
            				
            
              Alemanha quer investir agora 
              em energia solar e eólica
										
						
            O 
              Jornal alemão Die Zeit (O Tempo) dedicou na semana 
              passada quase uma página inteira ao cancelamento do acordo 
              nuclear entre o Brasil e a Alemanha. A matéria, com o título, 
              Sólido, líquido e gasoso (Fest, flüssig, gasförmig), 
              fez uma apologia aos 3 estados da matéria mostrando que o 
              sólido acordo de cooperação para o desenvolvimento 
              de energia nuclear, estabelecido em 1975 pelo Chanceler Federal 
              alemão Helmut Schmidt e pelo então Presidente do Brasil 
              Ernesto Geisel, passou por um longo período no qual as expectativas 
              iniciais não foram concretizadas e, após quase 30 
              anos, dissolveu-se.
              
              O acordo Brasil-Alemanha previa a construção de oito 
              usinas, uma fábrica de reatores e uma planta de reprocessamento, 
              além da exploração, extração 
              e comercialização de urânio no Brasil. Durante 
              os quase 30 anos de vigência, apenas a usina de Angra 2 foi 
              construída com o apoio alemão e só começou 
              a funcionar depois de 25 anos de obra. Segundo o Greenpeace, 
              o orçamento final de Angra 2 ficou em torno de 10 bilhões 
              de dólares, enquanto a usina Angra 3 já teria custado 
              1,2 bilhão de dólares e precisaria de aproximadamente 
              a mesma quantia para ser concluída. A Angra 1 foi construída 
              antes do acordo com a Alemanha e seu principal reator, comprado 
              dos EUA, produz energia para o sistema elétrico Rio-São 
              Paulo, mas tem um dos mais baixos índices de eficiência 
              do mundo. 
              
              De acordo com o jornal alemão, o cancelamento do acordo, 
              oficializado em 18 de novembro, deve-se ao comprometimento do governo 
              e da indústria alemã em encerrar gradualmente a utilização 
              da energia nuclear para produção comercial de eletricidade. 
              Mesmo assim, a Alemanha ainda mantém acordo de cooperação 
              com mais de 20 países entre eles China e Irã. Ainda 
              segundo Die Zeite, o Ministro de Relações Exteriores 
              e membro do Partido Verde alemão, Joschka Fischer, nunca 
              escondeu a vontade de desfazer o acordo com o Brasil, mas havia 
              receio de que o governo brasileiro tomasse essa atitude como algo 
              não amigável. 
              
              A energia nuclear surgiu como alternativa promissora em relação 
              à energia elétrica, durante a Segunda Guerra Mundial. 
              No entanto, o acidente nuclear em Chernobyl, na Ucrânia, em 
              1986, levantou um questionamento mundial sobre as desvantagens do 
              uso dessa forma de energia. Hoje o mundo discute o que pode ser 
              feito para se obter uma redução ou controle dos impactos 
              ambientais manifestados devido ao uso intensivo das fontes não 
              renováveis de energia, o que levou à busca do uso 
              das fontes renováveis de energia. Ambientalistas alemãs 
              afirmam que o incremento do uso das fontes renováveis trará 
              benefícios ambientais e também uma diversificação 
              no uso das fontes de energia, evitando assim os riscos de descontinuidade 
              de abastecimento. Esse é o motivo para a substituição 
              gradual da energia nuclear na Alemanha por fontes renováveis 
              de energia, como a eólica e solar.
              
              O relatório de 2004 do Instituto Internacional de Pesquisa 
              Worldwatch mostra a Alemanha na liderança mundial 
              no setor da exploração das energias eólica 
              e solar, produzindo atualmente 1/3 da energia eólica do mundo. 
              Quanto à energia solar, a Alemanha possui mais de mil empresas 
              trabalhando no setor, ficando na segunda posição mundial 
              após o Japão, e já possui a maior usina elétrica 
              solar do mundo. Além disso, recentemente foi inaugurado em 
              Berlim o maior posto de abastecimento do mundo para veículos 
              movidos a hidrogênio. 
              
              O posicionamento contra o uso da tecnologia nuclear para a geração 
              de energia não é unânime entre os pesquisadores. 
              Para o ambientalista britânico James Lovelock, a tecnologia 
              nuclear é a única capaz de produzir quantidades expressivas 
              de energia sem comprometer ainda mais nossa atmosfera e acelerar 
              o processo de aquecimento global. A afirmação foi 
              feita em entrevista a Eletronuclear, 
              empresa responsável pela operação de Angra 
              1 e pela construção de Angra 2. 
              
              Atualmente a energia nuclear é a terceira fonte mais utilizada 
              no mundo, responsável por 16% da energia produzida mundialmente. 
              Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), 
              o predomínio no Brasil é de uso de hidroelétrica 
              e apenas 3% da nossa energia vem da tecnologia nuclear pelas usinas 
              de Angra 1 e 2, que respondem pelo abastecimento equivalente a 40% 
              das necessidades do Estado do Rio de Janeiro. Ainda segundo o MCT, 
              a energia nuclear produzida no Brasil tem um custo muito elevado 
              (cerca de R$ 36 milhões) devido à necessidade de se 
              enviar o urânio para ser enriquecido no exterior. (veja o 
              box sobre o processo de enriquecimento 
              do urânio). O Brasil possui uma das maiores reservas de urânio 
              do mundo e está de olho no tão cobiçado mercado 
              externo. 
              
            Novas 
              fontes de energia
              Mesmo com o término do acordo, a Alemanha se comprometeu 
              a cooperar no desenvolvimento de energias renováveis como 
              eólica e a solar no Brasil. Além disso, a perspectiva 
              é que a o país continue ajudando no desenvolvimento 
              de Angra 3 e no processo de enriquecimento de urânio. Ainda 
              de acordo com o Die Zeit, a Alemanha não quer ser 
              vista como mantenedora de acordos de apoio à tecnologia nuclear, 
              mas não esconde que o desenvolvimento dessa tecnologia é 
              um mal ainda necessário pois gera empregos e recursos para 
              o pais.
              
              Em abril de 2002, entrou em vigor a nova emenda de lei que proíbe 
              a construção de novas usinas na Alemanha. Porém, 
              atualmente o paísainda possui 38 mil pessoas trabalhando 
              na indústria e pesquisa atômica. Especialistas afirmam 
              que apesar dos grandes investimentos em energias renováveis, 
              fomentadas pelo governo alemão, não será possível 
              suprir a demanda de energia e estimam que será necessário 
              investir 80 bilhões de euros em novas usinas. Empresas alemãs 
              prevêem ainda o esgotamento do mercado nacional de energia 
              eólica apontando o Brasil como o futuro do setor sobre as 
              perspectivas de uso da energia eólica fora da Europa.
              
              
            
              
                | Enriquecimento 
                    do urânio
 O urânio encontrado no estado natural em rochas da crosta 
                    terrestre passa por um processo industrial para que possa 
                    ser usado como combustível para geração 
                    de energia elétrica em um reator nuclear. Primeiro 
                    o urânio é extraído, dissolvido, purificado 
                    e só depois passa pelo processo de enriquecimento que 
                    tem por objetivo aumentar a concentração do 
                    urânio.
 Fonte: MCT (voltar ao texto)
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