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Editorial
Casa grande sem senzala?
Por Carlos Vogt
10/04/2007

O etanol tem aliados, adversários, amigos, inimigos e, é claro, muitos interesses. E isso move a ciranda dos prós e contras que marcam os passos de sua evolução.

O Brasil acumulou, durante estes últimos 30 anos, uma expertise que o coloca, hoje, em posição de destaque no cenário das tecnologias e da inovação quando o assunto é bioenergia.

A recente visita do presidente Bush ao país abriu perspectivas concretas para os desígnios do presidente Lula de transformar o etanol em commoditie, tendo, como o petróleo, seu preço regulado pelo mercado internacional. As metas de crescimento na produção do álcool de cana-de-açúcar daí estabelecidas consolidariam a liderança do Brasil nesse nicho disputado das energias renováveis.

O anúncio feito por George W. Bush de que pretende aumentar em 15% a presença do álcool como energia alternativa nos EUA, além do impacto que só a notícia já causa, significará, se adotada a medida e se importado o etanol do Brasil, um aumento de produção de cana que elevaria dos atuais 7 milhões de hectares de cultivo para algo em torno de 20 milhões de hectares. Um número grande mas que no Brasil não é mais do que 4% de sua área agriculturável.

A vinda de Bush teve ainda um efeito de marketing espetacular, já que pôs o etanol e o Brasil nas páginas e nas telas da imprensa e da mídia internacionais por um tema positivo, ainda que controverso, dados os opositores que o acompanham em séqüitos de descontentes e muitas vezes de militância renhida.

Celso Ming, em sua coluna à página B2 do jornal O Estado de S. Paulo (terça-feira, 13 de março de 2007) listou e organizou essas inimizades do etanol de cana-de-açúcar e apontou as seguintes: o lobby do petróleo, o dos cerealistas, do milho, em particular, o dos protecionistas europeus que defendem a beterraba, o dos ambientalistas e até mesmo o dos industrialistas que temem pelo futuro do setor na situação de se criar, efetivamente, uma “Opep do etanol”, dos sindicalistas que seguem os anteriores no prognóstico da desindustrialização do país e o dos nacionalistas que seguem no refrão do perigo hegemônico e neocolonialista do norte ameaçando o sul.

São muitos adversários, muitos inimigos e muitos interesses convergentes na oposição e divergentes nas estratégias e objetivos próprios.

Haverá como avançar o ambicioso programa do etanol de cana-de-açúcar em meio a tantas resistências e obstáculos?

Os otimistas confiam que sim; os pessimistas acreditam que não, os realistas sabem que o etanol não rebrota sozinho como as gramíneas que lhe dão origem .

O fato é que o Brasil se preparou, científica e tecnologicamente, para esse desafio, superando até mesmo o paradoxo cultural que acabou por alçar os usineiros, na fala do presidente Lula, a heróis dos novos tempos por que passa a nação rural convertida agora e cada vez mais em país globalizado-agro-negocial.

Vamos, pelo álcool, integrar, enfim, o concerto das nações de que sempre nos excluiu o campo e a economia escravocrata que perdurou até os fins do século XIX? Vamos, pela tradição da cultura canavieira, atravessar os umbrais da pós-modernidade energética sustentável, ecologicamente correta e socialmente redentora, como parecem sugerir o concerto dos presidentes recém-encontrados em São Paulo?

Boas perguntas, boas dúvidas, muitas dívidas e alguns créditos!

O desafio não é pequeno e ainda não parou de crescer. Melhor é acompanhá-lo enquanto se desdobra, discutindo-o, enfrentando-o, propondo-lhe soluções inovadas e inovadoras. Técnica, científica e tecnologicamente, como disse, o país está preparado para isso. Estará também com a mesma prontidão do ponto de vista cultural, econômico e político?

A conferir!