Reportagens






Editorial:
Os Ciclos da Vida
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Aquecimento Global
Isaac Epstein
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André Santos Pereira
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Gilberto Jannuzzi
As mudanças climáticas globais e seus efeitos nos ecossistemas brasileiros
Enéas Salati, Ângelo dos Santos e Carlos Nobre
A Mata Atlântica e o aquecimento global
Carlos Joly
O Aquecimento Global e a Agricultura
Hilton Pinto, Eduardo Assad, Jurandir Zullo Jr e Orivaldo Brunini
O papel do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
Fábio Feldmann
Poema:
Paradoxo
Carlos Vogt
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  Mudanças Climáticas

Efeito estufa desequilibra a vida no planeta


Desde que surgiu a polêmica sobre o efeito estufa, vários foram os estudos desenvolvidos para que os cientistas tentassem compreendê-lo. Para a comunidade ciencífica, não há mais dúvidas de que os riscos são reais e que as predições do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que assessora a ONU nesse tema, são sólidas. A seriedade dos relatórios do IPCC, escritos com o consenso de centenas de cientistas da maior parte dos países do mundo e lançados a cada cinco anos, é ressaltada por diversos pesquisadores.

Há várias linhas de pesquisa sobre o efeito estufa. De acordo com o pesquisador do Departamento de Física da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Hamilton Pavão, "o efeito estufa é um problema real, que gera controvérsias". Segundo ele, algumas apontam para o aquecimento global como um fenômeno natural. No entanto, os relatórios do IPCC sugerem a influência da ação humana em relação ao aumento do efeito.

O professor do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Klink, acredita que a presença do homem contribui para a mudança do clima global. Segundo ele, a concentração de gases provocada pelo efeito estufa leva ao aquecimento da Terra e a cada dia mais cientistas se preocupam em avaliar os estoques, sumidouros e o ciclo do carbono no planeta, a partir do estudo dos ecossistemas. "Como resultado desses inúmeros estudos, estamos chegando à conclusão de que as concentrações de gases (como o CO2) e a temperatura global nunca atingiram os níveis atuais, mesmo quando se 'olha' para os últimos 150 mil anos ou mais", afirma.

Na opinião de Pavão, da UFMS, a Terra passou por grandes variações naturais de temperatura, portanto, o aquecimento global pode ser resultado de transformações características da própria evolução do planeta. Mas é certo que a ação humana contribui para potencializar tais mudanças. "Os dados mostram um aumento na concentração atmosférica dos gases que contribuem para o efeito estufa e, conseqüentemente, uma maior absorção da radiação infravermelha na toposfera, o que provoca um aumento na temperatura da Terra", esclarece.

O coordenador de Ensino, Documentação e Programas Especiais do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), Volker Kirchoff, destaca que as pesquisas sobre o efeito estufa têm qualidade. Porém, ele acha que assim como há pessoas sérias, há quem se aproveite dessa situação em benefício próprio. "Mais divulgação, mais preocupação pelo assunto significa mais verbas para a própria pesquisa. Daí, alguns exageram", avalia. Para ele, o problema do efeito estufa ainda é "polêmica de cientista" e falta muito a ser feito para resolver a questão. "Infelizmente, não temos feito muita coisa. Basta olhar os resultados da ECO-92", ressalta.

Mas, assim mesmo, têm surgido alguns trabalhos de referência na avaliação do efeito estufa. Entre eles o Experimento em Grande Escala da Biosfera - Atmosfera na Amazônia (LBA), o Programa das Américas para Estudos das Mudanças Climáticas Globais no Continente Americano (IAI), sediado em São José dos Campos e o IHDP, Instituto que estuda como as mudanças climáticas alteram a vida do homem.

A experiência com educação e treinamento de cientistas e outros que vão lidar com a tomada de decisões sobre o meio ambiente fez com que Carlos Klink, da UnB, coordenasse o curso anual sobre mudanças climáticas do Instituto Nacional de Educação do Brasil, do qual participam executivos, educadores, profissionais da comunicação, estudantes e quem mais se interessar. O curso tem como objetivo orientar os formadores de opinião pública. Ele explica que, na mesma linha, há também o trabalho de disseminação de informações do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) que, com outros institutos de pesquisa fundaram o Observatório do Clima e o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Aquecimento global
A entrada da radiação solar tem de ser equilibrada por uma saída de calor enviada pela Terra.

Quando atinge superfície a superfície da Terra a radiação transforma-se em calor e é, em parte, retornada para o espaço quando, devido à existência dos gases de efeito estufa, fica aprisionada na Terra. Desse modo, a atmosfera atua como uma cobertura ou como o vidro de uma estufa, daí o nome efeito estufa.

O efeito estufa é um processo natural que ocorre porque o acúmulo de gases, que formam uma barreira que impede o calor do Sol de sair da atmosfera. Esse fenômeno é o que mantém o planeta aquecido e possibilita a vida na Terra. Entretanto, quando a concentração desses gases é excessiva, mais calor fica retido na atmosfera.

Ao longo do século XX, a temperatura global aumentou em torno de 0,6ºC. A década de 90 foi considerada a mais morna e o ano de 1998 o mais quente desde que se iniciou, em 1861, o registro instrumental da temperatura. A previsão é que a temperatura global aumente em média 3º C até o final do século XXI. Com um aumento nos pólos da ordem de 7º C e inferior a 3º C na região tropical.

O IPCC publicou, em julho de 2001, três volumes de relatórios sobre as mudanças climáticas. O primeiro volume Mudança do Clima 2001: a base científica aponta que a concentração do CO2 na atmosfera está em seu nível mais elevado em 400 mil anos.

A partir da Revolução Industrial, o nível de CO2 - um dos gases principais do efeito estufa - aumentou 31%. Sendo o CO2 é um gás que absorve radiação infravermelha, com o aumento de sua concentração a temperatura tende a subir. O CO2 aumentou em concentração de 280 ppm (partes por milhão), em 1850, a 365 ppm, em 2000. As projeções indicam concentração da ordem de 700 ppm no fim deste século.

O segundo volume do relatório do IPCC (Mudança do Clima 2001: impactos, adaptação e vulnerabilidade) avalia como os sistemas naturais e humanos são sensíveis à mudança do clima. Algumas conseqüências das mudanças climáticas são ressaltadas no relatório, tais como freqüência de seca ou de inundação em algumas áreas; desaparecimento de algumas espécies de animais e aumento no nível do mar.

A saúde humana poderá também ser posta em risco. É previsível um aumento de doenças como malária e cólera. Sociedades mais pobres e menos desenvolvidas seriam as mais vulneráveis a tais problemas. A habilidade das pessoas em adaptar-se às mudanças climáticas depende de fatores como riqueza, tecnologia, infra-estrutura e acesso aos recursos naturais. Além disso, as sociedades mais pobres do mundo dependem mais de recursos como hídricos e agrícolas, justamente os sistemas que mais deverão sofrer os efeitos da mudança do clima.

O que pode ser feito para impedir uma mudança do clima? O terceiro volume do relatório do IPCC (Mudança do Clima 2001: mitigação) se propõe a responder essa pergunta. Nele são apresentados seis cenários diferentes para o futuro. Aqueles que conduzem às emissões reduzidas de CO2 baseiam-se no desenvolvimento sustentável. No cenário em que os combustíveis fósseis permanecem como fonte de energia predominante se prevê que as emissões CO2 no século XXI estejam entre cinco e sete vezes mais altas do que em 1990.

A questão mais relevante, hoje, do ponto de vista científico, de acordo com o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), o físico Paulo Artaxo, é descobrir e quantificar o efeito das partículas de aerossóis no clima. Parte dessas partículas resfriam a superfície, mas parte delas absorvem radiação solar e tem efeito de aquecimento. "Em particular as partículas emitidas em queimadas na Amazônia, que têm alto conteúdo de carbono grafítico, absorvem significante radiação solar, aquecendo a atmosfera e esfriando a superfície", explica.

Ciclo do carbono
Os ecossistemas terrestres (incluindo vegetação e solo) desempenham importante papel no ciclo do carbono. A vegetação retira CO2 da atmosfera através do processo da fotossíntese. O carbono retorna para a atmosfera na forma de CO2 através de processos biológicos (respiração e decomposição da matéria morta). Esse balanço entre retirada de carbono da atmosfera (fotossíntese) e retorno para atmosfera (respiração, decomposição) é desequilibrado pelo desflorestamento. As queimadas são a maior contribuição brasileira para o efeito estufa, em função da emissão de dióxido de carbono (CO2).

De acordo com Artaxo, a floresta amazônica desempenha tanto o papel de fonte de emissão de CO2 quanto de sorvedouro do mesmo. Na estação chuvosa, a floresta amazônica é um sorvedouro de carbono na ordem de 1 tonelada por hectare por ano. Porém, na estação seca, as queimadas revertem esse quadro, com grandes emissões de CO2 para a atmosfera global. "Sem dúvida, um programa mais efetivo de controle de queimadas é importante de ser implantado no Brasil", afirma o pesquisador.

Não é à toa que um dos principais estudos que está sendo realizado na Amazônia por pesquisadores do LBA é o da ciclagem do carbono. O LBA está operando 12 torres, em diferentes ecossistemas, com a finalidade de entender como funciona o ciclo do carbono na floresta amazônica. Muitos dos mecanismos ainda não são compreendidos, tais como a relação da taxa de mortalidade de árvores e o tempo de reciclagem. A taxa de mortalidade de árvores é muito alta e o tempo de reciclagem é curto comparado com florestas temperadas.

(LC e RB)

 
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Atualizado em 10/08/2002
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