Reportagens






Editorial:
Álbum de retalhos
Carlos Vogt
Reportagens:
Mundo envelhecido, país envelhecido
A Política Nacional do Idoso: um Brasil para todas as idades
Velhos sofrem violência em casa e nas ruas
Envelhecimento não é causa da crise da previdência
Previdência privada é alternativa para poucos
Anciões transmitem cultura indígena
Entre a Memória e uma Vaga Lembrança

As imagens da velhice no cinema

Mídia expõe imagem negativa de idosos
Artigos:
Bases Biológicas do Envelhecimento
Maria Edwiges Hoffmann
IdadeAtiva: jornalistas e cientistas na construção coletiva do conhecimento
Graça Caldas
O Idoso na Mídia
Guita Grin Debert
Neuropsicologia, distúrbios de memória e esquecimentos benignos
Maria Parente e
Irene Taussik

O uso inadequado de medicamentos entre idosos
Suely Rozenfeld

A Produção Científica Brasileira na Área da Gerontologia
Lucila L. Goldstein
Identidade, aposentadoria e o processo de envelhecimento
Maria Corrêa Jacques
e Sergio Carlos
Poema:
Ciranda
Carlos Vogt
Jardins
Carlos Vogt
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Créditos
  Mudanças Climáticas
A Produção Científica Brasileira na Área da Gerontologia

Lucila L. Goldstein

O segmento mais idoso da população brasileira sofreu um rápido aumento a partir dos anos 60, quando começou a crescer em ritmo bem mais acelerado do que as populações adulta e jovem. De 1970 até hoje, o peso da população idosa sobre a população total passou de 3% para 8% e esse percentual deve dobrar nos próximos vinte anos. Devido à redução nas taxas de natalidade, da ordem de 35,5% nos últimos 15 anos, e o aumento da expectativa de vida por ocasião do nascimento, que passou de 61,7 anos em 1980, para 69 anos nos dias atuais, a base da pirâmide populacional vem se estreitando nas últimas dé cadas. E existe ainda a expectativa de uma intensificação desse processo de envelhecimento populacional. Estima-se que a partir de meados do próximo século, a população brasileira com mais de 60 anos será maior que a de crianças e adolescentes com 14 anos ou menos.

Essa temática provocou uma preocupação generalizada em diversos segmentos profissionais e fez com que, nos últimos anos, proliferassem no Brasil os programas e associações destinados aos idosos, como o movimento dos aposentados, os movimentos assistenciais e os sócio-culturais. Em razão dessa visibilidade alcançada pelos idosos nos últimos anos, e graças aos esforços de organização dos profissionais dedicados à essa área de atuação, através de núcleos de estudo e pesquisa, os estudos teóricos e empíricos na área do envelhecimento começaram a florescer no Brasil.

Como nota Witter (1999), quanto mais rápido e diversificado o desenvolvimento de uma área, maior a necessidade de pesquisas de avaliação. Oliveira (1999) salienta a importância da realização de pesquisas de metaciência, que permitem analisar e avaliar a qualidade e efetividade do conhecimento produzido em uma determinada área, bem como suas necessidades e déficits. O próprio progresso científico se relaciona ou depende de avaliações sistemáticas da produção e do trabalho dos pesquisadores, o que garante o aperfeiçoamento constante não só do conhecimento, como também do próprio ensino (Galembeck, 1990).

A Gerontologia, por ser uma área recente e de rápido crescimento, tem uma grande necessidade de avaliar e direcionar sua produção e, por seu caráter multidisciplinar, tem especial dificuldade de aglutinar seu conhecimento. A falta de articulação entre os diferentes programas e bibliotecas mantém a produção acadêmica na obscuridade e, desta forma, o aproveitamento do conhecimento fica minimizado. A avaliação da produção científica dessa nova área do conhecimento permitirá não só caracterizar seu estágio de desenvolvimento, aquilatar o nível de conhecimento disponível e apontar lacunas e necessidades, mas também identificar sua relevância no sentido de atender às necessidades e problemas da realidade e da sociedade.
Em 1997, Anita Neri realizou uma análise de 36 relatos de pesquisa constantes de teses e dissertações defendidas em programas de pós graduação em psicologia entre os anos de 1975 e 1996, nas Universidade de São Paulo, Universidade Estadual de Campinas e Pontifícias Universidades Católicas de São Paulo e de Campinas. Nesse trabalho, a autora localizou nos acervos dessas universidades 60 trabalhos sobre velhice, em outras áreas do conhecimento como: enfermagem, saúde pública, fonoaudiologia, sociologia, antropologia, jornalismo, comunicações e propaganda, e que não foram usados em sua análise.

Em um levantamento das teses e dissertações sobre velhice e envelhecimento (Goldstein, 1999) foram encontradas 232 trabalhos em áreas diversas do conhecimento, sem incluir os trabalhos da área médica, com enfoque geriátrico. Nesse levantamento pode-se notar que a produção científica durante o período de 1995 a 1999 foi praticamente o dobro da realizada entre os anos de 1975 a 1994, o que demonstra o rápido crescimento da área. Nota-se também, que a diversidade das áreas do conhecimento que vêm se interessando pela pesquisa gerontológica tem crescido muito nos últimos anos. Os primeiros estudos foram nas áreas da Psicologia, Sociologia, Serviço social e Enfermagem. Mais tarde aparecem os trabalhos em Educação e Educação Física. Depois de 1989 surgem trabalhos em Fonoaudiologia, Comunicação e Direito. Nos últimos anos esse leque se abre ainda mais e encontra-se trabalhos nas áreas de Administração de Empresas, Farmácia, Engenharia de Produção, Linguística Aplicada e História.

De lá para cá, consolidaram-se as associações de profissionais que atendem à população idosa, bem como os cursos de pós-graduação em Gerontologia, o que trouxe um avanço ainda maior na á rea de pesquisa.

O momento parece então ser bastante adequado para se fazer uma atualização do levantamento do trabalho científico produzido na área da Gerontologia até os dias atuais e para que se analise com maior cuidado a direção ou direções em que se encaminha a pesquisa gerontológica no Brasil. Nesse trabalho optou-se por utilizar dissertações e teses porque essa literatura lidera a produção científica não apenas pela pressuposição de que traz contribuições inovadoras, como também porque espera-se que elas sejam o alicerce para publicação de comunicações em congressos, artigos e mesmo livros (Witter e Pécora, 1997).

Objetivos

  • Levantamento das teses de doutorado e dissertações de mestrado que focalizam o envelhecimento e a velhice dentro do enfoque gerontológico, nas diversas áreas do conhecimento, realizadas por pesquisadores brasileiros, de 1975 até os dias atuais.
  • Análise dessas pesquisas enfocando: tema central da pesquisa, tipo de estudo realizado.

Método

Material
O acervo documental pesquisado foi o conjunto de dissertações de mestrado, teses de doutorado e de livre docência defendidas entre os anos de 1975 a 2002, nas principais universidades brasileiras.

Procedimento
As dissertações e teses foram localizadas na base de dados do IBICT. Foram contatadas também, as bibliotecas da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidade de São Paulo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram usadas as seguintes palavras chaves: envelhecimento, velhice, idosos, velhos, terceira idade e aposentadoria.

Resultados
Foram localizados 511 trabalhos realizados por pesquisadores brasileiros: 431 dissertações de mestrado, 75 teses de doutorado, e 5 teses de livre docência, sendo que 4 teses de doutorado e duas dissertações de mestrado foram realizadas por pesquisadores brasileiros em Universidades do exterior e as outras em Universidades brasileiras.

Entre 1975 e 1979, foram publicados 9 trabalhos: 7 dissertações, 1 tese de doutorado e 2 de livre docência. Entre 80 e 84 foram publicadas 11 dissertações de mestrado e uma tese de livre docência. De 85 a 89, 26 dissertações, 4 teses de doutorado e 1 de livre docência. De 90 a 94 houve um aumento substantivo no número de trabalhos: 57 dissertações e 15 teses de doutorado, e de 95 até 98 pudemos encontrar 56 dissertaçõ es, 16 teses de doutorado e uma de livre docência. De 98 até hoje a produção científica na área mais do que dobrou. Foram encontrados 279 trabalhos, sendo 243 dissertações de mestrado e 36 teses de doutorado.

Quanto à área do conhecimento - Os estudos do envelhecimento no Brasil começaram nas áreas da psicologia, sociologia, serviço social e enfermagem. Dez anos depois começam a surgir trabalhos nas áreas de Educação e Educação Física. Em 89 aparecem trabalhos nas áreas de Fonoaudiologia, Comunicações e Direito e, em 94, na área de Administração. Nesses últimos anos o leque se abre ainda mais e encontram-se trabalhos nas áreas de Farmácia, Engenharia de Produção, Linguística Aplicada, História e Turismo.

Tendências gerais da pesquisa sobre velhice que puderam ser identificadas
Embora tenham surgido nos últimos anos grupos de estudo com linhas de pesquisa sistemática, esse fenômeno é muito recente para que se possa identificar, no conjunto, grupos de trabalho que sigam a mesma linha de pesquisa ou que façam parte de um estudo maior. É possível notar, no entanto, agrupamentos de pesquisa que seguem a mesma abordagem embora sejam esforços individuais, sem que façam parte de projetos integrados.

Nota-se que alguns temas que estão sendo estudados desde 75 continuam interessando os pesquisadores, como o idoso institucionalizado, aposentados e aposentadoria, mulheres e identidade feminina, o idoso hospitalizado, memórias e reminiscências, corpo e imagem corporal, atitudes em relação à velhice, morte, luto e viuvez, relacionamentos familiares e sociais. Entre os temas que surgiram de 1990 para cá destacam-se: relação cuidado e cuidador, demências em geral e Alzheimer, cognição e memória, stress, opções de lazer, desejos e preferências de consumidores idosos, metas e sentido de vida. Encontram-se também trabalhos que tratam da assistência farmacêutica ao idoso, do idoso dentro de uma empresa, que fazem considerações sobre ergonomia e terceira idade, e que se preocupam com o ensino de línguas estrangeiras para idosos e sobre turismo para o idoso. Isso parece demonstrar o início de uma abertura na visão de velho até há pouco predominante. A noção de que a velhice é uma experiência heterogênea parece estar se divulgando.

Não foram encontrados trabalhos experimentais; as pesquisas são todas de natureza descritiva, na maioria estudos de caso, analisando situações generalizadas ou particulares, trabalhos de avaliação, planejamento ou proposta de intervenção, estudos clínicos e alguns trabalhos comparativos, sendo mais comum a comparação entre grupos de diferentes faixas etárias, mas encontra-se também a comparação entre idosos asilados e não asilados, antes e depois da aposentadoria, entre auto-avaliação versus avaliação médica. Há trabalhos envolvendo análise de documentos como textos de livros infantis, de revistas, jornais, ou o uso de fotos e redações como material deflagrador de depoimentos orais. Não foram encontrados pesquisas longitudinais e nem seguimentos de trabalhos realizados anteriormente.

Resumo dos resultados
Verificou-se um acentuado crescimento na produção científica sobre velhice, a partir de 1990, o que coincide com a grande expansão das universidades de terceira idade e também com a formação de grupos de pesquisa. Outro salto quantitativo, em 1999, coincide com a criação dos cursos de pós-graduação em Gerontologia.

Nota-se também que o interesse pelo assunto passa a abranger diferentes domínios disciplinares, revelando diferentes faces da velhice. Concomitante a isso verifica-se uma expansão nos temas abordados e talvez uma sutil mudança de direção.

Outro dado interessante é a participação de diversas instituições de ensino do País no esforço de aumentar o conhecimento da área, embora disciplinas que enfoquem o envelhecimento sejam raras nos cursos de graduação.

Conclusões
Pode-se notar, em primeiro lugar, dos saltos quantitativos na produção científica sobre velhice, um a partir de 1990, o que coincide com a grande expansão das universidades de terceira idade e também com a formação de grupos de pesquisa e outro com a criação de cursos de Pós graduação em Gerontologia.

Verifica-se que, aos poucos, a pesquisa sobre velhice vai abrangendo várias áreas do conhecimento e diferentes campos de interesse. Nota-se também que o interesse pelo assunto passa a abranger diferentes domínios disciplinares, revelando diferentes faces da velhice. Concomitante a isso verificou-se uma expansão nos temas abordados e talvez uma sutil mudança de direção. Isso deverá ser observado com maior objetividade e precisão na continuidade desse trabalho

Outro dado interessante é a participação de diversas instituições de ensino do país no esforço de aumentar o conhecimento da área, embora ainda sejam raras disciplinas que enfoquem o envelhecimento nos cursos de graduação.

Embora não fosse parte dos objetivos desse trabalho, acabou sendo feita também uma verificação da facilidade e rapidez de acesso à informação científica do Brasil. Nota-se que o sistema de rastreamento da informação ainda é carente. Não existe uma unificação das palavras chave usadas na área, assim como não existe um local específico que abrigue sua produção. O aumento da produção científica na gerontologia mais que justifica a adoção de medidas para agilizar sua divulgação em uma velocidade compatível com os meios que já dispomos. Para a construção do conhecimento científico não basta incentivar a produção. É imprescindível torná-la rapidamente acessível a todos os pesquisadores.

Bibliografia
_ Galembeck, F.(1990). Sem avaliação, sem progresso. Ciência e Cultura, 19(9), p 627-628.
_ Goldstein, L.L. (1999). A Pesquisa sobre Velhice, trabalho apresentado no I Congresso de Geriatria e Gerontologia do Mercosul, em Foz do Iguaçu -PR
_ Neri, A.L. (1997), A pesquisa em gerontologia no Brasil. Análise de conteúdos de amostra de pesquisa no peíodo de 1975-1996. Texto e Contexto, v.6, n.2, p69-105.
_ Oliveira, M.H.M.A (1999). Avaliação da Produção científica. In G.P.Witter (org) Produção científica em Psicologia e Educação.Campinas, SP: Editora Alínea.
_ Witter G.P. (org), Produção científica, Campinas, SP: Editora Átomo.
_ Witter, G.P & Pécora, G.M.M. (1997), Temática das dissertações e teses em Biblioteconomia e Ciência da Informação no Brasil (1970-1992). In G.P. Witter (org), Produção científica, Campinas,SP: Editora Átomo

 
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Atualizado em 10/09/2002
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