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Reportagem
Crowdfunding de investimentos: oportunidade e risco para empresários e investidores
Por Ricardo Manini
10/12/2015
Encontrar o capital inicial para criar uma startup, empresa nascente com alto potencial de crescimento, nunca foi das tarefas mais fáceis no Brasil. As altas taxas de juros cobradas pelos bancos muitas vezes inviabilizam e desencorajam o empresário a pegar um empréstimo no momento de criação da empresa. Encontrar um investidor que banque todo o negócio também é uma tarefa complicada, que só uma parte dos novos empresários consegue realizar.

Por essas razões, muitos investidores e empresários saudaram como benéfica a recente fundação de plataformas de crowdfunding de investimentos. Nessas plataformas, como a Broota, a primeira a efetivamente funcionar no Brasil, investidores e empresários podem se conectar a fim de viabilizar a criação de novos negócios. Outras, como a EuSocio, devem viabilizar parcerias em breve. A intenção desse tipo de crowdfunding é facilitar o contato entre quem tem uma ideia e quer construir uma empresa, mas precisa de dinheiro, e quem deseja investir em empresas nascentes. “A ideia nasceu da minha experiência como empreendedor”, afirma Frederico Rizzo, fundador do Broota. “Também trabalhei em uma empresa na qual notava nitidamente a necessidade desse tipo de captação de recursos”, diz ele.

O modo como essas plataformas funcionam é bastante simples. O fundador de uma startup entra no site e faz o cadastro. O próprio Broota, ou outra plataforma nesse modelo, se encarrega de verificar se a empresa está preparada para receber os aportes. Se estiver, o empresário pode estipular o valor que precisa para rodar o negócio, e os investidores que estão no site têm a possibilidade de alocar parte de seu capital na empresa.

Esse capital só é entregue ao empresário se atingir, de fato, o valor requisitado. Assim, se uma empresa estipula que precisa de R$ 100 mil, mas só consegue levantar R$ 80 mil, o dinheiro retorna para o investidor. Se atingir o montante requisitado, o empresário ganha acesso aos recursos. Até agora, a Broota conseguiu viabilizar negócios de 14 empresas, que pediram um montante entre R$ 100 mil e R$ 500 mil.

Ao alocar o capital, o investidor adquire uma participação na empresa nascente. No caso específico do Broota, ele adquire títulos da dívida da empresa, que podem ser convertidos, mais tarde, em ações. Assim, se a empresa for bem e gerar resultados positivos, ele tem o retorno do capital. Caso vá mal, perde o que investiu. No entanto, se a empresa contrair dívidas, ele está protegido e não terá de arcar com esse passivo adicional. “Quem paga pelas dívidas é a própria empresa”, afirma Rizzo.

Alto risco

Por se tratar de empresas nascentes e que ainda não renderam os resultados desejáveis, o investimento nelas é considerado de altíssimo risco. Por isso, recomenda-se que o investidor não aplique mais do que 10% do capital que têm disponível para aplicações e que não aposte em uma só empresa. O ideal é diversificar e escolher ao menos 10 empresas, de forma que, se uma startup for bem, o retorno gerado por ela banque o capital investido nas demais.

O apoio que o investidor pode dar ao empresário está longe de ser apenas monetário. Espera-se que ele possa atuar como alguém que efetivamente quer ajudar a empresa, seja por meio de conversas informais com os proprietários, seja por propagá-la para outros públicos. Assim, muitas vezes, esses investidores são pessoas que conhecem o mercado em que a empresa está, têm experiência com investimentos e sabem as dificuldades pelas quais uma empresa nascente pode passar. “A expectativa de receber o retorno é de, no mínimo, sete anos”, comenta Rizzo. Por essa razão, “o investidor estará envolvido por mais tempo e deve ajudar a empresa, tanto com conselhos quanto ao propagar o negócio”, completa.

Para as empresas, o sistema é benéfico porque favorece a captação em um tempo mais curto. Sem um sistema assim, a startup precisa encontrar um investidor que banque todo o custo. Mas dentro desse modelo, pode encontrar muitos investidores que aceitem colocar uma pequena parcela do capital necessário para o negócio funcionar.

Já para os investidores, a vantagem está na possibilidade de apostar de modo mais barato – a Broota aceita um aporte mínimo de mil reais. Essa possibilidade é mais difícil se apenas um investidor se prontifica a aplicar na empresa, fora desse modelo de crowdfunding. Nesse caso, os valores mínimos são maiores e podem ultrapassar facilmente a barreira dos R$ 100 mil.

Crowdfunding imobiliário

Outra modalidade de crowfunding de investimentos é o imobiliário, que só agora começa a aparecer no Brasil. No site Urbe.Me, é possível acessar oportunidades que antes só estavam disponíveis para os grandes investidores. Nele, a partir de mil reais, também é possível apostar em empreendimentos imobiliários, que são selecionados pelo próprio site. Ao dar o dinheiro, e quando o projeto levanta o capital necessário para ser feito, o investidor ganha um título de investimento. Quando as vendas dos espaços construídos são realizadas, ele fica com um percentual compatível com o que colocou no projeto.

O tempo estimado de retorno é de cinco anos O primeiro projeto nesse sistema, um prédio em São Paulo, já foi colocado no site e captou, até agora, cerca de 15% do total necessário para ser realizado.

Políticas públicas

Um outro modo de empresas nascentes captarem capital para iniciar ou ampliar um negócio é participar do programa Pitch SP, lançado em 2015 pelo governo do estado de São Paulo. Nesse caso, a startup deve ser voltada a áreas prioritárias de políticas públicas do governo estadual.

Na primeira edição, entre os 15 finalistas, estiveram uma empresa que desenvolve um software capaz de mapear, em um raio de 400 metros, locais que podem se tornar focos do Aedes aegypt, principal vetor do vírus da dengue; e uma startup que desenvolve um kit para exames das principais doenças crônicas não transmissíveis e dá, em cerca de 20 minutos, o resultado para o paciente.

As startups que tiverem seus projetos aprovados por comissões de análise poderão ter acesso ao Fundo de Inovação Paulista, criado pela Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP). Para isso, apresentarão o projeto à gestora do Fundo, a São Paulo Ventures, que fará a análise para o investimento. Além desse projeto, é possível buscar recursos também junto à Desenvolve SP e com a Fapesp.