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              do Jequitinhonha 
            				
            
              Identificar processos de inclusão social e contribuir para 
              a construção de um olhar que supere a "negatividade" 
              na análise da pobreza das camadas populares camponesas são 
              alguns dos objetivos do estudo realizado pela educadora Tânia 
              Ambrizi Gebara, como pesquisa de mestrado na Universidade Federal 
              de Minas Gerais (UFMG), defendida no dia 18 de novembro. O estudo 
              procurou identificar e compreender os processos de inclusão 
              social construídos por mulheres que atuam como educadoras 
              infantis em associações comunitárias de comunidades 
              rurais da região do Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas 
              Gerais.
            				Gebera 
              explica que superar a negatividade na análise da pobreza 
              significa avançar na reflexão que entende a região 
              do Vale do Jequitinhonha apenas como "bolsão de miséria". 
              Assim, é possível reconhecer as potencialidades dos 
              moradores da região, como sujeitos que constroem sua história, 
              possuem uma cultura singular e vivem em uma sociedade contraditória. 
              "É preciso romper com o referencial da falta na análise 
              das questões relativas à pobreza das camadas populares. 
              O equívoco do referencial da negatividade se encontra no 
              fato de conceber as pessoas descredenciadas como sujeitos, constatando-se 
              a realidade da privação", diz ela.
            				Segundo 
              a pesquisadora, a pesquisa privilegiou uma abordagem etnográfica, 
              utilizando observações, entrevistas e registros em 
              formato de diário de campo, onde foram recolhidos dados descritivos 
              na linguagem do próprio sujeito, permitindo desenvolver uma 
              idéia sobre a maneira como as educadoras interpretam sua 
              condição de trabalhadoras das instituições 
              de Educação Infantil e sua inserção 
              naquele meio social. "Essa metodologia possibilitou a percepção 
              de que embora exista um universo de conformismo, submissão 
              e exclusão, as educadoras distanciam-se da imagem de inferioridade, 
              buscam formas de resistência", afirma Gebara. Esse 
              processo, segundo ela, se dá nas práticas comunitárias, 
              por meio das quais as identidades das mulheres pesquisadas vão 
              se constituindo.
            A 
              pesquisa confirmou a hipótese inicial de que nas relações 
              de forma geral e, também nas relações de trabalho, 
              com a família e com a comunidade, as educadoras estão 
              buscando criar condições concretas de inclusão 
              social, ou seja, elaborando um saber e um fazer articulados aos 
              seus interesses. "Esse processo - diz a pesquisadora - se dá 
              quando elas exercem o papel de líderes em suas comunidades 
              e também na creche, espaço comunitário onde 
              estas mulheres entram em cena e ganham visibilidade ao exercerem 
              o papel de educadoras infantis".
            				A 
              educação para esse grupo é, na visão 
              da pesquisadora, uma experiência que acontece durante toda 
              a vida e no processo de inserção nas atividades comunitárias. 
              "As educadoras vão se percebendo, interiorizando e vislumbrando 
              outras leituras delas mesmas, tecendo sua auto-imagem como educadoras 
              e vivenciando distintas experiências de aprendizagens ao longo 
              do processo de participação na comunidade", diz 
              Gebara. 
            
              
                |  | 
              
                | Moradora 
                    da comunidade de Cristal no tear, no município de Minas 
                    Novas (MG). Crédito: 
                    Levindo Diniz | 
            
            				Dentre 
              os dados coletados, Gebara também ressalta que a fala 
              confere às educadoras o sentimento de serem sujeitos. "Fica 
              claro que a consciência dessa habilidade dá força 
              e motivação a essas mulheres. O falar representa para 
              elas a possibilidade de articulação, aproximação 
              e afastamento em relação aos outros e ao mundo. Para 
              as mulheres pesquisadas, a fala é fortemente manifestada 
              pela música, pela poesia, pelos versos, que são como 
              marcas, signos, elementos reconhecidos e reafirmados pelos setores 
              que atuam próximos delas, que são a igreja e a associação 
              comunitária", explica Gebara.
            				A 
              religiosidade é, aliás, muito presente na vida das 
              educadoras. De acordo com Gebara, há um sistema ético 
              formulado pelo grupo pesquisado que se fundamenta na tradição 
              religiosa, que aparece como uma fonte de compreensão da realidade, 
              expressão de valores e de organização social. 
              No grupo de mulheres pesquisado, a aproximação com 
              o sagrado e o conhecimento religioso repercutem um sentimento de 
              pertencimento e de reconhecimento também como lideranças 
              religiosas.
            				A 
              pesquisadora destaca ainda que os dados coletados da trajetória 
              de vida das educadoras foram analisados de forma a superar classificações 
              como as de exclusão/inclusão, conformismo/resistência 
              ou campo/cidade. De acordo com Gebara, essa superação 
              liga-se a uma visão mais ampla da complexidade da sociedade.