futuro, segundo ele, deveriam ser “ascéticas e limpas, e revolucionárias”. No caso de Niemeyer, o relato de Botton é sobre Brasília, que foi idealizada para ser “a capital mais original e precisa expressão da inteligência criativa do Brasil moderno”. Porém, tanto em relação aos projetos de Le Corbusier (Villa Savoy e casas Pessac) como ao de Brasília, o autor apresenta efeitos não esperados. Seja a falta de contenção de água da chuva na Villa Savoy, ou a transformação das caixas simples da vila operária de Pessac, pelos próprios moradores, na tentativa de criar identidade com elas, ou ainda, a grama seca, as favelas e os mendigos que modificaram o plano de Brasília representar um país sem caos e sem pobreza.

O autor usa também exemplos de objetos específicos, cujo design remete a lembranças e aproximações de coisas mais próximas de cada um, e que geralmente levam à imagem humana, às formas, aos diferentes sexos. Mas levam também à aproximação de memórias sobre fatos, ou despertam sensações. E são elas que vão determinar a aceitação ou rejeição pelos objetos em questão. Para ele, “dizer que uma obra de arquitetura ou design é bela é reconhecê-la como uma interpretação de valores fundamentais para o nosso desenvolvimento, uma transubstanciação de nossos ideais individuais num meio material”.

Botton segue discorrendo sobre os diferentes estilos, épocas, sobre arquitetos e suas obras, oferecendo modelos espalhados pelo mundo, pelas diversas culturas que o habitam, ressaltando a beleza dos prédios e das cidades, lembrando, ainda, da subjetividade do belo. Segundo ele, “nosso senso de beleza oscila continuamente entre diferentes polaridades estilísticas: o contido e o exuberante; o rústico e o urbano; o feminino e o masculino”.

Entre a beleza das obras, a praticidade, a funcionalidade, a representação de ideais, estão algumas das explicações de a arquitetura ser um caminho para se alcançar a felicidade.

A arquitetura da felicidade
Alain de Botton
Editora Rocco, 2006
271 páginas