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Reportagem
Falta divulgação de AVC em animais de estimação
Por Cesar Ornelas
10/06/2009

“Existe cura para o AVC do meu cachorro? Alguém pode me ajudar?”, pergunta um internauta em um fórum de discussão virtual. As respostas – como, por exemplo, “Não tem como... tem que sacrificar!” – frustram o internauta, que buscava salvar o seu animal. Casos como esse são bastante frequentes. Ao colocarmos nos sites de busca as palavras “AVC e cachorro” inúmeros exemplos como esse aparecem. Inclusive, a dúvida se um AVC pode ou não ocorrer em animais de estimação.

“Existem sim casos de AVC em cães. O que acontece, geralmente, é que muitos veterinários não sabem ainda diagnosticar o problema”, avalia Milton M. Morishin Filho, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, especialista em cirurgia geral e neurocirurgia de pequenos animais. Entretanto, ele reconhece que o assunto é pouco divulgado, não há sites de profissionais habilitados a responder questões, ou que divulguem a produção científica a respeito do assunto para um público mais amplo.

Morishin Filho conta que, assim como em humanos, o AVC em cães pode ser causado por obstrução dos vasos sanguíneos – resultando em isquemia –, ou pela ruptura das paredes dos vasos sanguíneos – resultando em hemorragia cerebral. A maioria dos tipos de AVC diagnosticados nos humanos, também é encontrada nos animais, o que não surpreende, devido à semelhança estrutural apresentada pelos sistemas neurais dos diferentes mamíferos.

Diagnóstico

Antes considerado um diagnóstico incomum, o acidente vascular cerebral (AVC), tem sido cada vez mais identificado em cães e gatos.

Esse diagnóstico depende da exclusão de outras causas de encefalopatia focal e da identificação de uma doença primária que pode ser responsável por eventos isquêmicos/vasculares. Em geral, são indicados os seguintes procedimentos médico-veterinários: exames de sangue e urina, para identificar as causas subjacentes possíveis; medição da pressão sanguínea sistólica; realização de eletrocardiogramas; análises de fezes e culturas de sangue, para descartar a possibilidade de infestações parasitárias; e a análise líquida cérebroespinal, que pode ajudar a descartar doenças inflamatórias do sistema nervoso central, e ainda revelar hemorragias recentes.

Os exames que geram imagens em alta definição – conhecidos por tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) – podem revelar lesões focais. Porém, nem sempre é fácil diferenciar tais lesões das de outras doenças como, por exemplo, a neoplasia. Por isso, a biópsia continua sendo um procedimento importante. “ Um exame neurológico bem detalhado pode sugerir  o AVC, mas é impossível de diagnosticar com certeza”, avalia o médico da Unesp. Para ele, “o exame mais indicado para o diagnóstico realmente seria a ressonância magnética. Um exame caro e de difícil acesso ainda na veterinária”.

O alto custo dos exames de imagem – que chegam a valores entre R$400,00 e R$1.000,00 – e a existência de poucos centros especializados em exames em animais, são os principias obstáculos enfrentados no diagnóstico de AVC em animais. Outra dificuldade é que, diferente das pessoas, os animais não colaboram na realização dos exames, por isso é necessário anestesiar o animal para obter resultados precisos. “Nossos pacientes não dizem o que estão sentindo, não dizem se estão com bolinhas roxas na visão”, lamenta o veterinário.

Tratamento

Feliciano Filho, deputado estadual pelo Partido Verde de Campinas, conhecido por suas ações em prol do bem-estar animal, confirma a dificuldade que os donos de animais irão encontrar, principalmente os que não puderem pagar um tratamento particular: “existe atendimento gratuito aos animais da população de baixa renda em alguns Centros de Controle de Zoonoses (CCZs). O tratamento de AVC em animais também acontece nesses mesmos CCZs, mas não é um tratamento de primeira linha”.

De acordo com o artigo “Ischaemic and haemorrhagic stroke in the dog”, de Annette Wessmann, Kate Chandler, Laurent Garosi, publicado no The Veterinary Journal (2009), o tratamento é muito variado e dependerá do tipo e localização do AVC, da severidade da disfunção neural. Centra-se assim, na prevenção de danos cerebrais secundários ou de complicações, tais como aumento da pressão intracraniana ou apreensões, e identificar e tratar as causas primarias.

Felizmente, a maioria dos casos recuperam-se dentro de algumas semanas, somente com terapia de suporte e monitoramento, apresentando taxas de sucesso maiores do que nos seres humanos. Os sinais clínicos da disfunção neurológica em cães e com distúrbios cerebrais isquêmicos tendem a permanecer estáveis ou a melhorar ao longo do tempo. Os distúrbios hemorrágicos são mais raros, porém apresentam maiores índices de mortalidade. Feliciano Filho conta que seu cachorro, de 18 anos, teve AVC e foi tratado a tempo, recuperando-se com sequelas mínimas.

A recuperação dos animais, assim como em humanos, depende do reconhecimento dos sintomas e de um rápido e eficaz atendimento. Os sinais clínicos dos animais podem variar dependendo da região afetada: podem ocorrer desde alterações na capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação; mudanças na força exercida pelos músculos e na posição de cada parte do corpo em relação às demais ; falta de coordenação dos movimentos; convulsão; e perda de visão.

Para auxiliar a recuperação do animal recomenda-se ainda fisioterapia e acupuntura. O médico veterinário Ricardo Henrique S. Silva usa acupuntura para o tratamento do AVC em animais e afirma que esta é bastante eficiente, especialmente se integrada ao tratamento médico convencional. É possível, por meio da acupuntura, aumentar o fluxo sanguíneo cerebral, regularizar a pressão arterial, restabelecer funções motoras anteriormente comprometidas. Ele conta sobre o caso de um cão idoso, da raça labrador, que chegou atáxico, tetraparésico e com hiperreflexia e após a primeira sessão, ele já se levantou e conseguiu andar. “A duração do tratamento, naturalmente, depende da severidade dos sintomas. Mas estima-se que há melhora considerável em cerca de cinco sessões”, afirma Silva.

O aumento da incidência de AVC em animais segue uma tendência atual também observada em humanos. Uma das prováveis causas está no acidente vascular cerebral ter sua ocorrência associado à idade. Com o avanço da medicina, tanto as pessoas como os seus animais de estimação tiveram um aumento no tempo de vida e, por consequência disso, um maior número de casos de AVC é constatado. Hábitos de vida sedentários e alimentação inadequada também são fatores que explicam o aumento da incidência. Expostos a uma vida demasiadamente humana, às vezes, os animais de estimação sofrem as consequências de uma dieta super calórica (principalmente os alimentados com comida humana) e da falta de atividades físicas (fato comum nos que vivem presos, seja casas ou em apartamentos).

As dificuldades de diagnóstico e tratamento – seja decorrente das tecnologias disponíveis ou aos altos custos – tornam os cuidados preventivos, relacionados a modos de vida saudáveis, as melhores estratégias para o combate ao AVC em animais. A prevenção poderá reduzir o número de casos, e o tratamento adequado, mesmo que não leve a uma cura definitiva, eleva significantemente a qualidade de vida do animal. O sacrifício não precisa tornar-se a única saída.