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Inovar para quê? - Carlos Vogt
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Inovação no Brasil – A hora de uma verdadeira interação entre competitividade e CT&I
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Inovação e desenvolvimento: entraves e causas históricas
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O financiamento à inovação no Brasil
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Pesquisa de inovação: um poderoso instrumento para diagnóstico, desenho, implementação e monitoramento de políticas na área de C,T&I
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Criatividade, cultura e inovação: uma profusão de “modelos” e o desafio da reorientação do desenvolvimento
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Segundo uso médico de compostos químicos
Maria Lúcia Abranches da Silva, Adelaide Maria de Souza Antunes e Adriana Campos Moreira Britto*
Resenha
Inovação aberta em números
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Entrevista
David Kupfer
Entrevistado por Ricardo Manini
Poema
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Carlos Vogt
Humor
HumorComCiencia
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Entrevistas
David Kupfer
Nesta entrevista, o economista David Kupfer, que estuda o processo de inovação há anos, fala sobre as dificuldades de inovar no Brasil. Afirma que a indústria brasileira precisa da inovação para ser competitiva no plano internacional e que deve buscar inovar produtos, não apenas processos. Diz ainda que a falta de mão de obra qualificada representa um problema sério para o setor industrial e que a universidade tem um papel a cumprir nesse sentido.
Ricardo Manini
10/07/2013

Como é a relação entre crescimento econômico e inovação? É o crescimento que gera a inovação ou a inovação que gera o crescimento?

Kupfer - A economia é um espaço de interações. A inovação é um fator de crescimento, mas as condições são mais presentes em economias que crescem. O motor da inovação é alimentado pelo investimento. A questão não é só reproduzir o estoque de capital existente, mas modernizar por meio de novos ativos inovadores.

O Brasil tem formado mão de obra suficiente para promover inovação?

Kupfer - Não. A resposta é negativa em duas dimensões. Quantitativamente e qualitativamente a mão de obra formada hoje não é suficiente. Nós também não temos uma estrutura curricular adequada para capacitar, que ensine como é que se inova.

O papel de formar a mão de obra teria de ser puxado somente pela universidade?

Kupfer - Não apenas pelas universidades, mas esse é um problema específico da universidade. Nós não devemos atribuir as lacunas na formação de mão de obra inovadora a outras instituições, mas sim à dificuldade que a universidade brasileira tem de interagir com essas instituições. A universidade brasileira é mais científica do que tecnológica. Ou seja, tem uma boa relação com ciência, mas não com inovação.

Como se resolve a distância entre empresas e universidades?

Kupfer - Como professor universitário, acredito que essa questão seja da universidade. A universidade não pode ser comandada pela indústria. Aí teríamos apenas a reprodução do capital existente. Temos necessidade de introduzir a prática, laboratórios, o contato com a realidade produtiva no dia a dia do estudante, mas não sob os comandos da estrutura produtiva. A indústria é imediatista e o processo de inovação, não.

É possível concorrer de igual para igual no mercado internacional com países que não dão muitos direitos trabalhistas e, portanto, têm custo com mão de obra menor?

Kupfer - É possível ter indústria nesse contexto porque senão não teríamos indústrias em países avançados, como a Alemanha. Isso tem implicações sobre a competitividade, não em relação à viabilidade. A indústria é viável no Brasil e a inovação, que gera diferenciação de produtos e maior valor adicionado, é uma saída.

Poderíamos ter indústrias intensivas em tecnologia, não em mão de obra?

Kupfer - Sim, mas para isso é necessário aumentar a qualificação da mão de obra.

A pequena participação do Brasil no comércio internacional é um problema quando se fala em inovação?

Kupfer - O aspecto histórico é importante para explicar por quais razões existe essa pequena participação. Parte importante da estrutura produtiva brasileira foi criada de modo a atender, com produtos de baixo valor agregado, mercados desenvolvidos.

Mas a exportação poderia ajudar no processo de inovação?

Kupfer - As evidências sugerem que existe aprendizado pela exportação. O contato com o mercado internacional qualifica a produção porque traz informação, permite um entrosamento maior com o setor produtivo externo e tem um efeito claro sobre a inovação.

Até que ponto a infra-estrutura deficitária é um entrave para a inovação?

Kupfer - É um problema na economia brasileira atual como outros tantos. Sem dúvida, se houver melhoras da infraestrutura, junto com a resolução de outras questões, o país pode passar por uma transformação sistêmica que torne o custo de inovar muito menor.

A carga tributária brasileira é considerada por empresários como uma dessas questões. Isso é verdadeiro?

Kupfer - O empresariado tem razão, a carga tributária e outros problemas de custos dificultam, mas a solução desse problema não se dá apenas com a diminuição dos tributos.

É preciso modernizar produtos e não apenas modernizar processos. Uma parte da indústria brasileira, talvez não a maioria, modernizou processos, mas não produtos. O caminho seria modernizar produtos. Hoje se verifica um aumento do hiato tecnológico da indústria brasileira frente à fronteira tecnológica internacional, é um fenômeno que é cíclico. Atualmente existe defasagem em tecnologia da informação, que é o principal vetor da inovação industrial no mundo contemporâneo.

Os juros altos também dificultam?

Kupfer - Sim. Os juros também são custos. O sistema de financiamento à inovação já trabalha hoje com juros atraentes. Há a redução de custo de capital para inovação, mas não para o investimento na ampliação da capacidade. Isso são problemas macro, mas não podemos esperar que a macroeconomia fique favorável para inovar. Senão vamos ficar parados no tempo.