REVISTA ELETRÔNICA DE JORNALISMO CIENTÍFICO
Dossiê Anteriores Notícias Reportagens Especiais HumorComCiência Quem Somos
Notícias
Busca:

    Versão para impressão       Enviar por email       Compartilhar no Twitter       Compartilhar no Facebook
Notícias
Modalidade paralímpica goalball é tema de pesquisa em ciências do esporte
Por Janaína Quitério
08/07/2015
Uma das promessas de medalha brasileira nos Jogos Paralímpicos Rio-2016 é a equipe masculina de goalball – esporte coletivo praticado por jogadores com deficiência visual e que tem sido estudado por pesquisadores do Laboratório de Biomecânica e Instrumentação (Labin), da Faculdade de Ciências Aplicadas, na Unicamp, em Limeira.

Um dos pesquisadores envolvidos é Thiago Magalhães, que fez a análise cinemática das ações ofensivas no goalball, a partir da descrição dos movimentos e ações de atletas em jogo. Ele apontou os resultados em sua dissertação de Mestrado, defendida em abril pelo programa de Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo (FCA-Unicamp).

“Outros pesquisadores já buscaram estudar o esporte, mas por meio de metodologia observacional, que é uma forma qualitativa, na qual os dados se fundamentam na interpretação do observador. Nessa pesquisa, fizemos uma análise quantitativa do jogo por meio da videogrametria, que utiliza câmera de vídeo e computador e possibilita tanto a obtenção da posição de todos os jogadores em função do tempo como a visualização de cada evento ocorrido na quadra”, explica Magalhães, que complementa: “Uma das contribuições dessa metodologia consiste em trazer informações quantitativas do jogo com acurácia”.

O goalball baseia-se na troca de arremessos com bola entre as equipes – e vence a que fizer mais gols no fim de dois tempos, de 12 minutos cada. Embora cada time seja formado por até seis jogadores, apenas três atuam em quadra: um pivô e dois alas. A baliza estende-se sobre todo o fundo da quadra, e os atletas tentam bloquear o arremesso adversário, considerado válido apenas se a bola tocar no chão ao menos uma vez em sua área de lançamento e na área neutra do concorrente. A intenção é evitar bolas aéreas para não dificultar a percepção dos guizos em seu interior. Os atletas também se orientam na quadra – de tamanho similar a do voleibol – a partir das linhas demarcatórias em alto relevo. Como jogadores de graus diferentes de perda visual competem juntos, eles usam tampões sob seus óculos para evitar vantagens àqueles com maior acuidade visual.

Milton Shoiti Misuta, orientador da dissertação e coordenador do Labin, ressalta que, até o momento, não existiam referências da aplicação baseadas na videogrametria (já bastante utilizada em esportes como futebol, basquete e tênis) no goalball, modalidade com a qual teve contato durante seu doutorado, depois de trabalhar com outras modalidades paralímpicas, como o futebol de cinco e o rugby sobre rodas. “A importância dessa pesquisa já começa por se tratar do primeiro projeto que usou videogrametria para levantar características dos arremessos a partir das técnicas utilizadas, o tipo de bola, além da velocidade e sua trajetória”, explica.

Segundo ele, essa identificação é importante, dado que a velocidade da bola durante a trajetória de arremessos relaciona-se com a capacidade de o jogador adversário interceptá-la. “Uma bola veloz reduz o tempo de o adversário reagir”, escreve Thiago Magalhães em sua dissertação. A partir dos resultados da pesquisa, Magalhães concluiu que a velocidade da bola sofre influência também da posição dos jogadores, da técnica dos arremessos e do tipo de bola. “De modo geral, foram verificadas diferenças entre as posições, as técnicas e também os tipos de bola, com futuras implicações no planejamento e controle do treinamento de goalball para melhorar o nível técnico”, conclui.

http://www.labjor.unicamp.br/imagens/noticias/rastreamento_jogador.jpg

Rastreamento de atletas captado pelo software DVideo, em partida de goalball filmada por duas câmeras digitais, acopladas em lugares diferentes da quadra.

Assim como outras modalidades paralímpicas, o goalball foi criado após a Segunda Guerra Mundial durante programas de reabilitação de feridos em combate, e foi incorporado ao programa paralímpico em Toronto, Canadá, em 1976, mas apenas o masculino. As atletas começaram a participar em 1984. No Brasil, as primeiras partidas foram realizadas no início da década de 1980, e a primeira medalha, a de prata, foi conquistada pela seleção masculina em 1994, nos jogos Parapan-Americanos de Buenos Aires. Em Londres, em 2012, uma edição após a sua estreia nos Jogos Paralímpicos de Pequim, a equipe masculina brasileira conquistou o vice-campeonato e, em 2014, garantiu o Campeonato Mundial.