Conexão Brasil-Estados Unidos
   
 
Poema
Seminário discute movimentos migratórios
Giralda Seyferth:
imigração no Brasil
Lená Medeiros:
perspectiva histórica
Memorial do Imigrante
Fábio Bertonha: Migrações internacionais e política
Antônio A. Arantes: paisagens paulistanas
Marcílio Sant'ana: circulação de trabalhadores no Mercosul
Rosana Baeninger: Brasil e América Latina
Brasiguaios
Africanos no Brasil
Carlos Vogt & Peter Fry: Cafundó
Ana Paula Poll: novas facetas de uma migração recente
O novo império português
Conexão Brasil-EUA
Americanos no Brasil
Valéria Scudeler: valadarenses nos EUA
Giralda Seyferth: alemães no Brasil
Migração japonesa e o fenômeno dekassegui
Os judeus sefaradi
Ulisses Capozoli: migrações pelo oceano cósmico
 
"Venham a mim os exaustos, os pobres, as massas confusas ansiando por respirar liberdade" (Poema de Emma Lazarus gravado na base da Estátua da Liberdade.)

A Estátua da Liberdade em Nova Iorque, foi e continua sendo para muitos imigrantes, o símbolo de uma terra de oportunidades. Entre 1892 à 1954, cerca de 17 milhões de pessoas chegaram aos Estados Unidos por Ellis Island (NI), o centro de recepção de imigrantes da época (hoje Museu do Imigrante de Nova Iorque) e apreciaram sua imagem.

Dados do Ministério das Relações Exteriores de 1996 mostram que 38% dos brasileiros que emigram foram para os Estados Unidos, 30% para o Paraguai, 13% para o Japão e 11% para a Europa. O primeiro boom de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos foi registrado nos anos 80. Atualmente, o número total de brasileiros vivendo lá é difícil de ser calculado, já que a maioria deles é clandestina, porém o Ministério das Realações Exteriores (1996) estima que seja em torno de 1% da população brasileira (aproximadamente1,6 milhões). Os imigrantes são geralmente jovens, com bom nível de escolaridade, pertencente à classe média e, emigram em busca de sucesso financeiro.

A imigração brasileira ainda está na primeira geração e concentra-se principalmente nas cidades de Nova Iorque (NI), Boston (MA), Miami (FL) e São Juan (CA). Muitas vezes, trabalham em sub-empregos disputados entre estrangeiros, onde não há qualquer vínculo ou direito empregatício. Não é incomum encontrar profissionais qualificados que nos Estados Unidos exerçam outra profissão. Estão em serviços de restaurantes e bares, faxina, baby-sitter, engraxate, salões de beleza e muitos outros que não requerem grande experiência.

Chegam aos E. U. A. com visto de turista e lá se encarregam de renová-lo ou mesmo passam a viver ilegalmente. Estima-se que a primeira emigração maciça tenha ocorrido, principalmente, a partir de 1984 em decorrência de fatores econômicos como inflação alta e a incerteza do futuro, especialmente para a classe média.

Brasileiros que ganham em dólar aproveitam para enviar dinheiro para seus familiares, escapando do Imposto de renda. Segundo dados do artigo "Estar aqui..., estar lá...", contido no livro Cenas de um Brasil Migrante, o salário pode variar de 150 à 500 dólares por semana, trabalhando em média 50 horas semanais.

Esses imigrantes formam uma comunidade que tem acesso a muitos produtos típicos do Brasil como requeijão, suco de caju, pão de queijo, feijão, farofa, revistas, jornais e até lingeries. Nem as novelas ou o Fantástico ficam fora do alcance deles. Fitas de vídeo podem ser alugadas por 3 dólares por uma empresa brasileira em NY que faz a distribuição nos Estados Unidos e no Canadá. Restaurantes, churrascarias, bares e boates brasileiras não são difíceis de encontrar. Estes espaços formam pontos de encontro entre os imigrantes e exercem papel fundamental para a manutenção da identidade nacionais e regionais, como observa o antropólogo Gustavo Lins Ribeiro da Universidade de Brasília. O pesquisador trabalhou com a comunidade brasileira que vive em São Francisco em 1996. Segundo ele, imigrante brasileiro que mantém seus laços com o país torna sua estada menos difícil.

De acordo com pesquisa divulgada pela socióloga Teresa Sales, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), existem inúmeros jornais brasileiros nos EUA. O Brazilian Times de Boston, por exemplo, foi fundado em 1988, é o mais antigo e sua tiragem era de 25 mil exemplares em 1999. Outros jornais como o Diário do Brasil, Diário do Rio Doce, States News e o Brazilian Voice, trazem notícias do Brasil, classificados, seção social com brasileiros bem-sucedidos, notícias de eventos da comunidade e, geralmente, são gratuitos.

Em Nova Iorque, existe até uma rua chamada de Little Brazil (46th St.) bem próxima da famosa Times Square, onde anualmente é realizada a Festa dos Brasileiros em comemoração do Dia da Independência. Nesta festa, que também acontece em São Francisco, grupos musicais da atualidade se apresentam e barracas servem comidas e bebidas típicas, atraindo tanto brasileiros como também outras diversas nacionalidades que compõe a cidade. Muitas vezes o próprio prefeito comparece para abrir o evento.Hoje, no entanto, há notícias de que diversas lojas da 46th St. estão sendo vendidas para não brasileiros.

O caso dos valadarenses ficou conhecido no final da década de 80 e início de 90, quando cerca de 7% da população de Governador Valadares, cidade a 324 km de Belo Horizonte (MG), emigrou principalmente para Boston. Assim, uma rede de apoio foi criada tanto nos EUA para ajudar os imigrantes recém chegados, como no Brasil para enviar outros emigrantes. Como a pesquisadora Gláucia Assis conta no livro Cenas do Brasil migrante (1999) agências turísticas, casas de câmbio, despachantes e até advogados no Brasil são preparados para dar apoio para imigrantes brasileiros. Através de relatos de valadarenses coletados a pesquisadora mostra que parte do dinheiro adquirido nos Estados Unidos era investido na construção civil.

Já em São Francisco, em estudo de caso feito por Gustavo Lins Ribeiro, a comunidade formada por maioria goiana realiza anualmente o Carnaval Parade (desfile de carnaval), na mesma época do carnaval no Brasil. Em 1995, o desfile atraiu entre 200 e 500 mil pessoas e foi transmitida pela TV local. Outro evento que ocorre na cidade é a Semana do Brasil, promovida pela Universidade de Stanford e conta com filmes, música, palestras e jogos de futebol. As festas que já fazem parte do calendário oficial de eventos da cidade.

Para a socióloga Teresa Sales, em texto publicado no livro Emigração e imigração internacionais no Brasil contemporâneo, "os brasileiros que, no início dos anos 80, pensavam em ir para os EUA para juntar dinheiro e retornar para seu país com melhores condições financeiras, hoje parecem estar mais realistas quanto a sua condição de estrangeiro e já não têm mais planos de voltar".

   
           
     

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Atualizado em 10/12/2000

   
     

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