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Xamanismo ianomāmi dialoga
com a arte contemporānea

A divulgação da sofisticação estética e intelectual do xamanismo Yanomami é o objetivo da exposição "Yanomami, O Espírito da Floresta", aberta ao público a partir desta semana, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

Concebido pelo antropólogo Bruce Albert, diretor do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), e por Hervé Chandès, diretor da Fundação Cartier, o projeto é baseado numa experiência de diálogo entre 13 artistas de vários países (Brasil, França, Alemanha, Japão e Estados Unidos) e os 11 xamãs da aldeia Yanomami Watokiri-Montanha do Vento, localizada na Serra do Demini, no Amazonas. Watokiri (e seus 132 habitantes) é uma das 250 aldeias onde vivem os cerca de 13.600 Yanomami do Brasil. Segundo Bruce Albert, a exposição permite evidenciar a maneira com que a trajetória estética destes artistas internacionais pode entrar em ressonância com a metafísica das imagens dos xamãs Yanomami: "o foco do projeto é demonstrar a relevância universal e contemporânea do universo intelectual do xamanismo Yanomami", afirma.

A cultura Yanomami, tradicionalmente, não possui imagens materiais, valorizando apenas as imagens mentais. Os xamãs atualizam essas imagens através de coreografias e cantos específicos utilizados para curar doentes e fazer o controle ecológico da floresta. Entre os Yanomami, portanto, não é um suporte plástico que materializa e dá visibilidade às imagens e, sim, o corpo dos xamãs. Segundo Bruce Albert, as obras da exposição são o resultado desta experiência de confrontação entre a noção Yanomami e a noção ocidental de imagem. Esta confrontação, segundo o antropólogo, jamais teria sido possível nos moldes de um museu etnográfico clássico, que tende a "apresentar os índios e suas culturas como um universo subalterno, sob o olhar explicativo ou 'exotisante' do ocidente, tal como nas exposições que privilegiam os objetos, as plumas, as fotos exóticas acompanhadas de etiquetas didáticas".

"Não quis fazer uma exposição sobre os Yanomami", continua o antropólogo, "mas uma exposição a propósito dos Yanomami (e do que podem nos ensinar) e com os Yanomami, já que eles participaram de toda a produção". Albert, juntamente com Davi Kopenawa, xamã e líder Yanomami, intermediou o diálogo entre a comunidade de Watokiri e os artistas da exposição que visitaram a aldeia entre outubro de 2002 e janeiro de 2003. Os artistas que participam da mostra, que ficará aberta até 20 de junho, são: Cláudia Andujar, Lothar Baumgarten, Raymond Depardon, Gary Hill, Tony Oursler, Wolfgang Staehle, Naoki Takizawa, Adriana Varejão, Stephen Vitiello, Geraldo Yanomami, Joseca Yanomami e Volkmar Ziegler.

Arte e direitos indígenas
A exposição "Yanomami, O Espírito da Floresta" é realizada no Brasil com a colaboração da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), uma organização não-governamental que apóia esse povo desde 1978. Tanto a Fundação Cartier (onde a exposição esteve em cartaz, em Paris, até outubro do ano passado) quanto o Centro Cultural Banco do Brasil fizeram doações ao programa de educação bilíngüe que a CCPY mantém na área indígena, a pedido dos Yanomami, desde 1995.

A ONG teve um papel crucial na obtenção da delimitação e da homologação da Terra Indígena Yanomami, alcançada em 1992 através de uma intensa campanha nacional e internacional que durou 13 anos. Apesar disso, o terrítório Yanomami ainda é constantemente ameaçado por garimpeiros, colonos e fazendeiros. "Através da exposição esperamos que um vasto público possa melhor valorizar a cultura Yanomami e, assim, dar seu apoio à defesa dos direitos territoriais deste povo indígena", disse Albert que, juntamente com Cláudia Andujar e Carlo Zacquini, é um dos fundadores da CCPY.

Antes de participar da inauguração da exposição, Davi Kopenawa, xamã e porta-voz Yanomami, esteve presente nas manifestações organizadas pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), que acontecem desde a semana passada, em Brasília, e visam pressionar a assinatura da homologação contínua da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol através de um decreto presidencial: os Yanomami e a CCPY apóiam totalmente as reivindicações do CIR, que vêm lutando pela demarcação e homologação da Raposa-Serra do Sol há mais de 20 anos. A Terra Indígena, que se localiza em Roraima, na divisa com a Guiana e a Venezuela, é habitada por aproximadamente 15 mil índios das etnias macuxi, tauarepang, patamona, ingarikó e wapixana.

A demarcação da Raposa-Serra do Sol foi feita em 1998 através da Portaria n.º 820. Desde então, a homologação deste território se transformou num impasse, tendo em vista a existência da vila de Uiramutã (que, antes de ser declarado município, em 1995, sediava umas dezenas de pessoas envolvidas na garimpagem ilegal feita na região), de estradas e áreas de plantio de arroz. A maior parte dos índios de Roraima luta pela homologação da Raposa-Serra do Sol em área contínua (1,67 milhão de hectares) e não em ilhas, como querem os sete produtores rurais que ocuparam a região durante a década de 1990.

Atualizado em 23/04/04
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