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Viagem Fantástica II
Isaac Asimov

Nano, a ciência emergente da nanotecnologia: refazendo o mundo - molécula por molécula.
Ed Regis

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Viagem Fantástica II: rumo ao cérebro.
Isaac Asimov. Ed


por Rafael Evangelista

Viagem Fantástica II é fruto da insatisfação de Isaac Asimov com o primeiro volume homônimo, de 1966. O primeiro Viagem Fantástica foi uma adaptação feita pelo já popular novelista de ficção científica escrita a partir do filme de Richard Fleischer (Fantastic Voyage). Em uma nota introdutória, Asimov explica que, ao adaptar o primeiro volume, manteve-se fiel ao enredo do filme, "mudando apenas as incoerências científicas mais insuportáveis". Neste segundo volume, publicado em 1987, Asimov se responsabiliza totalmente pelo conteúdo. "Para melhor ou para pior, este romance é meu", frisa.

A história é semelhante à contada no filme de 1966. Um grupo de cientistas é miniaturizado - chegando ao tamanho de uma molécula de glicose - e enviado, a bordo de uma nave, ao cérebro de um paciente em coma, percorrendo para isso sua corrente sanguínea. Não é uma sequência da história original. Na verdade, Asimov reconta a história de seu jeito.

O personagem central é o neurofísico Albert Morrison. Passando por um período ruim de sua carreira, em que os colegas caçoam de suas teorias sobre a existência de um região específica do cérebro responsável pelos pensamentos criativos, Morrison é sequestrado por um grupo de cientistas soviéticos. O motivo do sequestro são justamente as teorias de Morrison. Desacreditado no ocidente, o norte-americano é admirado por um colega soviético, o físico Shapirov.

Shapirov vinha trabalhando secretamente, com um grupo de cientistas de seu país, no desenvolvimento de uma máquina de miniaturização. Em uma de suas experiências, utilizando a si mesmo como cobaia, Shapirov entrou em coma após sofrer um acidente na reversão da miniaturização, estando à beira da morte. Com Morrison, os soviéticos esperam enviar uma equipe de cientistas para investigar o cérebro de Shapirov, que conteria pensamentos sobre como tornar a miniaturização prática a ponto de se tornar de uso corrente.

Em conversas reservadas, Morrison confessara que havia "sentido" os pensamentos daqueles de quem analisara as ondas cerebrais. Por isso foi ridicularizado em seu país. No entando, Shapirov havia manifestado, antes do coma, seu interesse pelas idéias de Morrison. E são elas que o tornarão essencial para a missão exploratória do cérebro de Shapirov. Os soviéticos esperam que Morrison consiga "ler" os pensamentos do cientista soviético.

O livro tem um clima de Guerra Fria, em que soviéticos e norte-americanos, apesar viverem um período menos tenso de seu relacionamento, competem pela dianteira do conhecimento científico. O russo Asimov, que viveu nos Estados Unidos desde os 3 anos de idade, reforça alguns dos estereótipos sobre os soviéticos. A equipe que integra a nave é formada, além dele, por quatro cientistas soviéticos. As duas mulheres, uma delas comandante da missão, são fortes e enérgicas quando necessário. Um dos homens é frio e objetivo enquanto o outro é brincalhão mas um bom bebedor de vodca. Este último é responsável por algumas tiradas engraçadas ao longo do livro. Para toda ocasião, sempre é capaz de sacar um dito popular, às vezes meio nonsense, dizendo: "como dizia meu pai...".

Os soviéticos vivem diversas dificuldades com o seu orçamento para a pesquisa, sempre cortado pelos "burocratas de Moscou".

Contrariado por ter sido sequestrado, Morrison recusa-se insistentemente a participar da missão. No fundo, sente medo das consequências de ser miniaturizado. Só é convencido quando percebe que, se sobreviver à aventura, gozará de glória entre seus colegas cientistas. O norte-americano vence o medo e decide fazer a viagem por temer o ostracismo de sua carreira, enquanto os soviéticos motivam-se por razões nacionalistas - embora um deles também busque a fama internacional.

A questão do compartilhamento do conhecimento científico é discutida indiretamente pelo livro. Norte-americanos e soviéticos competem entre si e escondem seus avanços, o que impede que soluções para os problemas da ciência surjam mais rapidamente pelo trabalho em cooperação.

Uma das características mais interessantes do livro é que cada passo, cada discussão sobre as técnicas científicas empregadas pela equipe, é acompanhada de um explicação fundamentada e verossímel de Asimov. Assim, o processo de miniaturização não acontece sem que os personagens discutam as leis da física que estão sendo violadas e redescobertas. Assim, os aparelhos descritos na ficção científica de Asimov nunca parecem ser baseados em algum processo mágico, mas sim no trabalho duro e racional de cientistas no desenvolvimento de técnicas que nos parecem fantásticas.

Atualizado em 10/11/02
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2002
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Brasil