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The Skeptical Environmentalist
Bjørn Lomborg

Debunking Pseudo-Scholarship: Things a journalist should know about The Skeptical Environmentalist
World Resources Institute

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The skeptical environmentalist
Bjørn Lomborg. Cambaridge University Press, 2001.

por Roberto Belisário

Poucas obras causam tanta polêmica e tantas reações adversas quanto o livro do professor de estatística dinamarquês Bjørn Lomborg, The skeptical environmentalist - measuring the real state of the world (Cambaridge University Press, 2001). Polêmica facilmente explicável. Várias afirmações catastróficas sobre o futuro do meio ambiente são confrontadas com as pesquisas nas quais clamam fundamentar-se. O resultado da confrontação - sustentado por uma quantidade imensa de referências - é que várias delas simplesmente não resistem a uma checagem simples dessas fontes. O nível de pobreza não está aumentando e a área coberta pelas florestas não está diminuindo, desde que considerados globalmente. O mundo, adverte o autor, não está tão ruim como está sendo proclamado aos quatro ventos, ou como reza a "ladainha" (litany) ambientalista, na expressão de Lomborg.

Não se trata, entretanto, de uma simples ladainha oposta, anti-ambientalista. O objetivo do texto não é dizer que o ambiente não é importante, ou que tudo está muito bem e não precisamos fazer nada. Segundo o autor, diagnosticar com precisão a situação do mundo é um pré-requisito fundamental na definição dos problemas mais importantes e das ações mais urgentes. Um diagnóstico impreciso poderia levar a uma estratégia ineficiente de ação sobre o meio ambiente. Esta é a preocupação manifestada por Lomborg.

Tampouco trata-se do confronto do tipo os "meus" números contra os "seus". As inúmeras fontes citadas por Lomborg são as mesmas citadas por ONGs como o Greenpeace, o World Watch Institute ou o World Wide Fund for Nature. A miríade de referências usada pelo autor para sustentar suas análises - são quase 3000 notas - são, em sua maior parte, fáceis de consultar e estão disponíveis na Internet* (o que fez, entretanto, com que muitas delas não sejam trabalhos submetidos a revisão por pares antes da publicação). Os dados de Lomborg mostram que várias das afirmações ambientalistas - como uma iminente crise global de escassez de água ou o aumento do nível de pobreza mundial - simplesmente não são verdadeiras e outras podem ter interpretações alternativas ou podem ser relativizadas. Um exemplo: na página 23 da edição de 2001 do Relatório de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial, vê-se uma tabela que mostra níveis de pobreza globais diminuindo entre 1990 e 1998.

Manual de referências

A obra já foi lançada sob bombardeio, pois foi baseada em uma série de artigos no mesmo tom que Lomborg havia escrito em periódicos dinamarqueses desde 1997. Existe até um site anti-Lomborg [www.anti-lomborg.com] na Internet, contendo refutações de algumas das afirmações do livro.

O fato de que Lomborg um dia foi um ambientalista "de esquerda" (na sua própria expressão) e membro do Greenpeace torna tudo mais interessante. Após ler uma entrevista do economista Julian Simon que acusava muitas teses ambientalistas de estarem baseadas em preconceitos e em estatística mal utilizada, Lomborg sentiu-se provocado e obrigado a verificar as fontes de suas próprias teses. Foi então que, confrontando-as com os dados disponíveis, verificou uma série de imprecisões que o motivaram a escrever denunciando essa situação.

A quantidade massiva de citações faz com que o livro seja também um ótimo "manual" de referência de fontes sobre meio ambiente. Sempre que quiser checar uma afirmação vinda de qualquer lugar, o leitor pode abrir o índice remissivo do livro, ir às páginas correspondentes, verificar as fontes citadas e consultá-las. Essa característica poderia ser, entretanto, muito mais potencializada se o livro tivesse um índice remissivo bem mais detalhado. Há expressões importantes que simplesmente não aparecem, como "El Niño".

Um exemplo de informação preciosa é o desmascaramento de citações erradas que se propagam através da literatura, de citação em citação, tornando muito difícil descobrir sua origem. Por exemplo, o autor cita uma afirmação de que, "de acordo com um estudo do Banco Mundial de 1995, 30 países contendo 40% da população do mundo experimentam agora escassez crônica de água". Tal afirmação é repetida em vários lugares, mas sem citar precisamente de que trabalho se trata. Com o auxílio do Banco Mundial, sua origem foi localizada e creditada à interpretação errada de um press release desta instituição publicado em 1995.

Contestações

O termo "meio ambiente" é considerado em uma acepção ampla que inclui o bem-estar social. São cobertos temas como expectativa de vida, fome, desmatamento, escassez de energia e de água, poluição de diversos tipos, biodiversidade e aquecimento global. No primeiro capítulo, é apresentada uma espécie de metodologia de estudo usada na obra, ou a enumeração de alguns procedimentos que mais tarde serão a base das críticas de Lomborg aos exageros ambientalistas. Alguns desses procedimentos são: considerar dados que possam representar tendências de longo termo, e não variações momentâneas de parâmetros; considerar tendências globais (ou considerar grandes extensões, como "Terceiro Mundo"), e não meramente locais; avaliar o quanto é importante um dado, e não apenas apresentar sua existência.

Tal abordagem não é imune a críticas. Por exemplo, a própria filosofia do trabalho de Lomborg, de que um diagnóstico preciso da situação mundial seria condição sine qua non para podermos definir estratégias eficientes de ação, pode relativizar a exigência de tendências globais - simplesmente pelo fato de que a dispersão dos dados pode ser também considerado um parâmetro relevante nessas tendências globais. Se a pobreza em nível mundial diminuiu entre 1990 e 1998, como o relatório do Banco Mundial, o fato de haver enorme desigualdade de desenvolvimento entre os países e alguns em que a pobreza aumentou é um parâmetro relevante. Da mesma forma, se não há perigo de escassez de água considerando a quantidade total de água potável disponível no mundo, a enorme desigualdade de distribuição dessa água torna esse problema preocupante e urgente (ver reportagem na Com Ciência).

Também criticável é o uso que Lomborg usa termos como "realidade", como faz no próprio título. Muitos dos dados citados pelo autor são baseados em medidas extremamente difíceis de se obter, muitas delas imprecisas, e podem conter imprecisões grandes. Não se pode determinar o estado "real" do mundo, mas apenas fazer uma avaliação com certo grau de precisão.

Muitas outras críticas ao livro e contestações diretas a algumas de suas afirmações foram publicadas desde o seu lançamento. O leitor pode encontrar algumas delas, com respostas do autor, em seu site.


* Inevitavelmente alguns sites citados pelo autor saem do ar, mas podem ser recuperados em www.archive.org (The Internet Archive), um "back-up" da Internet com mais de 100 milhões de megabytes, onde podem ser encontrados endereços não mais disponíveis online.

 

Atualizado em 10/02/02
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