Commoditificação de dados, concentração econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de plataforma

Por Roberto Moraes

Depois de duas décadas de utopia digital [1] e de uma crença difusa na ideia do progresso advinda da tecnologia, a sua utilização como ciência aplicada do conhecimento se impõe sobre a vida social e sobre todos os outros setores da economia. Sem exagero hoje é possível afirmar que a tecnologia exerce uma imposição dominante sobre a sociedade no mundo contemporâneo. No intervalo destas duas décadas saltamos da utopia digital para outra ideia difusa e, aparentemente solidária, da economia do compartilhamento, logo absorvida pelo mercado que passou a divulgar outra ideia, a de que teríamos passado a viver uma fase de inovação disruptiva.

Entre saltos e capturas do mercado, o fenômeno da digitalização da vida social e o incremento do uso das tecnologias como parte da economia real está se ampliando de forma cada vez mais veloz. A internet móvel embarcada nos smarphones, tablets e notebooks já produziam mudanças que só paulatinamente foram sendo melhor percebidas.

Ouvia–se mais falar das redes do que propriamente compreendê–las. Redes que misturam o universo dos dados do mundo digital (coleta extrativista) com a esfera da vida social real, em meio às várias estruturas que se cruzam, desde a infra à superestrutura, no andar superior das altas finanças.

Neste percurso os dados se transformam em “bem”, “recurso econômico” e, portanto, em “propriedade”. Um novo tipo de propriedade, assim como terra e capital como frações que dependem do trabalho para produzir a riqueza que compõe a tríade marxiana [2]. Dados como a nova e mais valiosa commodity da contemporaneidade que parece refletir a tendência de commodificar tudo aquilo que ainda não é commodity.

Seguindo a trajetória da digitalização, o “e–commerce” deixou de ser apenas “compras na internet” para se transformar numa captura enorme de dados sobre os donos das demandas. O “delivery”, assim com o uso da língua estrangeira – que explica a classe social do lugar de quem utiliza –, rapidamente, se tornou uma etapa hiperprecarizada de circulação da mercadoria ou dos serviços.

Nessa toada, só mais recentemente, passamos a ter melhor noção sobre os efeitos dos usos dos nossos dados pela tecnopolítica que, na essência, nega a política para manipular a democracia e promover governos caóticos. O uso político dos dados via redes sociais tem levado à busca de engajamentos e mais seguidores e não a soluções para os problemas das pessoas mundo afora.

A pandemia da Covi-19 nos auxilia a enxergar como esse processo de plataformização, acelerou o tempo dessas transformações no mundo atual. O que antes estava previsto para ocorrer em um década, hoje estima-se que aconteça em torno de um ano. E o que antes era previsto para dois a três ou cinco anos, já está acontecendo. O historiador britânico Edward Thompson tratou do tempo e da noção de sua aceleração, ao descrever o controle externo exercido sobre o homem com vistas a organizar e protagonizar um novo modo de produção, quando este passou a perceber a vida de forma cada vez mais rápida, orientada, na ocasião, pelo sistema industrial e com efeitos também sobre o modo de vida no auge do fordismo [3]. Mais próximo dos dias atuais, o geógrafo David Harvey voltou ao tema da aceleração do tempo e da compressão do espaço e da relação dialógica entre tecnologia e sociedade [4]. Assim, esses dois pensadores podem nos ajudar a compreender aquilo que foi tratado neste texto, tanto sobre a dinâmica temporal do capitalismo de plataformas, quanto do surgimento de um espaço de dados fragmentado e intemporal do hipercapitalismo contemporâneo.

No tempo presente, a emergência sanitária e o isolamento social necessário para impedir uma maior mortalidade produzida pela infestação do novo coronavírus levaram a que em apenas um semestre as empresas gigantes de tecnologia – Big Techs [1] – quase dobrassem seus valores de mercado, além de colossais aumentos de receitas e lucros que as tornaram ainda maiores.

Os fatos mostram e reforçam a leitura de que a tecnologia digital se expandiu com uma configuração quase explosiva. Com o uso enormemente ampliado de novas tecnologias foi se instituindo uma delirante digitalização da vida social, exatamente no mesmo período em que se assiste o avanço simultâneo de três crises que nos alcançam: colossal e crescente desigualdade; hegemonia do setor financeiro sobre a produção real e a eclosão da pandemia da Covid-19, que se junta a outras questões sanitárias e ambientais em todo o planeta [5].

O discurso da democratização de acessos e de um debate mais amplo, numa espécie de “ágora digital” presente no desejo utópico, foi sendo varrido e engolido pelo mundo real. As notícias, as estatísticas e os indicadores vão demonstrando como a tecnologia (e as plataformas digitais) vão se impondo à sociedade, como em nenhum outro momento anterior do capitalismo, com força oligopólica e tendência monopolista, numa espécie de “capitalismo autofágico” [6].

Oligopolização das Big Techs: gigantismo das empresas de tecnologia
Os dados divulgados na série especial Top 100 do famoso jornal inglês Financial Times (FT) [7] sobre as corporações que mais ganharam com a pandemia da Covid-19, mostram esse processo avassalador que foi acelerado pelo tempo da pandemia. Uma janela de oportunidades que o capital se aproveita para impor transformações as quais, contraditoriamente, também surgem como desejos difusos da sociedade por se comunicar, consumir e sobreviver no capitalismo que passa a se apresentar com aparências autofágicas.

O gigantismo das corporações de tecnologia fica mais que evidente. Quase metade (49) da lista Top 100 é de empresas vinculadas diretamente à tecnologia (37), 9 de e-commerce, mais 3 de varejo. Um total de 23 são empresas do setor de saúde: 15 farmacêuticas e 8 de serviços de saúde, compreensível num quadro de pandemia. Juntas, somam 72% das corporações que ganharam e muito com os riscos da contaminação. O volume total ganho pelas Top 100 (FT), em apenas um semestre, chega a US$ 3,1 trilhões em valor de mercado (capital fictício do setor financeiro), o que mostra a simbiose com o andar das altas finanças, que segue o seu movimento sempre atrás de maiores rentabilidades.

Abaixo a imagem de uma tabela com identificação das dez empresas líderes do Top 100 durante a Pandemia (FT, jun. 2020), com identificação do setor, localização da sede, valor de mercado agregado durante período da pandemia (1º semestre até junho 2020) e uma síntese da área de atuação e justificativa para resultados.

Figura 1: Imagem da tabela Top 10/100 de empresas na Pandemia do FT em jun. 2020

As quatro primeiras companhias (Amazon, Microsoft, Apple e Tesla) juntas cresceram quase R$ 1 trilhão em valor de mercado. As dez corporações que mais ganharam num semestre cresceram mais do que a soma das outras 90 companhias da lista Top 100 do FT e assim aumentaram seus valores somados em US$ 1,5 trilhão, mais que todo um PIB do Brasil, ainda a oitava maior economia do mundo. Uma oligopolização extraordinária. No início de agosto, Wall Street informou que só a Apple tinha crescido mais de US$ 500 bilhões e alcançado o valor recorde de US$ 2 trilhões [8].

As Plataformas Digitais (PDs) levam as corporações da área de tecnologia (Big Techs), em especial americanas e chinesas, a um nível de concentração jamais visto nos negócios industriais tradicionais, mesmo que operando em mercados altamente concentrados, como no caso do setor de petróleo (seis grandes players), automotivo (quatorze players, excluindo a China) e da siderurgia [9].

As tecnologias emergentes reunidas nas Plataformas Digitais (PDs) têm aumentado, progressivamente, o seu peso na economia das nações, mas não no número de pessoas envolvidas. Em 2016, nos EUA, o setor de tecnologia possuía apenas 6,8% do valor agregado das empresas e 2,5% da força laboral. Mesmo no relativamente desindustrializado EUA, o setor de tecnologia emprega quatro vezes menos que a indústria. No Reino Unido, quase três vezes menos empregados que na produção industrial. Em suma as tecnologias emergentes têm uma enorme e veloz tendência de produzir de forma simultânea explosão, exclusão e aumento da competitividade no sistema [10].

Os oligopólios também estão concentrados em termos espaciais. Metade (49) da lista total das Top 100 (FT) estão localizadas nos EUA e outras 24 na China e outras 27 espalhadas pela Europa e Ásia. Dentro desse sistema hegemonicamente financeiro e tecnológico (dois setores com bens e fluxos intangíveis que se encontram), a América Latina se torna ainda mais periferia, vendo a sua dependência se ampliar em termos de infraestruturas tecnológicas, como consumidora de pacotes que controlam seu imenso e desejado mercado. O que mostra os impactos do gigantismo do setor de tecnologia e seus espaços no território, para além da centralização setorial que o uso expandido das Plataformas Digitais deixa evidente.

Capitalismo de plataformas, extrativismo e commoditificação de dados e Condições Gerais de Produção
Em 2017, o canadense Nick Srnicek, radicado em Londres, cunhou a expressão “capitalismo de plataformas” [10]. Outros autores preferem o termo “Economia de Plataforma “, como Martin Kenney e John Zysmam [9], e se referem aos movimento das plataformas digitais como uma nova forma organizacional e de realização de negócios. As PDs se utilizam de grandes quantidades de dados capturados, agregados e armazenados que ampliam a sua capacidade de operar intermediações nos dois lados do mercado (two–sides): da produção ao consumo, sendo parte da etapa de circulação. As PDs realizam através do sistema informacional, de forma inovadora e muito eficiente, a circulação que é a lógica do processo de plataformização e do que vem a ser chamado de capitalismo de plataformas.

Seria interessante fazer um retrospecto para mostrar a genealogia do capitalismo de plataformas, mas não neste texto. Assim, parece mais oportuno falar um pouco mais sobre a ferramenta das Plataformas Digitais (PDs). Elas se baseiam num modelo econômico voltado para a captura de dados pessoais e para a extração de valor a partir desses dados e por isso são as principais usuários da inteligência artificial (IA). As PDs atuam como infraestruturas intermediárias entre diferentes grupos usuários (consumidores), anunciantes, motoristas etc. [10]. As PDs representam uma nova forma de intermediação entre o andar das finanças e a produção social no território, ampliando os ganhos da etapa de circulação (da qual faz parte) dentro da tríade marxiana: produção, circulação, consumo.

Figura 2: A lógica da plataformização

As PDs fazem a intermediação usando o mecanismo de captura e também de envio, bidirecional, extraindo valor tanto na ida quanto na volta, na lógica do serrote que corta dos dois lados. Além da conectividade e intermediação, as PDs permitem o rastreamento da informação que junto da captura de dados permite a extração de renda também na etapa de circulação entre a produção e o consumo [11].

A vigilância é parte do capitalismo de plataformas que se situa num estágio acima. Por isso evito o termo de Zuboff “capitalismo de vigilância” [12]. O extrativismo dos dados se dá em todos os espaços, setores e tempos. A captura é tanto de trabalho produtivo quanto de trabalho não produtivo, como acontece no lazer, descanso, no tempo dedicado às redes sociais e ainda no consumo dos streamings, dois temas (cases) que serão aprofundados adiante.

Nesse sentido, não se pode compreender a lógica da plataformização sem observar a articulação entre o circuito do valor, a financeirização (fundos de investimentos e o circuito financeiro global), a inovação tecnológica, o uso ampliado das PDs e a “startupização” dos dias atuais, em que a tecnologia se torna também propriedade (marcas, patentes e copyright), como lembra o professor Ladislaw Dowbor [5]. A tecnologia junto do capital, com propriedade e frações de classe, ampliam a captura de renda do trabalho na base da pirâmide do capital.

As PDs atuam com eficiência extraordinária para capturar os excedentes econômicos regionais/nacionais em diferentes setores econômicos (vistos também como frações do capital [13], para levá-los, no seu movimento de valorização, em direção ao andar das altas finanças a partir da ampliação dos rendimentos (mercado de capitais e fundos) onde realizam maiores lucros e acumulação em processo que mistura a valorização (produção real) com a capitalização (capital fictício da financeirização) naquilo que denominei como capital helicoidal [13].

Figura 3: A lógica da Plataformização na extração de valor

O capitalismo de plataformas depende da colossal captura diária de dados, hoje na casa de quintilhões. Dados que se transformaram em mercadoria única (em grandes volumes, sendo portanto, uma commodity). Dados capturados, armazenados e movimentados demandam uma infraestruturas (plataformas) e outras condições que viabilizam o mundo digital e sua importância no capitalismo contemporâneo.

Para observar essas condições, fundamentais para a produção e reprodução capitalista que estão presentes no processo de plataformização, vale chamar a atenção para o conceito de condições gerais de produção. “Elas constituem requisitos ou premissas necessárias à reprodução do capital e são simultaneamente pressupostos da dinâmica capitalista ou do movimento do capital — a rigor, do valor em movimento — e, também, resultados desse movimento” [14]. Assim, pode-se afirmar que as PDs atuam também como capital fixo socializado e de consumo coletivo numa condição além de infraestrutura. A lógica da plataformização atua exatamente na redução da desvalorização ao aproximar as distâncias e encurtar o tempo no processo de intermediação entre a demanda e a produção, fazendo ainda junção dos fluxos digitais com os materiais em nova etapa do modo de produção capitalista.  As PDs não acrescentam valor em movimento mas evitam a desvalorização na etapa de circulação da qual faz parte, quando efetiva a apropriação pela função que realiza [14]. 

A plataformização representa as condições para articulação e para o controle sobre as várias frações do capital e sobre a vida social no território. A PDs realizam com maior eficiência a intermediação que na prática representa uma enorme captura de renda, sem produzir nenhuma riqueza nova, mas se apropriando, em boa parte, daquilo que é produzido socialmente e utilizado também no território. Nesse sentido, não há que se falar em apartação entre mundo digital e real porque os dados, as redes e os sistemas se imbricam entre fluxos imateriais e materiais. Entre bases infraestruturais das redes, nuvens e plataformas que são territórios informacionais e servem ao processo de intermediação das PDs.

Plataformas-raiz são as bases das Big Techs
As Big-Techs expostas acima são na prática o que passei a chamar de plataformas-raiz. Para ir adiante é adequado voltar à lógica do processo de intermediação nomeado como processo de plataformização. Essa sequência de nomeações visa tentar destrinchar o fenômeno, seus processos e instrumentos. O processo de plataformização trata do uso das infraestruturas que favorecem a lógica da economia do pedágio e que torna real a hiperconcentração das Big Techs (grandes e concentradas corporações de tecnologias). As demais empresas (plataformas e/ou aplicativos) ficam dependentes de alugar o acesso para uso dessa infraestrutura digital-mãe. Assim, essas plataformas básicas adquirem a condição de ganhar sobre tudo aquilo que transita entre a produção e o consumo, a demanda, “natural” ou induzida.

A “plataforma-raiz” podem ser vistas como uma espécie de espinha dorsal (back-bone) do processo de plataformização. Elas sustentam a lógica de extração de valor das extremidades da tríade: produção – circulação – consumo. A extração de valor se dá basicamente sobre a produção e sobre o consumo, sendo a plataforma de intermediação parte da circulação (intermediação) que une os fluxos digitais (informacionais) e, em boa parte, também os fluxos materiais, decorrentes dos resultados dessa interação digital que viabiliza as vendas de produtos e/ou serviços.

As empresas-plataformas fazem a intermediação dos fluxos digitais relativos à propaganda, venda, pagamento e ainda os fluxos materiais, a logística do transporte, armazenamento, distribuição e entrega do produto. A extração de valor se dá sobre a produção e sobre a distribuição para o consumo. Os fluxos digitais e/ou materiais dependem de infraestruturas.  As infraestruturas de tecnologias são digitais e de fluxos imateriais, mas também físicas com cabos, centrais, energia para nuvem e equipamentos etc. [15].

As plataformas-raiz concentram essas propriedades de intermediação digital e física que vão permitir uma enorme concentração de ganhos com a captura de renda de tudo que passa através de suas tecnologias de redes, software, nuvens e também aplicativos (lojas Apple Store, Play Store da Google e Huawei Store) que são partes de espinha-dorsal (grande avenida), onde uma fração expressiva da valorização é retida a título de uma espécie de pedágio. Além dos ganhos colossais dessas plataformas-raiz, que se tornaram gigantes econômicos, geram relativamente pouco empregos e concentram um enorme poder em suas mãos, o que permite estimar que o avanço acelerado da Inteligência Artificial (IA) tenderá a reforçar, ainda mais, o poder das PDs em nível global [10].

Figura 4: Plataformas-raiz

As plataformas-raiz explicam o gigantismo crescente das corporações de tecnologia, a concentração e também o seu controle sobre o processo de plataformização. As plataformas-raiz também ajudam a explicar uma nova fase do regime de acumulação que elas propiciam. Elas articulam as demandas (que ficam mais conhecidas pela captura dos dados pessoais) com a propaganda direcionada. A produção e venda para o público identificado pelo conhecimento gerados pelos fluxos de dados, ao pagamento e recebimento pela venda com articulação às redes financeiras (bancárias e não bancárias ou shadow banking) e ainda à logística de entrega dos produtos.

As plataformas-raiz ilustram também o porte das Big Techs e demonstram o seu papel na realização da concentração, através do uso dessa extraordinária organização da economia do pedágio tecnológico que viabilizam. Em especial deve-se destacar as cinco Big Techs expostas na imagem acima, como plataformas-raiz, nesse processo de vampirização da extração de renda gerada na produção e na comercialização de produtos e serviços. São elas: Apple, Google, Facebook, Microsoft e Amazon. Atuam de forma complementar (e concorrencial em alguns casos) na lógica da extração de valor com a seguinte tipologia de plataformas: a) Publicidade e propaganda; b) Nuvem e organização de dados; c) Aprendizado (auto) com os algoritmos e a Inteligência Artificial; d) Transformação das demandas identificadas pelas análises de dados em aplicativos (produtos) com a Appficação [10].

Figura 5: Tipologia das plataformas digitais

A compreensão da existência das plataformas-raiz é fundamental para se compreender, de forma mais totalizante, o fenômeno que está em curso que desloca o capitalismo e a forma de organizar o Modo de Produção Capitalista (MPC) e o regime de acumulação contemporâneo a partir da ampliação da digitalização da vida social e da utilização da tecnologia como um dos principais fatores de produção na atualidade.

Trilogia de conceitos e as seis dimensões do Plataformismo
Nesse sentido é ainda oportuno resumir essa trilogia de conceitos (num glossário) para que se tenha uma maior clareza de análises sobre o que envolve a ampliação da importância da tecnologia digital no mundo contemporâneo: a) Plataformas Digitais (PDs) – é o instrumento, a ferramenta deste processo; b) Plataformização – é o processo de intermediação executado pelas Plataformas Digitais; c) Plataformismo ou Capitalismo de Plataformas – é o regime de acumulação capitalista que avança na direção monopólica.

Figura 6: Glossário

O fenômeno pode ser visto como uma nova etapa do regime de acumulação que se utiliza ainda da rigidez fordista, se apropria da flexibilidade toyotista, mas agora ganha impulso com o Plataformismo, sem deixar de se apropriar dos MPCs anteriores. Neste percurso de análise não é um exagero afirmar que o conhecimento, a internet e a tecnologia estão se tornando os principais fatores de produção, produzindo transformações tanto no modo de produção quanto no regime de acumulação capitalista em que se identifica uma hiperconcentração, com a formação de ainda maiores oligopólios que reforçam o movimento de tendência monopolista.

Figura 7: Plataformismo – Transformações no Modo de Produção Capitalista

O Plataformismo também faz a intermediação e o uso simultâneo de uma espécie de fordismo digital (Amazon e Alibaba com maior controle e supervisão sobre a produção e geolocalização da distribuição), da flexibilidade informacional da acumulação flexível que se viabiliza a partir do toyotismo e se encontra ampliado e radicalizado no Plataformismo que reúne tudo isso sobre a lógica do sistema informacional [16].

Vale registrar que esse processo foi estimado (visualizado) pelo sociólogo espanhol Manuel Castells sob uma análise prospectiva – e um tanto utópica – no livro Sociedade em redes [17], e logo a seguir por outros pensadores, há mais de duas décadas (1996). A ascensão da sociedade em redes foi o primeiro livro da trilogia A era da informação: Economia, sociedade e cultura. Os dois outros livros foram O poder da identidade (1997) e Fim do milênio (1998). A trilogia merece ser revisitada especialmente agora, em que o fenômeno do sistema informacional deixa de ser pensado como cenário e hipóteses mas como realidade. Assim, é possível comparar, compreender e melhor analisar através dos fatos que estão se desenrolando e dos agentes em movimento o fenômeno que se tenta decifrar. Esse exercício poderá nos trazer mais clareza sobre os processos sobre como chegamos ao presente.

Ainda de forma breve e de passagem, é possível dizer que o plataformismo é um fenômeno transescalar, ou seja, um fenômeno que se desenrola simultaneamente em espaços globais e locais/nacionais (por isso transescalar e não multiescalar) e também multidimensional, embora, também de forma embaralhada e cruzada. Essas investigações transescalares e multidimensionais podem ajudar na compreensão sobre os impactos que o plataformismo produz com alterações significativas na organização espacial dos negócios, da concorrência e do mercado de trabalho.

É nesse contexto que a identificação das dimensões do plataformismo se tornam importantes para que as análises possam ser mais amplas e profundas ao mesmo tempo. A explicitação dessas dimensões permite um maior aprofundamento de cada uma delas, mesmo sabendo que se entrecruzam quase todo o tempo, com variações de peso hierárquico conforme o período temporal e o contexto sociopolítico. Por exemplo, no momento da pandemia, a face mais visível do capitalismo de plataformas tem se dado na dimensão do trabalho e sua precarização, embora essa dimensão seja diretamente vinculada e decorrente da dimensão econômica e de outras. Nas referências eu listo alguns textos que abordam essa dimensão da precarização do trabalho que é face mais visível da espoliação do capitalismo de plataformas envolvendo os entregadores de aplicativos que, na luta pela sobrevivência, imploram para serem explorados pela Appficação.

Nesse esforço de interpretação ainda inicial, é possível identificar seis dimensões que são mais evidentes para serem observadas e analisadas: a) Econômica; Desenvolvimento, I.T., Startupização e fetiche pela tecnologia; c) Trabalho e sua precarização; d) Cultural, Societal e social-comunitária; e) Espacial, Geoeconômica e Geopolítica; f) Política. Abaixo uma imagem que inclui as características principais observadas em cada uma destas seis dimensões.

Figura 8: O fenômeno do Plataformismo visto em seis dimensões

É certo que há outras dimensões de análise para esse fenômeno do capitalismo de plataformas, porém buscamos inicialmente para este texto uma síntese que possa contribuir com outras ricas investigações e intepretações que vêm sendo feitas por vários pesquisadores e redes de estudos e investigações no Brasil e em várias partes do mundo. Há várias pesquisas sendo feitas sobre o fenômeno com análises mais específicas por dimensão ou mais amplas e totalizantes mesmo que de forma sintética, como se busca neste texto.

Além da intepretação das diferentes dimensões de análise, em suas múltiplas e transversais escalas, também é oportuno observar o fenômeno em dois campos de uso das plataformas digitais: as plataformas sociais que ajudaram a tornar o mundo digital atrativo para quem ainda estava fora desse universo. As redes sociais, como são mais comumente chamadas, foram e são fundamentais para o desenvolvimento dessa lógica de commoditificação dos dados pessoais e de grupos que são capturados pelas plataformas, trabalhados pelos algoritmos, armazenados nos big datas e administrados por uma lógica e uma inteligência artificial ou das máquinas. Assim, foram separados dois casos das redes socais e dos streamings para maior aprofundamento sobre sua potência e extensão no processo de plataformização.

Os casos das redes digitais sociais e dos streamings como usina extrativa de dados e base do capitalismo de plataformas
Após tratar de uma forma geral sobre o processo de plataformização é oportuno trazer à tona dois casos que ajudam na análise das transformações em curso no capitalismo contemporâneo. As plataformas digitais das redes sociais e streamings se situam na dimensão da cultura e do comportamento da sociedade informacional contemporânea logada online.

Essa dimensão do capitalismo de plataforma também se interliga e se cruza com as demais, na medida em que a commodificação e a centralização dos quintilhões de dados, capturados diariamente, permitem potentes transformações na geoeconomia (quase todos os setores da economia em diferentes regiões do mundo), da política (tecnopolítica) e da geopolítica enquanto relações e disputa de poder global.

Não cabe (e não há espaço neste texto) para aprofundar o que são, como se organizaram e como se expandem as plataformas digitais das redes sociais e dos streamings. Assim, a seguir será apresentada apenas uma breve síntese sobre esses tipos de PDs e os seus indicadores de utilização que reafirmam a potência das redes sociais e streamings de filmes e vídeos na vida digitalizada contemporânea.

As estatísticas sobre o uso das redes sociais em nível mundial trazem dados com variações que são frutos tanto da qualidade das pesquisas e das amostras quanto da velocidade com que os fatos e as transformações vão se sucedendo em ritmos cada vez mais velozes. No curso de um ano, uma nova rede social surge, outra é fundida e incorporada e outras saem de um país para alcançar milhões de acessos em outra parte do mundo. Porém, a liderança e o número de usuários por país, naturalmente, tende a ser maior nas nações mais populosas e também aquelas com um bom nível de desenvolvimento em termos de rede (internet) e informática.

Segundo o relatório Global Digital Statshot 2019 [18], confeccionado pelas empresas de dados, Hootsuite e We Are Social, em 2019, havia no mundo um total de 3,494 bilhões de usuários das redes sociais dentro de um universo de 4,388 bilhões de pessoas conectadas na internet e 5,112 bilhões de usuários únicos de telefones celulares. Em 2017, apenas dois anos antes, o número de usuários das redes sociais era de 3 bilhões de pessoas, ou cerca de 20% menor. Em 2019, já com 3,5 bilhões de usuários, a penetração das mídias (plataformas) sociais equivalia a 42%, ou próximo da metade da população mundial.

As estatísticas sobre o número de usuários das redes sociais por país também varia bastante, mas não a ordem delas. O penetração das mídias sociais nos EUA, China, Europa e até Brasil fica em torno de 65% a 70% da população de cada um desses países. Na África e em outras regiões da Ásia os percentuais são bem menores, fatos que confirmam a desigualdade de acessos à internet.

A liderança mundial de acessos às redes sociais está com a China, depois Índia, EUA e Brasil. China com 673,5 milhões, Índia com 326,1 milhões, EUA com 230 milhões e Brasil disputando quarta posição com a Indonésia em cerca de 140 milhões de indivíduos ativos nas redes sociais. No Brasil, dentro de universo de 150,4 milhões de usuários de internet. Em resumo, cerca de 2/3 da população brasileira é ativa em redes sociais. O uso mundial das mídias sociais é mais masculino (54% x 46%), embora a população seja de maioria feminina. Em termos de faixa etária, a maior parte dos usuários tem entre 25 e 34 anos, mas é seguida de perto pela população com idade entre 18 a 24 anos [18].

As fronteiras do que são as redes socais – ou outros instrumentos de comunicação social – pela internet são cada vez mais fluidas. Algumas redes são do mesmo grupo (holding) e há tendência maior de que outras venham a ser unificadas em futuro próximo. Embora tenham tido início com o Facebook em 2004, a diversificação é hoje muito grande, com variações de utilização entre alguns países centrais. Com o tempo, as redes sociais foram se misturando a outros canais como os de vídeo (Youtube, TikTok etc.), os de comunicação breve (Twitter), e os de uso inicial e prioritário para imagens, como o Instagram, entre outros. Há ainda os aplicativos de troca de mensagens que juntam troca de textos, áudios e vídeos. Essas plataformas das redes socais mantêm especificidades, mas no geral o que dá certo tende a ser em seguida copiado pelas demais, com breves adaptações.

Além do uso das redes socais com o Facebook e congêneres, há ainda os aplicativos de troca de mensagens diretas ou em grupos através do WhatsApp (o mais utilizado), Messenger e o chinês Wechat. Como têm funções distintas, além de algumas similares, é muito comum o uso simultâneo e compartilhado desses vários aplicativos. Em vários países é muito comum que as operadoras de telefonia ofereçam o acesso sem custo (Zero Ratting) a esses aplicativos, em especial ao Facebook, WhatsApp e Instagram, que também por isso se tornaram mais populares.

Em 2020 o Facebook lidera em número de usuários no mundo com 2,6 bilhões de usuários, seguido do Youtube (da Google) com 2 bilhões e o Instagram em terceiro com 1,1 bilhão. O chinês TikTok vem na quarta posição com 800 milhões e em quinto lugar outro aplicativo chinês, o Weibo, com 550 milhões [18]. O Facebook foi criado em 2004 em Cambridge, Massachusetts, EUA, sendo hoje uma empresa controlada pelo grupo de mesmo nome, a Facebook Inc. A corporação-plataforma Facebook levou oito anos para completar em outubro de 2012 o seu primeiro bilhão de usuários. Em 2020, após mais oito anos, o relatório Global Digital Statshot 2020 indica o alcance de 2,6 bilhões de usuários em nível global, equivalente a 58% dos usuários de internet ou 38% da população mundial.

Para surpresa de alguns, o maior número de usuários do Facebook não está nos EUA, sua sede, mas na populosa Índia, onde possui algo em torno de 300 milhões de adeptos. Os EUA vêm em seguida, com 210 milhões de usuários. Na terceira posição está o Brasil, com 130 milhões de usuários. A China utiliza suas redes sociais. Entre elas a WeChat (o WhatsApp da companhia chinesa Tencent que também realiza pagamentos) com 1 bilhão de usuários [19]. O WeChat é menor que o WhatsApp e o FB mas tem esse número colossal de usuários praticamente só na China e possui em 2020 um maior valor de mercado do que a similar americana.

Outra companhia chinesa é a ByteDance, que possui o popular aplicativo de vídeos TikTok o qual, como foi dito acima, detém um universo de 800 milhões de usuários. No final do primeiro semestre de 2020 já tinha alcançado enorme penetração nos EUA, onde tinha cerca de 100 milhões de usuários. Até por conta dessa realidade, no início de agosto de 2020 o aplicativo de vídeos TikTok foi objeto de uma etapa da disputa EUA x China em que Trump pretendia proibir seu uso no território americano e também questionava a compra da sua atuação nos EUA pela Microsoft e outros grupos americanos, incluindo o Wallmart, de varejo.

Os EUA alegavam suspeita de espionagem, a mesma arguição que já havia feito contra a Huawei, que é fabricante de equipamentos de infraestrutura de redes de tecnologia 5G. A Huawei tinha sido proibida, ainda em 2019, de atuar nos EUA que segue pressionando para que outros países aliados façam o mesmo e rejeitem o 5G da empresa de tecnologia chinesa. No fundo, a interpretação é que os EUA temiam que a China fizesse o mesmo que era atribuído a si nos esquemas de espionagem mundialmente conhecidos da NSA (caso Snowden), onde “o software PRISM coletava dados diretamente de nove companhias americanas: Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL, Skype, Youtube e Apple” [20]. Segundo a matéria de O Globo sobre a guerra tecnológica entre EUA x China por conta de todo esse confronto, hoje “a China utiliza outro software ‘Great Fire Wall’, que regularia tudo o que circula na internet chinesa com bloqueios a temas sensíveis. Por causa das restrições, empresas americanas como Google, Facebook e Twitter são proibidas de operar na China, o que criou uma reserva de mercado para a expansão de chinesas como a ByteDance e a Tencent”, segundo a reportagem [19].

A China possui diversas outras plataformas de redes sociais com números extraordinários de usuários e acessos. O WeiBo (Sina Weibo), com cerca de 550 milhões de usuários. A plataforma Kuaishou, com mais de 400 milhões de usuários. Além dessas tem a YouKu, Baidu, Tieba, Toution, Duban, Meipai etc. A Rússia também possui suas redes sociais. A de maior destaque é a VK, o Facebook russo, com cerca de 400 milhões de perfis e disponível para uso tanto na web (Windows) quanto nos sistemas iOS (Apple) e Android, podendo ser utilizado em 86 diferentes idiomas.

Como se observa, em termos de redes sociais há uma geopolítica espacial que parece separar o mundo ocidental da Ásia e da Rússia. Isso tem a ver com relações de poder mas também com as questões comerciais de interesse das corporações desses países. De certa forma, os EUA avançaram para o controle dessas plataformas sociais para todo o Ocidente mais a Índia, que acessa em maior parte as redes americanas do que as asiáticas. Já a Rússia criou a sua rede social, como fez a China, para evitar a captura de dados governamentais estratégicos e também da comunicação da população como um todo.

Ainda sobre as redes sociais, vale um olhar especial para o aplicativo WhatsApp, de trocas de mensagens, que foi criado em 2009 também nos EUA, como alternativa ao envio de mensagens via celular pelo SMS, ou torpedos. Em cinco anos o WhatsApp já tinha se tornado um aplicativo muito popular e por isso foi comprado por US$ 22 bilhões pelo Facebook, ampliando ainda mais a concentração da empresa e tornando os dois aplicativos também mais potentes em termos de redes sociais.

Em fevereiro de 2020, a agência de notícias Reuters, em reportagem replicada pela Folha de S.Paulo [21], informou que o WhatsApp tinha atingido o número de 2 bilhões de usuários em todo o mundo. Em 2014 esse aplicativo de rede social tinha apenas 500 milhões, quando o Facebook o comprou. Em 2018 eram 1,5 bilhão de usuários e depois em 2020 alcançou o universo de 2 bilhões. Ou seja, em apenas seis anos o WhatsApp multiplicou por quatro o número de usuários no mundo. Assim, numa análise global das redes sociais as duas empresas do mesmo grupo (Facebook e WhatsApp) lideram o número de usuários em termos globais. Uma com 2,6 bilhões de usuários e outra com 2 bilhões de usuários, empatada com o Youtube da Google. E seguida de perto por outras duas empresas da holding Facebook, o Messenger com 1,3 bilhão e o Instagram com 1,1 bilhão de usuários.

O poder do WhastsApp no Ocidente é muito grande. No mundo, o aplicativo de mensagens está disponível em 180 países e 60 diferentes idiomas e, por isso, hoje tem imenso poder no campo da tecnopolítica em função da agilidade, frequência de uso e conhecimento profundo que tem dos eleitores, o que lhe confere, enquanto instrumento de comunicação direta, enorme capacidade de influência sobre as disputas eleitorais em diversos países. Em janeiro de 2020, o WhatsApp tinha atingido o extraordinário número de 5 bilhões de instalações apenas na Google Play Store, dado que reforça a interpretação sobre seu poder de penetração como aplicativo de mensagens.

Os serviços de mensagens ainda não são regulados em lugar nenhum do mundo e por isso, detêm esse enorme poder. Um dos autores do livro Fake news e regulação, Ricardo Campos (professor da Goethe Universitãt Frankfurt e colaborador dos debates no Congresso brasileiro para a elaboração da Lei de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, mais conhecida como Lei das Fake News), afirmou que “em nenhum lugar do mundo os serviços de mensagens têm o impacto que têm no Brasil. É uma infraestrutura de comunicação pública. Ninguém, quer calar cidadãos, o que se quer é criar mecanismos de responsabilização de uma produção em escala industrial de notícias falsas” [22].

No Brasil, no final de 2019, o número de usuários do WhatsApp era de 136 milhões de pessoas [23]. Pesquisa do site de tecnologia TecMundo indicou que o WhatsApp está presente em 99% dos celulares do Brasil (em 2018 esse percentual era de 96%), enquanto o Messenger estaria presente em 79% dos aparelhos móveis [24]. Outra pesquisa do Chroma Insight 2019 revelou que 95% dos brasileiros deixam o aplicativo do WhatsApp na tela inicial do smarphone, o que pode ser considerado como o principal canal de comunicação móvel.

Segundo pesquisa do Hootsuite 2019 (sistema de gestão de marcas em mídia social), 98% dos usuários do WhatsApp no Brasil usam o aplicativo diariamente. Já a pesquisa do Croma Insights 2019 identificou que 65% dos brasileiros têm o hábito de usar o app à noite, pouco antes de dormir, e 50% dos entrevistados afirmaram que utilizam o aplicativo assim que acordam pela manhã. Outro pico de uso do aplicativo WhatsApp no Brasil é na hora do almoço (cerca de 47%) e 45% quando assistem televisão [25].

Uma pesquisa realizada por telefone em todos os estados e no Distrito Federal pela Câmara dos Deputados do Brasil em outubro de 2019 [26] ouviu 2,4 mil pessoas que têm acesso à internet e identificou que 79% dos brasileiros usam o WhatsApp como principal fonte de informação, enquanto os canais de TV vêm a seguir com 50%. As redes sociais vinham logo atrás, através dos aplicativos: YouTube com 49%; FB com 44% e Instagram, 30%, com maior força entre os mais jovens. Depois estavam os sites de notícias com 38%; rádios 22%; jornais 8%; e Twitter com 7%. Já no que diz respeito à faixa etária de uso do WhatsApp, a maioria está entre 35 e 54 anos, sendo maioria os que têm mais de 45 anos [26].

Em termos das plataformas de streaming e vídeos, os usos são crescentes e as estatísticas indicam que representam uma ameaça cada vez maior sobre as formas mais tradicionais de mídia, em especial as TVs. A liderança no mundo, retirando a China, fica também com as corporações americanas: Netflix, Amazon Prime Vídeo, HBO Go, Fox Play, Disney+, Apple TV+ e HBO Max. As últimas ainda se expandindo em termos de oferta pelo mundo.

No final de 2019 a Netflix, a maior delas, informou que tinha no mundo cerca de 160 milhões de assinantes em quase 200 países, quase metade EUA + Canadá, seguida pela Europa e América Latina. Em segundo está a Amazon Prime com número estimado em cerca de 100 milhões só nos EUA, onde a assinatura também oferece direito a descontos na entrega de produtos físicos. Em junho de 2020, a lista dos 100 Tops que ganharam com a pandemia indicou que a Netflix tinha ampliado em 23% o número de assinantes e chegado a 183 milhões [7].

Ultimamente a Netflix já vem sendo ameaçada por grandes estúdios que estão retirando seus títulos para lançar suas plataformas próprias. Mas está respondendo com a contratação de produtoras locais para lançamento de filmes e séries que a empresa-plataforma compra e passa a disponibilizar de forma segmentada para públicos que identifica com a captura de dados dos seus usuários e com uso de Big Data, algoritmos e Inteligência Artificial. Por isso, a máquina extratora de dados é tão importante para a gigante mundial do streaming. São cerca de 3 quintilhões de dados capturados diariamente por essas plataformas. Fenômeno que Shoshana Zuboff denomina como capitalismo de vigilância [12].

O Brasil é considerado o sexto país com maior crescimento de horas de utilização de streaming no mundo. A plataforma de streaming Youtube é onde os brasileiros passam mais tempo; seguido por Netflix, Youtube Kids, Twitch e Globo Play. No Brasil, no final do primeiro semestre de 2020, também atuavam em streamings o Now (NET), Telecine Play e Looke.

Em junho de 2020, no auge da pandemia, o aumento da utilização de streaming no Brasil fez com que se tornasse o 2º maior ibope do país, só atrás da TV Globo e na frente do total de TVs por assinatura e também de todos os demais canais de TV, com 7,0 pontos e 15% de share entre 7h e 0h (horário comercial). Ou seja, o streaming já tinha alcançado 15 em cada 100 televisões ligadas no país, metade da audiência de TV Globo e bem mais que a da TV Record, segundo pesquisa da Kantar Ibope [27].

Em setembro de 2020 os sites Arroba Nerd e Just Watch realizaram um estudo sobre o uso de serviços de streaming no Brasil nos primeiros meses de quarentena. Participaram do levantamento as empresas Netflix, Globoplay, HBO GO, Prime Video, TelecinePlay e Claro. A pesquisa identificou um crescimento da Netflix que já liderava antes. Em seguida está Prime Video da Amazon. As posições verificadas na pesquisa foram:  Netflix – 31%; Prime Video – 24%; Telecine/HBO GO – 9%; GloboPlay e Claro Video – 7% [28].

Os números crescentes dos usuários de streaming e de sua gigante-dominante, a Netflix, mostram tanto sua influência quanto sua capacidade de captura de informações sobre os interesses dos assinantes dessas plataformas. Por tudo isso, é importante compreender e levar em consideração a afirmação do criador (e CEO) da Netflix, Reed Hastings, numa conferência realizada em Los Angeles, sede da empresa, quando afirmou que “o sono era o principal competidor de sua plataforma” [29].

Assim, a influência das PDs vinculadas às redes sociais e aos streamings leva à atração de assinantes e usuários. Estes viabilizam a usina extratora dos dados sobre suas relações em sociedade, interesses, compras, ideias etc. De posse desses quintilhões de dados, as plataformas proprietárias dessa commodity (dados) direcionam a publicidade, criam o interesse das compras que se realizam com os fluxos de informações (pagamentos) e a circulação de mercadorias que acabam de alguma forma direcionada às big corporações das plataformas-raiz como foi aqui sustentado. O esquema gráfico abaixo busca reproduzir esse movimento entre produção, circulação e consumo material e imaterial.

Figura 9: A lógica da captura de dados e do vampirismo digital

Quanto mais acessos, informações, imagens e vídeos que os usuários disponibilizam, voluntariamente e muitas vezes inocentemente, nessas redes sociais, mais os seus controladores aumentam a capacidade de conhecer as pessoas e seus interesses. Essa massa de dados armazenados em Big Datas e processados por algoritmos treinados em Inteligência Artificial [30] servem basicamente aos seguintes fins: comerciais, econômicos (mercado) e político.

Considerações finais
O expressivo volume de informações e indicadores empíricos aqui condensados e expostos, acompanhados de alguns referenciais teóricos, permite que se façam algumas interpretações analíticas sobre as transformações em curso, a partir da centralidade da tecnologia como fator de produção no capitalismo contemporâneo.

O mundo saiu de uma era agrária (feudalismo) para um período industrial (fordista e depois toyotista) e agora estamos diante do “plataformismo” como um nova etapa do Modo de Produção Capitalista (MPC) que se combina com as anteriores.

Chegamos de forma concreta ao período “informacional” levantado como tendência por Castells, em sua trilogia da “Era da Informação”, em especial o volume Sociedade em rede. Porém, agora não se trata mais de hipóteses ou estimativas mas dos fatos do cotidiano, em que se pode acompanhar os intensos movimentos de seus agentes e de suas articulações com o Estado.

Este texto reflete uma conjunção de diversas leituras e pretende ser uma contribuição para a compreensão das estratégias mais importantes e dos processos desenvolvidos por essas plataformas-empresas sobre a realidade que nos circunda, e demonstra o protagonismo que a tecnologia informacional ganhou como fator de produção nos dias atuais.

Assim, se pode enxergar um pouco mais e melhor o fenômeno do capitalismo de plataformas (e o plataformismo) e seus desdobramentos numa perspectiva de totalidade, para além das leituras parciais, fragmentadas e algumas vezes superficiais. É um esforço para uma leitura do fenômeno em termos de totalidade que não pretende, evidentemente, inibir as pesquisas que aprofundam as análises em diferentes dimensões e/ou escalas.

O progresso via tecnologia segue entre nós como uma ideia difusa de progresso. A “utopia digital” que existia há duas décadas [1] [17] parece estar nos levando para uma quase ditadura digital a partir do uso da tecnopolítica [31] que leva líderes políticos a negarem a sua natureza de mediação na sociedade, substituindo-a por uma lógica frugal de busca de seguidores e engajamentos nas plataformas das redes sociais e não soluções para as populações que representam.

Esse movimento contemporâneo da tecnopolítica representa o assassinato do ideal da democracia liberal no campo da política e das relações de poder. O arremedo da democracia liberal ocidental é colocado por terra, sem mesmo levar em conta o que Steven Levitsky e Daniel Ziblatt afirmaram no livro Como as democracias morrem. O potente uso da bomba da tecnopolítica, dos algoritmos e da IA detona esse discurso, expondo com clarividência a forma autoritária com que o liberalismo lida com os seus críticos.

Na economia, a tecnologia ampliou a concentração e a oligopolização com tendência monopolista com viés ainda mais radical e sem nenhum controle do Estado. Processo que leva a um aumento dos lucros, a uma maior acumulação, ao desemprego e à precarização do trabalho. O resultado disso tem sido a ampliação das desigualdades já imensa em várias partes do mundo, desde os países do capitalismo central quanto nas nações do capitalismo tardio e periférico.

Trata-se de um processo que revela além da concentração dos controles sobre a economia, a sociedade e a política, uma enorme capacidade para lidar com os diferentes setores da sociedade, para além-fronteiras, em direção a um mercado de alcance global

As PDs se misturam às finanças com uma forte indução ao consumismo pela propaganda dirigida e focada. A Inovação Tecnológica e a startupização apoiada pela hegemonia financeira dos capitais de risco ampliam e potencializam ainda mais o avanço desse processo. Os fundos de investimentos junto com as PDs financeiras foram conferindo maior potência e uma hipermobilidade ao capital. A startupização reduz os riscos dos negócios que, em tese, explicariam as margens de lucro das empresas no capitalismo.

O trabalho qualificado de técnicos e pesquisadores vinculados às incubadoras e parques tecnológicos sustentados com apoio e recursos das universidades públicas auxilia o surgimento de novos negócios e oportunidades em diferentes setores (frações do capital), servindo, em última instância, aos donos dos capitais. Dessa forma, os fundos financeiros quase que eliminam os riscos dos novos empreendimentos, tornando ainda mais clara a relação direta entre IT e PDs. Relação que também explica a relação direta entre o andar das altas finanças e a produção social no território, onde vivemos e onde se produz a riqueza gerada pelo trabalho.

As PDs expandem o potencial de captura de dados para alimentar os Big Datas (BD), os algoritmos e a Inteligência Artificial (IA). As PDs também promovem o extrativismo e a commoditificação dos dados, obtidos do trabalho produtivo e/ou do trabalho improdutivo, através do roubo do tempo, do sono e ideias (cronofagia [32]) e vão se tornando uma das bases de sustentação do hipercapitalismo contemporâneo, com características e tendência de “capitalismo autofágico”, de consumir a si próprio [6].

As PDs também ampliam a captura das rendas (excedentes) nacionais/regionais, numa espécie de “vampirismo digital”. Um processo que expõe a imensa capacidade de reprodução e acumulação rentista no andar superior das altas finanças, onde também fica mais clara a tendência monopolista. Um novo patamar do capitalismo contemporâneo que, visto sob o prisma da Economia Política e das relações de poder, sugere o percurso de um “neoimperialismo digital”.

Só a Política pode conter esse processo que amplia as desigualdades, muda comportamentos e esgarça o processo civilizacional. Esforços contra-hegemônicos têm sido desenvolvidos e tentados, mas ainda com limitações para enfrentar o gigantismo do monopólio ampliado pelo capitalismo de plataformas. Espera-se que o uso coletivo do conhecimento, como bem intangível e riqueza multiplicável, possa ser adiante compartilhado e utilizado na direção do pós-capitalismo.  

Roberto Moraes Pessanha é professor titular aposentado do Instituto Federal Fluminense (IFF). Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pelo PPFH-UERJ com estágio doutoral na faculdade de Geografia da Universidade de Barcelona. Mestre em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ. Autor do livro A ‘indústria’ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo (Consequência, 2019). Membro da Rede Latino-Americana de pesquisadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (RELAEE). Mantém desde 2004 de forma ativa e permanente o blog www.robertomoraes.com.br

Referências e/ou notas

[1] MOROZOV, Evgeny. Big Techs: A ascensão dos dados e a morte da política. Ubu Editora: São Paulo, 2018.

[2] MARX, Karl. O capital. Boitempo: São Paulo, 2014.

[3] THOMPSON, Edward. Costumes em comum: estudo sobre cultura popular tradicional. Companha das Letras: São Paulo, 1998.

[4] HARVEY, David. Condição pós–moderna: São Paulo, 2005.

[5] DOWBOR, Ladislaw. O capitalismo se desloca: novas arquiteturas sociais. Edições Sesc São Paulo: São Paulo, 2020

[6] Nos referimos à expressão “capitalismo autofágico” dentro da analogia com o termo derivado do sistema biológico e celular. Autofagia se refere ao processo de degradação e reciclagem de componentes da célula. O termo autofagia deriva do grego e significa “comer a si próprio”, ou seja, a célula digere partes de si mesma. O que nos permite interpretar que o “capitalismo de plataformas”, como um regime de acumulação primitiva e de tendência monopolista, reforça a interpretação de que o capitalismo visto de forma geral, enquanto sistema, é basicamente, autofágico.

[7] Financial Times. FT Series. 19 junho de 2020. P.1–11. Coronavirus economic impact Prospering in the pandemic: the top 100 companies. https://www.ft.com/content/844ed28c–8074–4856–bde0–20f3bf4cd8f0

[8] Matéria de O Globo. 20 de Agosto de 2020 p. 33. Apple bate recorde e atinge valor de US$ 2 trilhões: fabricante de iPhone é a primeira empresa americana a alcançar esse patamar no mercado. Globo online em 19 agosto de 2020: https://oglobo.globo.com/economia/apple–bate–novo–recorde–atinge–us–2–trilhoes–em–valor–de–mercado–24594445

[9] KENNEY, Martin and ZYSMAN, John. The platform economy: restructuring the space of capitalist accumulation.  Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, publicado em 19 de março de 2020. Revista: Regiões, Economia e Sociedade de Cambridge. https://oup.silverchair–cdn.com/UI/app/svg/pdf.svg

[10] SRNICEK, Nick. Capitalismo de Plataformas. Caja Negra: Buenos Aires, 2018.

[11] LANGLEY, Paul and LEYSHOW, Andrew. Platform capitalism: the intermediation and capitalization of digital economic circulation. Finance and Society, p. 1–21, 2016. https://nottingham–repository.worktribe.com/output/803713/platform–capitalism–the–intermediation–and–capitalization–of–digital–economic–circulation

[12] ZUBOFF, Shoshana. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. Edição: 1. [s.l.]: PublicAffairs: Nova York, 2019.

Sobre a vigilância e a captura de dados que a caracterizam é oportuno distinguir a segunda da primeira. A captura de dados é o central no processo de plataformização, porém, o filósofo coreano Byung–Chul Han, em seu livro “Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder”, Editora Âyiné, 2018, ao falar do pan–óptico digital e do uso massivo da internet e dos smarphones, tablets e computadores questiona o estado de vigilância a que se refere hoje. “O smarphone substitui a câmara de tortura” do “estado de vigilância” citado por Orwell, quando este se referia ao “Grande Irmão” que arrancava as informações contra a nossa vontade. No capitalismo de plataformas, a informação é capturada, mas ela é em boa parte fornecida. Han afirma que “a revelação é voluntária” e a “autoexploração e a autoexposição seguem a mesma lógica e a liberdade é sempre explorada” (HAN, 2018, p. 57).  

[13] PESSANHA, Roberto Moraes. A `indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo. Consequência: Rio de Janeiro, 2019.

[14] LENCIONI, Sandra. Condições gerais de produção e espaço–tempo nos processos de valorização e capitalização. No prelo. São Paulo. 2020. Realço a referência a este importante texto da professora Sandra Lencioni (Geografia, USP), compreendendo que ainda há muito a ser aprofundado na análise sobre as condições gerais de produção no processo de plataformização. As condições gerais de produção são mais que as instalações fixas das infraestruturas. Esse conceito de origem marxiana parece indispensável para o aprofundamento das investigações sobre o papel das PDs na extração de valor (e capitalização) que explica tanto o fenômeno do valor em movimento, quanto a função de intermediação do processo de plataformização.

[15] A respeito da infraestrutura das nuvens (clouds), a sua denominação, a sua relação com o conceito de Condições Gerais de Produção sugiro a minissérie–documentário americana (2020) Connected (A era dos dados: Ciência por trás de tudo) do jornalista Latif Nasser, especializado em ciências. A temporada 1 da minissérie está na plataforma Netflix – um paradoxo a essas críticas às plataformas digitais e no caso aos streamings que seguem as contradições do capitalismo – e possui seis episódios. O de número 5, “Nuvens” descreve a origem da denominação, a extraordinária infraestrutura de cabos (inclusive submarinos) e instalações reais e físicas para armazenagem de dados, os big–datas.

[16] A respeito do taylorismo digital e da controle sobre a geolocalização (online) do entregador por parte da PD, da rapidez e eficiência da entrega do produto até o consumidor, eu sugiro o filme “Você não estava aqui” (2019), de Ken Loach, o mesmo autor de “Eu, Daniel Blake” (2016). O filme mostra a vida e o trabalho precarizado e superexplorado de um entregador de aplicativos (PD).

[17] CATELLS, Manuel. A sociedade em rede. Paz e Terra: São Paulo. 2002.

[18] Relatório Global Digital Statshot 2019. Digital 2019. Weare Social e Hootsuite. https://wearesocial.com/global–digital–report–2019

[19] Matéria de O Globo em 8–8–20, p.23. BATISTA, Henrique G. e MARTINS, Gabriel. Guerra Tecnológica: Trump proíbe empresas de negociarem com aplicativos chineses e afeta mercados.

[20] Os fatos relativos à espionagem na NSA dos EUA foram expostos no filme dirigido por Oliver Stone (2016), “Snowden: herói ou traidor”. O filme é indispensável para se tomar conhecimento de fatos e documentos sigilosos que comprovam atos de espionagem praticados pelo governo estadunidense contra cidadãos comuns, corporações e lideranças internacionais, como a Petrobras, a presidente Dilma Roussef e a chanceler alemã Angela Merkel.

[21] Matéria da Reuters, replicada pela Folha de São Paulo, em 12 de fevereiro de 2020. WhatsApp atinge 2 bilhões de usuários – Rede social tinha 500 milhões em 2014, quando o Facebook comprou por US$ 19 bilhões. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/02/whatsapp–atinge–2–bilhoes–de–usuarios.shtml

[22] Matéria em O Globo, 07 de setembro de 2020, p. 6. FIGUEIREDO, Janaína. Deve existir transparência sobre as plataformas. https://blogs.oglobo.globo.com/sonar–a–escuta–das–redes/post/deve–existir–transparencia–sobre–plataformas–avalia–ricardo–campos–autor–do–livro–fake–news–e–regulacao.html

 [23] Matéria da Agência Brasil em 10 de dezembro de 2019. WhatsApp é a principal fonte de informação dos brasileiros, diz pesquisa. https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019–12/whatsapp–e–principal–fonte–de–informacao–do–brasileiro–diz–pesquisa

 [24] Matéria do site de tecnologia TecMundo em 28 de fevereiro de 2020. WhatsApp está em 99% dos celulares no Brasil, diz pesquisa. https://www.tecmundo.com.br/software/150647–whatsapp–99–celulares–brasil–diz–pesquisa.htm

 [25] Matéria no site Oberlo com dados estatísticos de uso de internet e aplicativos em 31 de março de 2020. 9 estatísticas sobre o WhatsApp que você precisa conhecer. https://www.oberlo.com.br/blog/estatisticas–whatsapp

 [26] Matéria do Estadão em 5 de julho de 2019. Adultos com mais de 45 anos são principais usuários de redes sociais no País, diz estudo. https://link.estadao.com.br/noticias/cultura–digital,adultos–com–mais–de–45–anos–sao–principais–usuarios–de–redes–sociais–no–pais–diz–estudo,70002907108

[27] Matéria da Microsoft News MSN em 9 de julho de 2020. Plataformas de streaming perderam apenas para a Globo no Ibope de junho. https://www.msn.com/pt–br/dinheiro/economia–e–negocios/plataformas–de–streaming–perderam–apenas–para–a–globo–no–ibope–de–junho/ar–BB16xSOq

[28] Matéria do site de tecnologia @Nerd em 1 de setembro de 2020. Guerra dos Streamings – Estudo mostra que HBO Go desperta mais interesse do que Globoplay no Brasil; Netflix lidera. https://www.arrobanerd.com.br/estudo–sobre–o–interesse–do–brasileiro–nos–servicos–de–streaming/

[29] Matéria do site de tecnologia Olhar digital sobre declaração de criador e CEO da Netflix em Los Angeles. 18 de abril de 2017: Maior concorrente da Netflix é o sono, diz CEO.  https://olhardigital.com.br/noticia/maior–concorrente–da–netflix–e–o–sono–diz–ceo/67679

[30] Sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) e treinamento de algoritmos para se aproximar da forma de pensar dos humanos, sugiro a série–documentário “Dark Net” (“Rede Sombria”) de Mati Kochavi feita para o canal Show Time (2016 e 2017, primeira e segunda temporadas) com oito episódios cada. A série aborda diferentes momentos e fatos que ajudam a explicar como a tecnologia é incorporada ao cotidiano e também descreve a dark net, guerra digital e o biohacking. A temporada 2 da série esteve disponível na plataforma Netflix – novamente um paradoxo a estas críticas às plataformas digitais e no caso aos streamings que seguem as contradições do capitalismo. Chamo a atenção em especial para a temporada 2 e episódios que abordam o treinamento de algoritmos.

[31] DA EMPOLI, Giuliano. Os Engenheiros do caos. Vestígio: São Paulo, 2019.

[32] Artigo do SCAFFIDI, Giuseppe no portal Outras Palavras: “Cronofagia: o roubo do tempo, sono e ideias”, publicado em 17 de fevereiro de 2020. Scaffidi cita Jean–Paul Galibert e seu manifesto Cronòfagi (2015), quando afirma que Galibert foi quem cunhou pela primeira vez o termo “cronofagia”, configurando–o como uma das bases de sustentação do hipercapitalismo contemporâneo. Scaffidi também se refere à influência do termo Cronofagia em outro ensaio de 2015, “Capitalism 24/7 – Il capitalismo all’attacco del sonno” [Capitalismo 24/7 – o sono sob ataque do sistema] de autoria de Jonahthan Crary, que “evidencia como uma necessidade biológica fundamental entrou em claro contraste com as exigências voltadas a alcançar a distopia de um capitalismo 24 horas por dia, 7 dias por semana”. https://outraspalavras.net/mercadovsdemocracia/cronofagia–o–roubo–do–tempo–do–sono–e–das–ideias/

I – Entrevistas e conferências virtuais do autor sobre o tema:

II – Lista de artigos do autor sobre o tema no seu blog e no portal 247:

A – Postagens no blog do autor (em ordem cronológica inversa: da mais recente para a mais antiga) sobre o tema da plataformização, home office e capitalismo de plataformas:

1) Postagem em 10 de junho de 2020:
O fenômeno da intensificação da plataformização dos negócios durante e pós–pandemia.
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/06/o–fenomeno–da–intensificacao–da.html

2) Postagem em 3 de junho de 2020:
O aumento da digitalização altera o modo de produção e nos remete à fase de um capitalismo financeiro e de plataformas.
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/06/o–aumento–da–digitalizacao–altera–o.html

3) Postagem 13 de maio de 2020:
A plataformização digital da vida pós–Covid ampliará a vampirização da renda do trabalho num processo de retroalimentação do sistema.
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/05/a–plataformizacao–digital–da–vida–pos.html

4) Postagem em 2 de abril de 2020:
O que os primeiros dias de intensificação do trabalho em casa (home office) já permite enxergar.
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/04/o–que–os–primeiros–dias–de.html

5) Postagem em 15 de março de 2020
Se as plataformas digitais são neutras (“e do bem”), por que elas ajudam tão pouco em situações de crise como na pandemia do coronavírus?
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/03/se–as–plataformas–digitais–sao–neutras.html

6) Postagem em 14 de fevereiro de 2020
Capitalismo de plataformas e a falsa economia do compartilhamento: 99 e Uber somam hoje mais de 1 milhão de motoristas ativos no Brasil enriquecendo seus investidores globais.
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/02/capitalismo–de–plataformas–e–falsa.html

B– Artigos no Portal 247 e no blog do autor:

[7] Artigo em 1 de setembro de 2020. China defende sua capacidade algorítmica e de Inteligência Artificial na guerra tecnológica com os EUA. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/china–defende–sua–capacidade–algoritmica–e–de–ia–na–guerra–tecnologica–com–os–eua

[8] Artigo em 25 de agosto de 2020. Com pandemia, setor de tecnologia é hegemônico no Top 100 do Financial Times. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/com–pandemia–setor–de–tecnologia–e–hegemonico–no–top–100–do–financial–times

[9] Artigo em 22 de agosto de 2020. Vampirismo digital e agora consentido, autorizado e pago pela Petrobras à Microsoft. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/vampirismo–digital–e–agora–consentido–autorizado–e–pago–pela–petrobras–a–microsoft

[10] Artigo em 17 de agosto de 2020. Proibição ao Alibaba é mais uma etapa da guerra das plataformas digitais EUA x China. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/proibicao–ao–alibaba–e–mais–uma–etapa–da–guerra–das–plataformas–digitais–eua–x–china–8cjgrz5u

[11] Artigo do autor no 247 em 4 de agosto de 2020. Mais elementos para explicar o poder das gigantes da tecnologia no capitalismo de plataformas. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/mais–elementos–para–explicar–o–poder–das–gigantes–da–tecnologia–no–capitalismo–de–plataformas

[12] Artigo do autor no 247 em 31 de julho de 2020. A tecnopolítica como dimensão do capitalismo de plataformas assassina a democracia liberal. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/a–tecnopolitica–como–dimensao–do–capitalismo–de–plataformas–assassina–a–democracia–liberal

[13] Artigo do autor no 247 em 28 de julho de 2020. Por que EUA limitariam suas Big Techs se elas controlam as veias digitais que ainda lhe dão hegemonia geopolítica? Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/por–que–eua–limitariam–suas–big–techs–se–elas–controlam–as–veias–digitais–que–ainda–lhe–dao–hegemonia–geopolitica

[14] Artigo do autor no 247 em 26 de julho de 2020. Musk da Tesla expõe a relação dos financistas e das corporações com a geopolítica dos EUA. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/musk–da–tesla–expoe–a–relacao–dos–financistas–e–das–corporacoes–com–a–geopolitica–dos–eua

[15] Artigo do autor no 247 em 13 de julho de 2020. Por que o capitalismo contemporâneo não consegue mais criar trabalho? Outro mundo é possível! Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/por–que–o–capitalismo–contemporaneo–nao–consegue–mais–criar–trabalho–outro–mundo–e–possivel

[16] Artigo do autor no 247 em 3 de julho de 2020. Capitalismo de plataformas e Appficação no Brasil e no mundo expõem a superexploração do trabalho. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/capitalismo–de–plataformas–e–appficacao–no–brasil–e–no–mundo–expoem–a–superexploracao–do–trabalho–98c5i9fk