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Preferências alimentares são determinadas pela simbologia da comida


Interessado nos aspectos simbólicos do ato de comer, o sociólogo francês Jean-Pierre Poulain escreveu a obra Sociologias da Alimentação, traduzida para o português e lançada no início do mês pela editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC). Nela, o autor faz um apanhado das abordagens sócio-antropológicas da alimentação e explora a influência da simbologia dos alimentos sobre o homem, importantes para subsidiar uma melhor compreensão dos valores da cultura ou de uma época. No Brasil, os pesquisadores começam a aprofundar suas investigações sobre o tema, mas ainda existem poucos livros disponíveis em português.

Segundo a nutricionista Rossana Proença, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das tradutoras da obra, a alimentação ainda é pouco discutida do ponto de vista sócio-antropológico em todo o mundo. "Existem enfoques etnográficos, mas não há um trabalho que cruze esses olhares (nutrição e sociologia)", comenta a nutricionista.

A antropologia costuma dividir a análise da alimentação em cultura e meio ambiente. Para Poulain, no entanto, os dois aspectos devem ser levados em consideração. "No Brasil, ainda é muito forte a influência da visão da alimentação como patrimônio cultural. Poulain faz uma abordagem mais contemporânea. Ele não se preocupa em preservar ou levantar receitas, mas em fazer um diálogo com a teoria antropológica", acrescenta a antropóloga Carmen Rial, da UFSC, que também traduziu a obra.

No livro, também traduzido por Jaimir Conte, Poulain explica o conceito de "espaço social alimentar", que diz que a alimentação humana está condicionada por fatores fisiológicos - o homem é um animal onívoro, isto é, alimenta-se tanto de carne quanto de vegetais - e ecológicos - sua dieta depende do lugar onde ele vive e, na atualidade, de aspectos econômicos e tecnológicos. Esses condicionantes biológicos e ambientais, de acordo com ele, também permitem uma zona de liberdade, onde o homem pode fazer suas escolhas sem imposições. Essa região seria o espaço social alimentar.

Alimentos e símbolos
O consumo de carne no Ocidente está ligado à idéia de status social; já a expansão das cadeias de fast-food, segundo Rial, pode ser explicada não só pela dinâmica da vida moderna, mas principalmente pela influência da publicidade. "As lojas de fast-food vendem alimentos e o consumidor compra a imagem do alimento", observa a antropóloga.

Um dos problemas da opção alimentar pelo seu valor simbólico é que suas qualidades nutritivas acabam sendo desprezadas. Conseqüentemente, especialistas dizem que o homem acaba trocando pratos saudáveis por refeições de baixo valor nutricional. Por outro lado, Proença pontua que os nutricionistas que levam em conta a simbologia dos alimentos poderiam elaborar dietas mais adequadas a cada indivíduo e ter uma visão mais abrangente das mensagens alimentares a serem encaminhadas a cada grupo social.

O autor francês leciona na Universidade de Toulouse-Le Mirail, em Toulouse, na França. Nascido em uma família produtora de embutidos de carne de porco, estudou hotelaria e tornou-se chef de cozinha. Atuou na área de estruturação e inovação tecnológica de cozinhas profissionais e escreveu livros e colunas em revistas especializadas. Mais tarde, decidiu estudar sociologia e antropologia, sem afastar-se da gastronomia. Outras obras de Poulain que tratam da sociologia da alimentação são Penser l'alimentation, entre imaginaire et rationalités (Pensar a alimentação - entre imaginário e racionalidades), de 2002; Manger aujourd'hui, attitudes, normes et pratiques (Comer hoje - atitudes, normas e práticas) de 2001; Histoire de la cuisine et des cuisiniers (História da cozinha e dos cozinheiros), escrito com E. Neirinck em 1988; e Les jeunes seniors et leur alimentation (Os jovens seniors e sua alimentação), de 1998.

 

Atualizado em 20/07/04
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