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              do São Francisco são canceladas
               
										
						
            				
            
              
            
              
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                | Rio 
                    São Francisco, na divisa dos Estados de Alagoas, à 
                    esquerda, e Sergipe. Créditos: André Gardini e Adriana Menezes
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            Exatamente 
              uma semana após o Conselho Nacional de Recursos Hídricos 
              (CNRH) ter sido impedido de votar o projeto de Transposição 
              do rio São Francisco, por força de liminar judicial, 
              o governo federal sofreu outra derrota. As dez audiências 
              públicas marcadas para acontecer entre os dias 6 e 20 de 
              dezembro, em Belo Horizonte (MG) e municípios do nordeste, 
              foram canceladas por mais uma liminar. Assim, qualquer ação 
              do governo que tente viabilizar o projeto de Transposição 
              está impedida por força judicial. A Assessoria de 
              Comunicação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente 
              e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que a 
              Procuradoria do Ibama e a Advocacia Geral da União entrou, 
              ontem, com um recurso de segurança para derrubar a liminar.
            A 
              liminar foi concedida pelo juiz em exercício da 14° Vara 
              da Justiça Federal, João Batista de Castro Júnior. 
              As audiências públicas seriam realizadas pelo Ibama 
              e pretendiam conceder a Licença Ambiental, para que o governo 
              iniciasse o processo de licitação e posterior execução 
              das obras.
            De 
              acordo com as subprocuradoras-gerais da República, Sandra 
              Cureau e Deborah Duprat, titulares das Câmaras de Coordenação 
              e Revisão (CCR) do Ministério Público Federal 
              (MPF) o Relatório de Impacto Ambiental (Rima), não 
              aborda uma importante questão do projeto: o custo da água 
              que chegará aos Estados receptores e, por não definir 
              uma área exata de influência do projeto, deixa de contemplar 
              as populações que serão afetadas pela obra. 
              De acordo com o Rima, serão construídos 720 quilômetros 
              de canais condutores de água nos dois eixos - Norte e Leste 
              - do projeto. Estão previstas a construção 
              de nove estações de bombeamento - que funcionam como 
              um elevador de água, 27 aquedutos e oito túneis, para 
              transportar as águas do São Francisco até os 
              rios e açudes da região semi-árida. Ainda, 
              no eixo norte, estão previstas a construção 
              de duas centrais hidrelétricas de pequeno porte, com capacidade 
              de geração de 40 mega watts (MW) e 12MW cada uma.
            
              
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                | Clique 
                    aqui para ampliar imagemEsquema 
                    de Intervenções Hidráulicas
 Crédito: Rima do Ministério da Integração 
                    Nacional
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            As 
              subprocuradoras-gerais da República também enfatizam 
              Outro motivo que levou à suspensão das audiências 
              públicas diz respeito a não viabilização 
              da participação popular nos locais escolhidos para 
              as audiências, além de deixarem de cumprir o principal 
              objetivo de informar a sociedade sobre o projeto e seus impactos 
              sócio-ambientais, pois a linguagem técnica empregada 
              é de difícil compreensão para os participantes.
              
              Para o geógrafo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), 
              Manuel Correia de Andrade, que estuda a região nordestina 
              desde 1952, também falta um estudo de impacto ecológico 
              na região sertaneja que, embora seja classificada como semi-árida, 
              é muito diversificada e, portanto, requer estudos específicos. 
              "Ao meu ver, deve-se fazer um estudo geológico, climático 
              e pedológico [solo] antes do projeto [de transposição 
              do São Francisco] e que atenda ao meio ambiente". Andrade 
              destaca que existem outras alternativas. Os rios maranhenses, Itapecuru, 
              Piraé e Paraíba, por exemplo, embora tenham volume 
              de água menor que o São Francisco, estes volumes são 
              ponderáveis e poderiam ser transpostos para o sertão 
              semi-árido, por um valor bastante inferior e com impactos 
              ecológicos menores. 
            A 
              liminar concedida pelo juiz Castro Junior foi uma resposta à 
              ação cautelar preparatória de ação 
              civil pública, promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil 
              - seção Bahia, Associação de Trabalhadores 
              Rurais da Bahia, Grupo Ambientalista da Bahia, Instituto de Ação 
              Ambiental da Bahia, Associação Movimento Paulo Jackson 
              e Centro de Estudos Sócio-Ambientais.