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O gênero da ciência ou sobre silêncios e temores em torno de uma epistemologia feminista

Por Larissa Pelúcio

“Elas recebem menos convites para avaliar o trabalho de seus pares. E meninas se veem como menos brilhantes desde os 6 anos”. Editoria de Ciências – El País (1)

A notícia saiu no início de 2017, trazendo dados de duas pesquisas científicas sobre o alijamento de mulheres do campo de investigações acadêmicas. A reportagem é ilustrada pela foto de divulgação do hollywoodiano Estrelas além do tempo. Naquele filme, racismo, sexismo, machismo e conservadorismo político se juntam à alta tecnologia beligerante da Guerra Fria. Nada mais representativo do mundo das ciências. O mundo que tem a razão como seu alicerce. A mesma qualidade que sustenta nossas percepções vulgares sobre o comportamento masculino. Homem => razão => civilização => branquitude => ciência => verdade. Equação que não apareceu nos infindos cálculos das protagonistas do filme, mas que definiu calculadamente o silêncio que se instituiria sobre a participação crucial daquelas mulheres na “corrida espacial”.

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Gênero, política e produção do conhecimento: ressonâncias e desafios

Por Margareth Rago

Não há dúvidas de que a entrada da categoria do gênero na academia teve um profundo impacto na maneira pela qual se produzia o conhecimento nas chamadas ciências humanas e exatas, ao mesmo tempo em que respondia aos desafios que se colocavam aos estudos feministas, com a intensidade das críticas colocadas pelo pós-estruturalismo, pela psicanálise e por outras correntes de pensamento, que apontavam os limites das formas modernas de pensar. Essas críticas contundentes, em especial a que apresentavam filósofos como Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, entre outros, recusavam o essencialismo nas interpretações correntes e questionavam a noção de verdade, de realidade objetiva, de neutralidade e de necessidade, chegando à questão do sujeito. Continue lendo Gênero, política e produção do conhecimento: ressonâncias e desafios

A popularização dos hormônios: verdades científicas ou metáforas para falar de gênero?

Por Fabíola Rohden

“São os hormônios!” “A culpa é dos hormônios!” “Os hormônios comandam tudo!”

Certamente, estamos muito acostumados/as a ler, a ouvir e mesmo a pronunciar frases como essas. E quando o fazemos, muito dificilmente está em cena um profundo conhecimento de endocrinologia ou mesmo de biologia em geral. Não são explicações pormenorizadas, específicas, precisas que vêm à tona na maioria das vezes nas quais essas afirmações categóricas são acionadas. Mas se não se trata disso, então, o que está por trás desse tipo de enunciado? Que mecanismo é esse que nos faz lançar mão de explicações que não necessariamente dominamos para dar conta de fenômenos tão variados? A ideia geral de que os hormônios explicariam quase qualquer coisa não se aplica apenas ao funcionamento do corpo humano, mas, sobretudo, tem sido associada de forma recorrente a comportamentos, preferências, emoções etc. E tem se tornado quase onipresente nas apreciações relativas a supostas diferenças existentes entre os gêneros (Rohden e Alzuguir, 2016).

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Cultura e biologia influenciam gênero, mas é a ética que deve impulsionar debate

Por Tássia Biazon e Gustavo Almeida

A definição de gênero é muito vasta e complexa. O termo aborda as diferenças entre sexos e busca entender as relações sociais entre homens, mulheres e as pessoas que rejeitam essa dicotomia. Ao longo dos anos, diversas concepções foram se consolidando, como a apresentada no texto “Gênero: uma categoria útil de análise histórica” (1995), da historiadora Joan Wallach Scott, que define o gênero como uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. Continue lendo Cultura e biologia influenciam gênero, mas é a ética que deve impulsionar debate

Como é ser mulher no mercado de trabalho?

Por Juan Mattheus 

Levará 95 anos para que haja igualdade entre homens e mulheres no Brasil, aponta relatório do Fórum Econômico Mundial. O documento, divulgado em outubro de 2016, mostrou as diferenças no mercado de trabalho em 144 países – o Brasil ocupa o 79ª lugar. No topo, ficaram a Islândia (1º), Finlândia (2º) e Noruega (3º). O relatório aponta, também, que há um desperdício de talentos quando não são dadas oportunidades profissionais às mulheres.

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Estatísticas alarmantes exigem atenção à violência de gênero

Por Carolina Medeiros

Na madrugada do dia primeiro de janeiro, um homem invadiu uma casa em Campinas, no interior de São Paulo, matou 12 pessoas de uma mesma família e, após os disparos, se matou. Entre as vítimas da chacina estavam a ex-mulher e o filho do atirador, e as demais eram todas mulheres da família da ex-esposa. O crime foi classificado como feminicídio. Continue lendo Estatísticas alarmantes exigem atenção à violência de gênero