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              em criação animal 
               
										
						
            				
            				
              Em meados de 2005, a Sociedade Mundial para a Proteção 
              dos Animais (WSPA, em inglês) dará início no 
              Brasil à campanha World Farmwatch, iniciada em outros 
              países em 2002. O objetivo é contribuir para a diminuição 
              na produção industrial de aves pela forma de confinamento. 
              A organização não-governamental inglesa entregou 
              recentemente as primeiras conclusões de um relatório 
              científico que aponta riscos à saúde humana 
              decorrentes da produção animal industrial, como a 
              gripe asiática. O perigo de uma epidemia ainda é pauta 
              de discussão da Organização Mundial de Saúde 
              (OMS).
              
              A representante da WSPA no Brasil, Elizabeth McGregor, diz que está 
              pronta para uma forte reação dos produtores brasileiros, 
              mas afirma que eles estão atentos aos movimentos internacionais 
              contra essa forma de criação e abate, por isso já 
              procuram aos poucos se adequar. Em alguns países da União 
              Européia, por exemplo, já são proibidas as 
              gaiolas em bateria para galinhas poedeiras e jaulas parideiras para 
              porcas prenhes, com base no bem-estar animal.
              
              A posição atual brasileira - 33% de participação 
              nas exportações mundiais de carne de frango - foi 
              conquistada nos últimos cinco anos, quando o percentual era 
              de 15%. Atualmente, o percentual da produção avícola 
              representa 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Segundo 
              dados da União Brasileira de Avicultura (UBA), um surto da 
              gripe teria trágicas conseqüências e demoraria 
              até oito meses para a recuperação, caso o foco 
              fosse localizado rapidamente. Além disso, não há 
              nenhum laboratório no país que produza uma vacina 
              em período curto, o que poderia levar, ao menos, quatro meses. 
              Nesse período, a doença já estaria completamente 
              disseminada, em função da alta concentração 
              dos animais e sua baixa resistência a doenças.
              
              A forma mais provável pela qual o vírus poderia chegar 
              ao Brasil seria através de animais silvestres que entram 
              em contato com animais infectados e que podem ser hospedeiros do 
              vírus, como as aves. "Há um esforço muito 
              grande dos órgãos brasileiros de controle, que fazem 
              capturas periódicas de animais silvestres para ver se eles 
              têm a doença, mas é um controle muito difícil, 
              porque esses frangos confinados vivem concentrados, a doença 
              se propaga rapidamente, eles têm baixíssima resistência 
              e pegam, facilmente, o vírus", alerta Luiz Carlos Pinheiro 
              Machado Filho, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina 
              (UFSC) e consultor científico da WSPA.
              
              Produção Animal Industrial
              Criada há 50 anos em Londres, a 
              WSPA tem status de consultora junto à Organização 
              das Nações Unidas (ONU) e ao Conselho Europeu na questão 
              animal. Ela atua como uma espécie de federação 
              de ONGs, com 468 afiliadas em 126 países. McGregor afirma 
              que a gripe do frango é apenas um dos elementos de todos 
              os riscos que essa forma de produção representa à 
              saúde humana. "A gripe assusta porque pode ser uma epidemia, 
              mas há também a poluição dos rios pelo 
              sistema criatório intensivo de frangos e suínos, onde 
              os dejetos são jogados próximos a áreas urbanas 
              e poluem os lençóis freáticos", diz a 
              representante da entidade que atua desde 1991 no Brasil.
              
              Em função dos riscos à saúde humana 
              e animal que o sistema de produção animal industrial 
              praticado atualmente traz, Machado Filho defende o seu fim. "Mas 
              é preciso haver uma transição e devemos buscar 
              sistemas alternativos, por isso é necessário que haja 
              muita pesquisa", conclui.
              
              A começar pela seleção genética do animal 
              que é feita pelo produtor, 100% voltada para a produtividade. 
              A alimentação é outro aspecto ameaçador 
              à saúde humana, porque a ração dessas 
              aves é feita com vísceras de animais, o mesmo tipo 
              de ração que deu origem à chamada doença 
              da vaca louca, que nesse caso específico foi uma ração 
              bovina à base de ovelha. Com a ração animal, 
              as aves engordam um quilo comendo apenas 1,6 a 1,8 quilo de ração. 
              O animal que é preparado para o corte se torna vulnerável 
              a doenças, por ter baixa resistência (inclusive devido 
              ao estresse do confinamento) e por viver confinado (em espaços 
              de 12cm X 30cm, em média, para cada ave). Há também 
              o uso de antibióticos na ração, que atuam no 
              crescimento e na prevenção de doenças. 
              
              Cenário
							 Desde o início do ano, 11 países 
              identificaram a gripe avícola, entre eles os Estados Unidos 
              e países europeus, e cerca de 12 pessoas morreram no Vietnã 
              e 20 na Tailândia, vítimas da gripe das aves. A Holanda 
              foi assolada no ano passado e combateu a doença em sua produção 
              avícola por meio da implementação de zonas 
              de controle. Essa mesma proposta é defendida pela União 
              Brasileira de Avicultura (UBA). 
							
              De acordo com a OMS, em 2007, a Tailândia deve iniciar os 
              testes de uma vacina, já em desenvolvimento, para proteger 
              humanos da gripe do frango. A Organização afirma, 
              no entanto, que a volta da Síndrome Respiratória Aguda 
              Grave (Sars), como é conhecida em humanos, está praticamente 
              descartada. 
							
              Leia mais:
              - Brasil 
              prepara medidas para evitar gripe do frango