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Subsídios para a compreensão da controvérsia
entre o criacionismo e o evolucionismo

Ruy Carlos de Camargo Vieira

Introdução

Este artigo foi escrito com a intenção de ressaltar alguns aspectos importantes relacionados com o campo da observação direta e da utilização de instrumentação para a ampliação da capacidade dos sentidos, bem como outros aspectos relacionados com os campos das deduções e conjecturas, com vistas a uma colocação da perspectiva criacionista relativa à ciência, para então compará-la com a perspectiva evolucionista. Com esse propósito, foi redigido um texto simples, de fácil entendimento para estudantes que tenham cursado disciplinas científicas pelo menos em nível de ensino médio.

Grandezas físicas

Ao iniciar-se um curso de física, é introduzida a noção de "grandezas físicas", indispensável para a caracterização dos fenômenos a serem observados e medidos experimentalmente. Em seguida, passa-se a tratar da medida dessas grandezas físicas, e de sistemas coerentes de unidades de medida. Aí, para a estruturação dos sistemas de unidades, estabelece-se o conceito de grandezas fundamentais e de grandezas derivadas. Deixando-se de lado as grandezas térmicas, elétricas e magnéticas, e limitando-se inicialmente somente às grandezas mecânicas, são apresentadas nos cursos de física três grandezas fundamentais, em função das quais todas as demais podem ser definidas. Apesar de existirem diferentes maneiras de escolher essas grandezas fundamentais, a maneira mais simples e direta é a utilizada pelos Sistemas Coerentes de Unidades que foram aceitos internacionalmente, e que escolheram como fundamentais as grandezas comprimento, massa e tempo. Iniciaremos nossas considerações abordando alguns aspectos relativos ao espaço e ao tempo, como considerados de forma clássica nos cursos de física em nível médio. Será deixada para outra oportunidade a consideração de aspectos relativos à grandeza massa.

Considerações sobre o espaço e o tempo

Assim, com relação ao comprimento, por exemplo, o campo delimitado pela observação direta cobre dimensões de décimos de milímetros, que são as menores discernidas pela vista desarmada, até dimensões de alguns metros, variando, portanto, em torno das dimensões médias macroscópicas do corpo humano e suas partes. Dimensões maiores poderão ser discernidas - tratando-se de objetos maiores, situados a maiores distâncias do observador - mas sempre com a proporcional perda de definição da imagem percebida. É o caso, por exemplo, da observação de uma montanha de centenas de metros de altura, a uma distância de alguns quilômetros do observador, ou a observação da Lua ou do Sol por um observador situado na superfície da Terra. Objetos de comprimentos menores do que o olho nu consegue discernir - como microorganismos - podem ser discernidos mediante instrumentação adequada, utilizando, por exemplo, técnicas de microscopia; e objetos de maior porte podem também ser discernidos através de dispositivos especiais de telemetria, chegando-se até às dimensões incomensuráveis das mais remotas galáxias. Dimensões da ordem de grandeza do tamanho de moléculas podem ser mensuradas por dedução, mediante técnicas especiais, da mesma forma que as dimensões correspondentes a distâncias entre átomos de uma malha cristalina, ou a diâmetros atômicos dos elementos químicos.

Com relação à grandeza tempo, observações análogas podem também ser feitas. Fenômenos que se desenvolvam em intervalos de tempo muito curtos, por exemplo, são imperceptíveis à nossa visão, pois os nossos sentidos não têm como discernir intervalos de tempo abaixo de um certo valor. É sabido experimentalmente, por exemplo, que uma lâmpada fluorescente "pisca" incessantemente, porém sua freqüência de pulsação, correspondente à freqüência da rede elétrica, é suficientemente elevada para que o tempo de persistência da imagem em nossa retina não nos permita discernir a existência dessas pulsações. Pode-se, entretanto, discernir indiretamente a sua existência mediante a observação de algum objeto em movimento, iluminado pela luz fluorescente, quando houver condições para a manifestação do chamado "efeito estroboscópico", caso em que o objeto fica, em nossa percepção, aparentemente estático. Isso se dá quando é atingida uma relação determinada entre a freqüência da rede elétrica e a do objeto em movimento periódico. Os processos de filmagem ultra-rápida utilizam-se desse efeito estroboscópico para filmar eventos que se passam em intervalos de tempo muito pequenos, e trazem informações muito interessantes para o conhecimento de vários fenômenos que de outra forma passariam inteiramente imperceptíveis ao nosso sentido da visão. A queda de uma gota dágua sobre uma superfície livre, a deformação de uma bola ao ser chutada ou ao ser atingida por uma raquete de tênis, ou um taco de golfe, são exemplos ilustrativos da utilização de filmagem ultra-rápida para ampliar o nosso limitado campo da observação direta.

Por outro lado, eventos que ocorram, ou fenômenos que se desenvolvam, em intervalos de tempo superiores ao de nossa vida, só poderão ser discernidos em sua totalidade mediante a transmissão de conhecimento de geração a geração. Tem-se aí o campo específico do testemunho histórico, que registra acontecimentos do passado, diretamente através de documentação escrita (sob várias formas), ou indiretamente, por exemplo, através de tradições transmitidas oralmente. Esse testemunho histórico não deixa também de ter sua limitação. De fato, existem problemas quanto à comprovação da veracidade de documentos escritos ou do verdadeiro conteúdo de tradições. Mas também existe limitação maior, inerente ao próprio processo do testemunho histórico, que é a pressuposição da existência da escrita. Como se sabe, os mais antigos documentos escritos não são anteriores a 4000 anos antes de Cristo. Desta forma, o campo do testemunho histórico limita-se automaticamente a essa data, sendo que, para eventos anteriores a ela, somente se podem formular conjecturas. Para intervalos de tempo anteriores a essa limitação dada pelo testemunho histórico, além da fronteira estabelecida pelo campo da instrumentação - que se desloca em função dos desenvolvimentos da tecnologia - tem-se ainda uma região em que podem ser desenvolvidos modelos, formuladas , e feitas deduções, utilizando-se a metodologia científica, com o auxílio de ferramentas da matemática e da informática. Nesse campo, a história da ciência tem mostrado como se processa o desenvolvimento das idéias, e a luta pela sua comprovação. Uma idéia preconcebida é desenvolvida e posta à prova, submetendo-se ao escrutínio dos pesquisadores interessados na busca da verdade, até que seja ou não confirmada. Avolumando-se as evidências contrárias, a idéia será rejeitada e substituída por outra que seja mais condizente com os fatos conhecidos.

A filosofia da ciência se ocupa do exame e do acompanhamento do desenvolvimento das idéias que constituem modelos ou teorias, e freqüentemente tem analisado idéias específicas, que têm sido aceitas como paradigmas durante certo tempo, mas que, submetidas ao crivo do escrutínio da metodologia científica, têm sido abandonadas, pela sua inconsistência, ou pela descoberta de novos fatos não condizentes com os seus pressupostos. Filósofos da ciência, como Thomas S. Kuhn, têm escrito sobre esse processo natural do desenvolvimento das idéias científicas, lançando bastante luz sobre ele. Em seu livro A estrutura das revoluções científicas, já traduzido para o português, Kuhn mostra, por exemplo, como foram desarraigados conceitos considerados como inabaláveis, no decorrer do tempo, quando submetidos a esse processo. Teorias famosas, como a do flogístico, do calórico, e do éter, desenvolveram-se, tiveram seus dias de glória, e finalmente foram sepultadas por não serem condizentes com os novos fatos que foram sendo descobertos. Se isto acontece com os modelos e as teorias, situados em um campo onde são possíveis deduções e análises, utilizando o método científico e ferramentas instrumentais como a matemática e a informática, o que dizer a respeito de modelos e teorias que se situam em um campo já rotulado especificamente como sendo de conjecturas?

Conceituando "ciência"

Até aqui foram feitas breves considerações a respeito das limitações do conhecimento humano, tendo sido destacado o Campo da observação - "direta", ao alcance dos nossos sentidos, e "instrumental" abrangendo sua ampliação possível através da utilização de instrumentação adequada, desenvolvida de maneira cada vez mais aperfeiçoada à medida em que se dão os avanços da tecnologia, em função dos próprios avanços da ciência, em um processo sinérgico. Continuando a explorar a possível extensão do Campo da observação, voltamos a atenção agora ao Campo dos modelos, teorias e deduções, que, em seu conjunto, cobrem praticamente todo o campo de desenvolvimento das atividades científicas. Para prosseguirmos, devemos então nos demorar um pouco no que seja a concepção de ciência aceita modernamente.

Embora não seja tão simples conceituar a ciência em poucas palavras, mesmo porque existem várias abordagens possíveis e, conseqüentemente, várias conceituações e definições delas decorrentes, tentamos, a seguir, partir de uma definição básica representativa, acessível ao nível de ensino médio, para tecer considerações a respeito da ciência, tal qual se pode hoje compreendê-la, sem exageros nem extremismos. Talvez se pudesse partir, com essa finalidade, da seguinte definição:

"Ciência é o conjunto organizado de conhecimentos relativos a determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos, e um método próprio".

A partir desta definição, pode-se, em seguida, passar a algumas outras considerações pertinentes, relativas aos termos nela envolvidos.

Conjunto organizado de conhecimentos, observação e experimentação

Para que os conhecimentos a respeito de um dado objeto ou assunto possam constituir um conjunto organizado, devem ser satisfeitas algumas condições básicas, como por exemplo as seguintes:

  • O conhecimento, para ser verdadeiramente científico, deverá ser racional e objetivo, deixando de lado qualquer aspecto não-racional ou irracional, e toda e qualquer subjetividade.
  • Deverá, também, respeitar a integridade dos fatos observados, sendo inadmissível a rejeição de dados que porventura não se coadunem com posições adotadas aprioristicamente.
  • O conhecimento científico deve ser sistêmico e metódico, abrangendo todos os aspectos envolvidos com o objeto ou assunto estudado, e não somente parte deles.
  • Deverá, ainda, ser caracterizado pela exatidão, devendo ser claro e comunicável, não ficando somente em posse da mente do pesquisador.
  • Para ser científico, o conhecimento deverá ser explicativo e analítico, bem como verificável experimentalmente, sem o que deixará de ser até mesmo conhecimento, tornando-se mera conjectura.
  • O conhecimento científico deve distinguir-se do não científico particularmente pelo seu caráter preditivo, podendo apontar para a possibilidade de novos conhecimentos passíveis de serem verificados pela experimentação.
  • E, finalmente, o conhecimento científico deve ser aberto e útil, e permanecer ao alcance de outros pesquisadores e da sociedade em geral.

Será de utilidade manter esses conceitos em mente para analisar criticamente não só o criacionismo, como também o evolucionismo, este em seu suposto caráter racional e científico, em contraposição ao seu caráter efetivamente não-racional. Devemos lembrar que a linha geral daquilo que estamos alinhavando neste artigo conforma-se com o que foi apresentado por Mário Bunge, reconhecido filósofo da ciência, em seu livro intitulado La ciencia, su método y su filosofia, Buenos Aires, Ed. Siglo Veinte, 1978, e citado por A. Guilherme Galliano em O método científico, Harbra, S. Paulo, 1979.

O método científico

Continuando a seguir a linha mencionada, lembramos que o método científico, por sua vez, apresenta características que o individualizam, e que devem ser observadas para que os procedimentos adotados para o desenvolvimento da ciência possam garantir resultados confiáveis. Dentre tais características destacam-se as que são mencionadas a seguir:

  • Técnicas de observação no procedimento experimental

Como já ressaltado, o conhecimento científico começa a ser adquirido a partir da observação, seja direta, seja utilizando instrumentação adequada. A observação somente, entretanto, pode não ser confiável, pois as limitações dos nossos sentidos podem nos induzir a interpretações falsas. Exemplo ilustrativo dessas interpretações falsas são as chamadas "ilusões de ótica", das quais numerosos casos bastante conhecidos podem ser citados. Exatamente para eliminar distorções na interpretação daquilo que nossos sentidos detectam, é que são desenvolvidas técnicas de observação, as quais passam a fazer parte do método científico. Em cada campo específico da "observação científica" existem normas e protocolos que são estabelecidos para garantir a necessária objetividade das medidas a serem procedidas, quer quantitativamente, quer qualitativamente. Assim, as técnicas de observação devem ir além da simples utilização correta dos sentidos ou da instrumentação, para cobrir também a fidedignidade da interpretação dos dados obtidos.

  • Técnicas de raciocínio no procedimento racional

Basicamente são duas as técnicas de raciocínio utilizadas na construção do conhecimento científico - a dedução e a indução. No processo indutivo, parte-se de resultados obtidos da observação dos fatos para sustentar uma tese levantada com certo grau de subjetividade. Procura-se ir, assim, do particular para o geral. Neste processo, depois de se observar um conjunto de fatos procura-se elaborar uma teoria que tente explicar todos aqueles fatos satisfatoriamente, ou então procura-se estabelecer uma lei geral que possa descrevê-los satisfatoriamente.(7) No processo dedutivo, parte-se do geral para o particular. A partir de uma hipótese considerada válida, ou de relações conhecidas ou aceitas de alguma forma, procura-se demonstrar uma tese determinada.

Paralelamente à indução e à dedução, colocam-se também como técnicas de raciocínio (e também como técnicas experimentais) a síntese e a análise. A síntese é um processo lógico de reconstrução do todo mediante o estudo de suas partes constitutivas. Semelhantemente à indução, ela caminha do particular para o geral. A análise é um processo metódico de estudo do objeto em consideração, que decompõe o todo em suas partes constitutivas, que poderão assim ser estudadas mais facilmente. Semelhantemente à dedução, ela caminha do geral para o particular. De maneira semelhante à indução e à dedução, a síntese e a análise são processos inversos que não se excluem mutuamente, mas sim se complementam, sendo ambos essenciais na construção do conhecimento científico.

  • A aplicação do método científico

A aplicação do método científico ao tratamento dos diferentes tipos de problemas com que se defronta a ciência é feita de conformidade com as peculiaridades de cada objeto ou assunto de estudo, o que justifica a existência de numerosos roteiros de aplicação distintos. De maneira geral, os roteiros para a aplicação do método científico podem ser expostos em linhas gerais da maneira seguinte:

Roteiro de formulação de problema

Reconhecimento dos fatos - Exame do grupo de fatos, classificação preliminar e seleção dos que sejam relevantes para o estudo que se tem em vista.

Descoberta do problema - Descoberta da lacuna ou incoerência existente no corpo do conhecimento científico.

Formulação do problema - Redução do problema a seu núcleo significativo, provavelmente solúvel, com a ajuda do conhecimento disponível; ou seja, formulação de uma pergunta que tenha a probabilidade de ter resposta correta.

Roteiro de construção de modelo teórico

Dando seqüência ao que vinha sendo exposto quanto à aplicação do método científico, abordamos agora a metodologia da construção de modelos teóricos.

  1. Seleção dos fatores pertinentes - Elaboração de suposições plausíveis relativas às variáveis provavelmente pertinentes.
  2. Elaboração de hipóteses centrais e suposições auxiliares - Proposta de um conjunto de suposições concernentes aos nexos entre as variáveis pertinentes, como por exemplo a formulação de leis ou teorias que supostamente possam amoldar-se aos fatos observados.
  3. Tradução matemática - Quando possível, tradução das hipóteses, ou parte delas, para alguma linguagem matemática.

Roteiro de dedução de conseqüências particulares

  • Busca de suportes racionais - Dedução de conseqüências particulares que possam ter sido verificadas no mesmo campo ou em campos contíguos.
  • Busca de suportes empíricos - Elaboração de predições sobre a base do modelo teórico e de dados empíricos, considerando técnicas de verificação disponíveis ou concebíveis.

Roteiro de prova de hipótese

  • Plano da prova - Planejamento dos meios para pôr à prova as predições; plano de observações, medições, experimentos, e demais operações instrumentais.
  • Execução da prova - Realização das operações e coleta de dados.
  • Elaboração dos dados - Classificação, análise, avaliação, redução, etc.
  • Inferência da conclusão - Interpretação dos dados elaborados à luz do modelo teórico.

Roteiro de introdução de conclusões em teorias

  • Comparação das conclusões com as predições - Confronto dos resultados da prova com as conseqüências do modelo teórico, precisando em que medida pode ele ser confirmado ou rejeitado (inferência provável).
  • Reajuste do modelo - Eventual correção, ou mesmo substituição do modelo adotado.
  • Sugestões acerca de trabalho ulterior - Busca de lacunas ou erros na teoria ou nos procedimentos empíricos, se o modelo for rejeitado; exame de possíveis extensões e conseqüências em outros campos do conhecimento, se o modelo for confirmado.

Modelos, teorias e deduções

Uma vez conceituada a ciência e o método científico, feitas as observações sobre as técnicas de observação e de raciocínio, e apreciada a aplicação do método científico, aí incluída a formulação de modelos teóricos, voltamos ao Campo dos modelos, teorias e deduções considerado inicialmente.

Foram vistos, no roteiro apresentado para a aplicação do método científico, os passos a serem dados para a construção do modelo teórico que deverá representar a realidade que está sendo objeto de estudo. Foi visto, também, que um modelo (uma teoria, ou deduções tiradas do modelo ou teoria) deve ser submetido à prova, para sua convalidação. Pode decorrer bastante tempo entre a formulação de um modelo ou teoria e a sua rejeição por não poder explicar novos fatos descobertos, ou por ter feito predições que não foram comprovadas. Assim, teorias que hoje são aceitas como "científicas", amanhã poderão ser descartadas pela própria comunidade científica, por não resistirem à prova de suas hipóteses. É este, aliás, o mecanismo de "evolução" da própria ciência, como alguns filósofos da ciência têm destacado em suas obras. Poderia, a propósito, ser citado Thomas Kuhn, que, em seu livro já citado A estrutura das revoluções científicas, destaca a história da mudança dos "paradigmas" científicos, como por exemplo as Teorias do glogístico, do calórico, do éter, e outras, no campo da física e da química.

Considerando os vários campos do conhecimento humano, e tentando delimitá-los, pode-se verificar que o Campo dos modelos, teorias e deduções engloba os dois campos correspondentes à observação do objeto em estudo, ou seja, o campo da observação direta, e o da observação mediante instrumentação, e estende-se para além dos seus limites. Dentro dos limites daqueles dois primeiros campos citados, evidentemente os modelos, teorias e deduções terão maior possibilidade de sucesso para descrever a realidade, pois estarão baseados em evidências palpáveis. Fora dos limites, entretanto, acaba sendo pequena a possibilidade de sucesso, pois acaba-se ficando na dependência de técnicas de raciocínio que deverão substituir as evidências inexistentes. Substituir a observação pelo raciocínio, pura e simplesmente, poderá acarretar um considerável distanciamento da realidade!

O evolucionismo e o criacionismo à luz do método científico

Feitas as observações acima, pode-se passar à consideração do evolucionismo e do criacionismo perante o método científico. Fica claro, então, que o criacionismo não tem, e nem alega ter, embasamento no método científico, pois não tem como ser submetido à prova de hipótese. Ele se baseia, na realidade, em conceitos básicos que são aceitos como verdadeiros pela fé em uma revelação. No caso do criacionismo bíblico, na revelação dada através dos relatos de várias naturezas que se encontram expressos direta ou indiretamente na Bíblia. Por outro lado, muito embora o evolucionismo alegue ter embasamento científico, também não tem como ser submetido à prova de hipótese, pois ele se baseia em conceitos que são admitidos como verdadeiros tão somente por um ato de fé, e que não têm como ser demonstrados por constituírem um modelo teórico que faz suposições impossíveis de serem comprovadas.

Como exemplo de hipóteses incomprováveis, pode-se mencionar a origem de uma primeira célula viva, ou a transformação das espécies no nível de macroevolução. Desta forma, doutrinas como o Evolucionismo, tal qual ele é apresentado na maior parte das vezes, e também o Criacionismo, não podem ser adjetivadas como "científicas", por localizarem-se no Campo das Conjecturas. De fato, os acontecimentos aos quais ambas as doutrinas se referem situam-se numa faixa de tempo inacessível a qualquer técnica de observação experimental, ou de procedimento racional, dentro dos parâmetros do método científico. Ambas as "doutrinas" constituem, na realidade, "estruturas conceituais" no sentido introduzido pelo filósofo da ciência Karl Popper, ou seja, posições filosóficas assumidas a priori, para a aplicação do método científico com vistas à compreensão dos objetos que nos circundam. Esta aplicação, mesmo que bem sucedida, dentro das suas possibilidades, jamais convalidará "cientificamente" qualquer das duas doutrinas.

Sem poder descer a maiores detalhes neste artigo, pela escassez de espaço, não se pode deixar de ressaltar, entretanto, que foram assinalados no decorrer do texto propositadamente vinte-e-dois destaques específicos que mereceriam considerações especiais para esclarecer como o evolucionismo, em particular, não tem condições de ser enquadrado nos critérios que caracterizam a aplicação do método científico para a organização de um conjunto organizado de conhecimentos que poderiam ser obtidos mediante a observação e a experiência dos fatos. Isto é, talvez contrariando a crença estabelecida aceita pela maioria (silenciosa?) dos que desenvolvem atividades científicas, decididamente o evolucionismo não preenche os requisitos para ser considerado como ciência. Ele é apenas uma estrutura conceitual!

Conclusão

A partir das considerações apresentadas, conclui-se que, na realidade, evolucionismo e criacionismo constituem duas maneiras distintas, e extremas, de aceitar uma explicação para a existência da vida, da nossa existência, a existência de nosso planeta e do nosso sistema solar, e a própria existência do Universo, explicação esta que transcende as potencialidades da ciência e do método científico, podendo ser aceita somente por um ato de fé - seja fé criacionista, seja fé evolucionista!

Ruy Carlos de Camargo Vieira é presidente da Sociedade Criacionista Brasileira e este artigo representa a posição da mesma.

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Atualizado em 10/07/2004

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