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Reportagem
Violência contra jornalistas aumenta no Brasil
Por Tássia Biazon e Carolina Medeiros
10/04/2016
Perguntas incômodas, investigações a fundo, revelações perigosas, informações relevantes, denúncias, coberturas de protestos e disputas diversas. Atitudes que colocam o trabalho de jornalistas no mesmo patamar que o trabalho de algumas autoridades, como os investigadores de polícia.

Segundo o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa, produzido anualmente pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2015 houve um aumento no número de casos de violência sofrida no exercício da profissão. Os números subiram de 129, em 2014, para 137, em 2015.

O relatório aponta ainda que a região Sudeste continua a concentrar o maior número de ocorrências, e representa 41% do total, com 59 casos, seguida do Nordeste, com 29 casos. Já a região Centro-Oeste é apontada com o menor índice de violência, 8% ou 11 dos casos nacionais, ficando atrás da região Sul (13% ou 18 casos), e da região Norte (com 22 casos ou 16% do índice nacional).

A organização Repórteres Sem Fronteira (RSF) destaca que, em 2015, dos 180 países observados, o Brasil ficou na 99ª posição no ranking de liberdade de imprensa, na categoria “com problemas”. A lista coloca a Finlândia liderando os países avaliados, com “boa” situação; e a Eritreia, na África, em último lugar, com a situação “muito difícil”.

No mundo, em 2015, 110 jornalistas foram assassinados (67 enquanto trabalhavam e 43 em circunstâncias ainda não determinadas). No Brasil, o relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) sobre liberdade de imprensa, apontou 8 mortes e 64 agressões. Somados os casos de ameaças, intimidações, vandalismo e ataques, seriam 116 registros de violações à liberdade de expressão só no ano passado.

Os números são assustadores, e colocam o país em posições nada orgulhosas quando se fala em exercício da profissão. No caso das agressões, os policiais militares são apontados como os principais responsáveis. Segundo informações da Fenaj, 20% dos 137 casos de 2014 foram associados à ação da polícia. Já em 2013, a polícia militar ficou no topo da lista, devido aos protestos populares.

Com o aumento no número de manifestações, desde 2013, aumentou também a preocupação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). A entidade registrou que, somente em 2013, 88% dos casos de violência registrados após manifestações foram provocados por policiais, sendo 44% intencionais – uma tendência que a associação tem observado se repetir todos os anos. Para o presidente da Abraji, José Roberto de Toledo, esses números preocupam. “A gente faz esse acompanhamento não apenas para falar dos riscos à liberdade de expressão e à democracia, mas também para pressionar policiais e manifestantes a deixarem de tratar os jornalistas como alvo”, afirma Toledo, no site da entidade.


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Fonte: Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa (2015). Os números referem-se apenas aos jornalistas profissionais, não contabilizando demais categorias de imprensa, como radialistas, blogueiros e comunicadores em geral.

Riscos diversos no dia a dia

Apesar dos dados de agressões e violência associados à cobertura de política e polícia, para a repórter Fernanda Marion, da TV Bandeirantes Campinas, existem situações em outros campos de cobertura que geram mais riscos à vida. “Nunca tive problemas cobrindo pautas policiais nem as manifestações de junho de 2013, quando houve registro de depredação e uso de força policial para dispersar um grupo de manifestantes”, expõe.

Para ela, mais preocupante, por exemplo, é a cobertura de epidemia de dengue e doenças relacionadas ao mosquito Aedes aegypti. “Muitas vezes vamos a locais que podem ser criadouros do mosquito e existe a possibilidade de ser picada pelo inseto, mas comigo nunca aconteceu. Claro que tomo algumas precauções, como usar repelentes e roupas compridas quando vou para essas pautas para diminuir o risco de contaminação”, diz Marion.

Cada reportagem oferece um desafio ao jornalista. Experiências diferentes são relatadas por Olívia Freitas, repórter do Jornal da Band da TV Bandeirantes São Paulo. “Fui intimidada durante cobertura de protestos. Foi em 2013, durante as manifestações do Movimento Passe Livre, que culminaram com a primeira grande mobilização das massas nas ruas. Um dos participantes, reclamando da parcialidade da imprensa (segundo ele), se aproximou da equipe de maneira agressiva pedindo que deixássemos o local. Houve um princípio de tumulto. Deixamos aquele ponto e seguimos para outro local”, conta a jornalista.

Freitas lembra ainda que ela e sua equipe foram intimidadas durante a cobertura do caso de uma falsa médica que fazia procedimentos de cirurgia plástica no Rio de Janeiro. “Acompanhamos o caso de uma paciente que sofreu complicações. Quando fomos até a casa da falsa médica, que fica na periferia do Rio, para tentar uma entrevista, fomos recebidos por dois homens que foram se aproximando da equipe de maneira intimidatória. Deixamos o local às pressas e com bastante medo de sermos seguidos”, relata.

“À medida em que o jornalista se expõe para trazer ao público informações que desagradem a alguém, ele está à mercê de todo tipo de violência. Pode ser física, moral, verbal”, enfatiza. “Trazer ao público algo que precisa ser revelado, contrariando os mais diversos interesses, mas em benefício do desenvolvimento da sociedade, é o que procura o bom jornalista. E isso o coloca numa posição vulnerável”, reflete a repórter.

Grande repercussão

Os riscos que os profissionais enfrentam são diversos, principalmente quando investigam crime organizado, violações de direitos humanos e casos de corrupção. Há casos emblemáticos, como o do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, que morreu em 2002, enquanto realizava uma reportagem sobre abuso sexual de menores e tráfico de drogas, no Rio de Janeiro. Mais recentemente, Gledyson Carvalho, jornalista que fazia denúncias de casos de corrupção, morto a tiros enquanto apresentava seu programa de rádio; e o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, atingido durante a cobertura de uma manifestação em 2014.

“O maior perigo não era o assunto da reportagem em si, mas o local e as circunstâncias em que ele era realizado. Para registrar as imagens, ele teve que se aproximar. E, dessa forma, entrou na linha do perigo”, diz Olívia Freitas sobre a morte de Andrade. “Todos os dias, pessoas como eles estão nas ruas capturando imagens e buscando informações que muitos não querem ver reveladas”, alerta.

Apesar das estatísticas, Freitas diz ser otimista quanto à profissão. “Acredito na força das grandes reportagens. Hoje, quando as informações chegam de toda parte, faz diferença a credibilidade. E só se tem credibilidade quando se investiga, se apura corretamente, se aprofunda nos temas mais relevantes. Que isso nunca se perca”, conclui.