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Legislação brasileira trava avanços no tratamento da doença de Parkinson
Por Erik Nardini Medina
08/04/2016
Dia 11 de abril é celebrado o Dia Mundial de Conscientização da doença de Parkinson (DP), popularmente conhecida como mal de Parkinson. É uma doença degenerativa crônica e progressiva, que afeta o sistema nervoso central. A Organização das Nações Unidas estima que 1% da população seja acometida.

No Brasil, são cerca de 200 mil pacientes. Ainda que não haja cura, os tratamentos da DP no país poderiam estar muito mais avançados. “Os empecilhos impostos pela legislação brasileira dificultam, em muito, a nossa inclusão em estudos clínicos multicêntricos. Há várias drogas em estudo no momento ou próximas da liberação, seja em outros países ou no Brasil, como a safinamida, o Rytary (IPX066, Impax Pharmaceuticals), e a duodopa”, relata Anelyssa Cysne Frota D’Abreu, pesquisadora do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (Brainn), da Unicamp.

D’Abreu constata que, no Brasil, o grande problema é o acesso aos métodos terapêuticos disponíveis. “Até hoje, por exemplo, não dispomos de cirurgia para o tratamento dessa doença na Unicamp. Não porque não temos pessoas treinadas para isso, ou interesse, mas por falta de recursos. A última que realizamos foi com doação de uma empresa. Além disso, drogas disponíveis em outros países demoram muito tempo para chegar aqui. A rasagilina foi aprovada há cerca de dez anos nos EUA, e só agora temos no Brasil. A apomorfina é uma droga antiga, utilizada em pacientes graves, e também não está disponível amplamente no país”, relata. A apomorfina por via subcutânea só pode ser obtida por meio de importadoras.

Estudos clínicos e de neuroimagem: um passo à frente

Apesar de as pesquisas com novas drogas caminharem lentamente, os estudos com neuroimagem desenvolvidos na Unicamp seguem promissores. “Todos os pacientes realizam ressonância magnética. Além disso, revemos as histórias clínicas dessas pessoas, fazemos exames físicos e neurológicos detalhados, e aplicamos escalas clínicas para observar a presença de alterações psiquiátricas e cognitivas, explica a pesquisadora do Brainn. “Estamos avaliando quais fatores clínicos ou radiológicos influenciam na progressão da doença e na sua manifestação”, acrescenta.

Os estudos estão entrando agora em uma fase longitudinal, que prevê o acompanhamento dos pacientes repetidas vezes para avaliar sua evolução clínica e radiológica. “Estamos em fase de conclusão da primeira etapa dos estudos clínicos e de neuroimagem. Conseguimos demonstrar que o envolvimento cerebelar o cerebelo é a parte do encéfalo que responde pelo equilíbrio e pelos movimentos involuntários está presente nestes pacientes, em especial naqueles cujo tremor é o sintoma predominante”, explica D’Abreu. A pesquisadora revela que a presença de lesões na substância branca (vias de comunicação entre o sistema nervoso central e os outros órgãos) nestes pacientes “contribui para uma piora dos sintomas motores e parece levar a uma progressão mais rápida da doença”, conclui.

Entendendo sintomas, dopamina, neurotransmissores e neurônios

O quadro clínico da DP é composto por quatro sintomas principais: lentidão (acompanhada ou não de diminuição de movimentos voluntários), rigidez dos músculos, dificuldade de equilíbrio e os tremores, que atingem as extremidades como pés e mãos, e afetam tarefas que antes eram simples, como caminhar, ler um jornal ou se alimentar.

A DP é causada por uma drástica diminuição na produção de dopamina. Essa substância química (neurotransmissor) é produzida pelos neurônios em uma região encefálica conhecida como substância negra.

O papel dos neurotransmissores é enviar mensagens para outros órgãos do corpo. A dopamina, especificamente, age em determinadas áreas do cérebro, notadamente nos núcleos da base, levando ao planejamento dos movimentos.

Quando diminui a produção desse neurotransmissor, a doença de Parkinson se manifesta, normalmente a partir dos 65 anos. Como ainda não tem cura, os tratamentos atuam de maneira a amenizar os sintomas por meio de drogas que agem diretamente no sistema nervoso.

“De uma forma geral, a ideia central dos tratamentos com medicamentos é atuar na reposição da dopamina, que é o principal neurotransmissor afetado pela doença e responsável principal pela bradicinesia (lentificação dos movimentos) e pela rigidez”, explica Anelyssa D’Abreu, pesquisadora do Brainn.

Brainn promove ação sobre a doença de Parkinson

Para celebrar o Dia Mundial de Conscientização da doença de Parkinson, o Brainn promove, dia 14 de abril, uma série de atividades com pacientes e familiares. A ação será realizada no Ambulatório de Neurologia do Hospital de Clínicas da Unicamp, a partir das 9h30.