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Anúncio de genoma deve trazer nova era na pesquisa científica
Ulisses Capozoli

Junho de 2000, tanto quanto julho de 1969, certamente será uma data de referência aos futuros historiadores da ciência.

Em 19 de julho de 1969, dois astronautas desceram na Lua. Em 26 de junho passado, quando o Programa Genoma Humano e a empresa privada norte-americana Celera anunciaram a conclusão do mapeamento do genoma humano, as comparações foram inevitáveis.

Críticos apressados avaliam que a conquista da Lua não mudou quase nada no mundo e, desde 1972, não pusemos mais os pés lá em cima. Além de apressada, a idéia é equivocada. Subprodutos da exploração espacial, como os computadores, mudaram para sempre hábitos e costumes.

Versões otimistas apontam a cura para pelo menos 3 mil doenças de natureza genética com a conclusão do conhecimento genômico. Um paralelo adicional com a Lua é que, mesmo com viagens tripuladas, 30 anos depois não está bem resolvido sequer o enigma de sua origem.

A manchete do suplemento de ciência do New York Times, jornal que noticiou todos os acontecimentos significativos em ciência deste século, sintetizou a situação: "Now, the hard part: Putting the Genome to Work" ("Agora, o trabalho duro: por o Genoma para Funcionar").

Mesmo com data marcada para ser anunciada, a conclusão do mapeamento do genoma provocou comoção. Prova disso é que ocupou a principal manchete dos jornais em muitos países. Em Buenos Aires, apenas dois dias após o anúncio, a câmara local votou lei proibindo discriminação com base genética.

Como sabe todo leitor, noticiário científico quase sempre aparece em chamadas de primeira página, em jornais e revistas. Mas ocupar a manchete principal é, contraditoriamente, um episódio raro.

O que estaria por trás desse comportamento? A se julgar pelo resumo de opiniões colhidas em todo o mundo pelas agências noticiosas a resposta é o temor de se estar adquirindo a habilidade de manipular a vida. Sem o suporte ético (ou estético) para esse empreendimento.

Não é uma questão nova. O mito de Prometeu é a maior evidência de que essas preocupações estavam presentes da mitologia, a primeira organização da Natureza feita pela mente humana e a base de toda ciência.

Francis Collins, diretor do Projeto Genoma, acena com a possibilidade de se atingir, ainda na primeira metade do século que se inicia, expectativa de vida em torno de 90 anos. É quase três vezes mais que o tempo médio de vida na Europa da alta Idade Média, às vésperas da eclosão da Revolução Científica.

A geneticista Glaci Zancan, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), prevê uma profunda mudança de cultura apenas com o que deverá ser a primeira aplicação desse conhecimento: os diagnósticos precoces. Como os pais de uma criança vão se comportar ao serem informados de que ela é portadora potencial de uma doença grave? Médicos com formação precária em genética também deverão voltar para a escola, se quiserem se manter atualizados.

Eugenia e clonagem humana são outras duas preocupações manifestadas em relação ao conhecimento do genoma. A professora Zancan acredita que, ao menos em relação à clonagem, as maiores promessas são oferecidas por uma outra área, as chamadas células troncos.

As células troncos foram descobertas em 1998, quando o Projeto Genoma Humano já estava em curso. Elas devem permitir, talvez ao longo da próxima década, a criação de tecidos e órgãos inteiros em laboratório.

Desde Prometeu, passando pela narrativa bíblica da expulsão do Paraíso, o conhecimento fascina e aterroriza os homens. Mas talvez o maior medo deste final de milênio é que a ganância econômica, por trás do interesse em patentear os genes, reduza a vida a mais um item de mercado e com eles construa, uma "biomáquina" de fazer dinheiro.

Leia mais sobre bioética no artigo do cientista William Saad Hossne.

   
         
     
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Atualizado em 06/07/00

   
     

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