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Resenhas

Enciclopédia da Floresta
Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Barbosa de Almeida (orgs.)

Etnoconservação
Antonio Carlos Diegues (org).

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Enciclopédia da Floresta
O Alto Juruá: Práticas e Conhecimentos das Populações

Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Barbosa de Almeida (orgs.)
Editora Companhia das Letras

por Jeverson Barbieri

Lançada em junho de 2002, pela Companhia das Letras, Enciclopédia da Floresta é uma obra de extraordinário valor científico e educacional. Ao longo das 735 páginas, o leitor pode perceber como ocupação humana pode conviver harmoniosamente com diversidade biológica. O palco é a Reserva Extrativista do Alto Juruá, na zona oeste do Acre, com seus 5.062 km² de extensão territorial, habitado por seringueiros e índios das etnias Kaxinawá, Katukina e Ashaninka. Organizado pelos antropólogos Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Barbosa de Almeida, o livro tem 38 autores entre biólogos, antropólogos, geólogos, pedólogos, além de especialistas em sensoriamento remoto, que formam uma importante rede interdisciplinar de pesquisadores.

Resultado de um projeto de pesquisa iniciado em 1990, cuja idéia central era verificar se populações tradicionais seriam capazes de tomar conta de grandes áreas de conservação ambiental, a obra revela uma imensa riqueza de conhecimentos ecológicos e de história natural dos vários povos da região.

É fundamental levar em conta que, mesmo com um grande volume de informações, a obra respeita o saber de cada população do Alto Juruá, mostrando a visão de cada grupo sobre um mesmo assunto. Uma frase extraída da introdução dá o tom da obra: "o conhecimento que as populações têm da floresta que habitam é verdadeiramente enciclopédico".

Enciclopédia da Floresta está estruturada em sete partes. A primeira é a introdução, que mostra como a obra foi organizada. A segunda parte trata da região, de suas características físicas, biológicas, históricas e também de seus habitantes. A terceira parte é responsável por descrever o ciclo anual, climático, vegetal, animal e de atividades humanas, tendo como paradigma o calendário Ashaninka. A quarta parte examina as atividades principais dos habitantes da região. A quinta parte estuda os diferentes sistemas empregados pelos vários grupos humanos da região quando se trata de classificar o mundo. A sexta parte contém os dicionários de alguns grupos animais (bichos de cabelo, de pena, peixes, cobras, anfíbios, abelhas) e das plantas (para seringueiros). A sétima e última parte é responsável por descrever todos os colaboradores da obra, sejam eles acadêmicos ou não, além de fornecer um glossário sucinto e um elaborado índice remissivo.

Interessante observar que todos os capítulos possuem muitos autores. Isso se deve ao fato de que, ao pesquisar quatro grupos étnicos diferentes, o número de informações recebidas foi muito grande. A participação de moradores da região como autores de trabalho mostra uma interação bastante favorável entre comunidades e pesquisadores.

O livro é muito rico em ilustrações, sejam elas fotos da população, imagens captadas por satélites, documentos ou desenhos feitos pelos moradores da região. O Calendário Ashaninka - conjunto de desenhos feitos por Moisés Piyãko, simbolizando os eventos, naturais e culturais, que ocorrem ao longo do ano - é um exemplo de rara beleza da grande complexidade e riqueza que envolve o chamado conhecimento tradicional.

Obra autocensurada

Como forma de proteger os direitos da população do Alto Juruá, os autores decidiram por não revelar muitos dos conhecimentos até que existam mecanismos de participação dessas população nos benefícios que deles possam resultar.

Segundo os autores, diante da ausência de uma legislação adequada, os antropólogos e pesquisadores ficam numa situação complicada pois, se publicarem as informações elas ficarão no domínio público e qualquer um poderá se apropriar delas como quiser e fazer uso comercial - por exemplo de um medicamento - sem retorno para a população local. Portanto, Enciclopédia da Floresta foi autocensurada deliberadamente. Todo o material publicado teve o consentimento dos grupos envolvidos na pesquisa.


Atualizado em 10/08/02
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2002
SBPC/Labjor

Brasil