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Editorial:
Álbum de retalhos
Carlos Vogt
Reportagens:
Mundo envelhecido, país envelhecido
A Política Nacional do Idoso: um Brasil para todas as idades
Velhos sofrem violência em casa e nas ruas
Envelhecimento não é causa da crise da previdência
Previdência privada é alternativa para poucos
Anciões transmitem cultura indígena
Entre a Memória e uma Vaga Lembrança

As imagens da velhice no cinema

Mídia expõe imagem negativa de idosos
Artigos:
Bases Biológicas do Envelhecimento
Maria Edwiges Hoffmann
IdadeAtiva: jornalistas e cientistas na construção coletiva do conhecimento
Graça Caldas
O Idoso na Mídia
Guita Grin Debert
Neuropsicologia, distúrbios de memória e esquecimentos benignos
Maria Parente e
Irene Taussik

O uso inadequado de medicamentos entre idosos
Suely Rozenfeld

A Produção Científica Brasileira na Área da Gerontologia
Lucila L. Goldstein
Identidade, aposentadoria e o processo de envelhecimento
Maria Corrêa Jacques
e Sergio Carlos
Poema:
Ciranda
Carlos Vogt
Jardins
Carlos Vogt
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Créditos
  Mudanças Climáticas
Identidade, aposentadoria e o processo de envelhecimento

Maria da Graça Corrêa Jacques
Sergio Antonio Carlos

A questão do envelhecimento vem ganhando representatividade visto o prolongamento da expectativa de vida da população e conseqüente crescimento do número de idosos em todo o mundo. O limite cronológico proposto pela ONU, em 1982, para início da chamada terceira idade, tomou por base a média de idade da aposentadoria estabelecida na maioria dos países. Tal limite proposto induz à associação corrente entre velhice e aposentadoria, que embora na prática nem sempre se confudam. Enquanto associadas remetem a uma representação coletiva em que o velho é percebido como não mais produtor de bens e serviços e, portanto, marginalizado nos contextos sociais pautados pelo valor produtivo.

A importância e a exaltação máximas conferidas ao trabalho nas sociedades contemporâneas concedem ao papel de trabalhador um lugar de destaque entre os papéis sociais representativos do eu. Hana Arendt , referindo-se a importância do homo faber no mundo contemporâneo, assinala que ao tentar dizer quem é, a própria linguagem induz a dizer o que alguém é, reservando um lugar de destaque ao papel de trabalhador e lhe conferindo valor social.
Da importância conferida à identidade de trabalhador emergem questões referentes à aposentadoria pois, na língua portuguesa, o vocábulo aposentadoria remete, etimologicamente, à noção de recolhimento ao interior da habitação, dos aposentos. No entanto, nem sempre a aposentadoria representa um rompimento com o mundo do trabalho pois, no Brasil, pressões econômicas, sociais e culturais concorrem para a permanência no mercado, implicando ou não em alterações no local de trabalho, no tipo de atividade, no ritmo e na jornada.

O que se constata é a ocorrência de uma "dupla aposentadoria" no plano subjetivo: a primeira legal, por tempo de serviço e a segunda, nem sempre com reconhecimento oficial, mas determinada, em geral, pelos limites impostos pelo corpo (doença e/ou idade) e pelo processo de exclusão do mundo do trabalho. A aposentadoria burocrática e formal muitas vezes se configura como um espaço de preparação subjetivo para o afastamento futuro, com valor simbólico, pois coloca para o trabalhador a possibilidade real de um mundo do não trabalho.
Essa preparação consiste em uma reorganização da vida familiar, novas relações afetivas, novos espaços de convívio e de relacionamento fora do mundo do trabalho, novas rotinas e até a diminuição gradativa da jornada laboral. Surgem os trabalhos alternativos, os hobbies, as experiências em artes e ofícios que implicam em autonomia com relação à organização do trabalho. A aposentadoria ganha, concretamente o significado de ausência do trabalho a medida que aumenta a idade cronológica e quando o fator doença se apresenta associado.

No entanto, o vínculo simbólico com o trabalho permanece através da identidade de trabalhador que se mantém como referência identitária pois não se rompem os modelos de identificação preservados pela memória e expressos pelo sufixo "ex" quando da identificação para dizer quem é, o que faz.

Todas essas considerações ensejam para um novo olhar sobre o envelhecimento com base em estudos e pesquisas de caráter interdisciplinar e na proposição de políticas públicas voltadas a essa população.

Maria da Graça Corrêa Jacques é Professora do Mestrado em Psicologia Social e Institucional da UFRGS.
Sergio Antonio Carlos é Professor do Instituto de Psicologia da UFRGS.

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem um Núcleo de Estudos Interdisciplinares do Envelhecimento que publica a revista Estudos interdisciplinares sobre o envelhecimento. Vide: http://www.ufrgs.br/3idade.

 
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Atualizado em 10/09/2002
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