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Desafios para o futuro da ciência no Brasil
Lucia Melo

Tecnologia e inovação para o desenvolvimento empresarial
José Augusto Corrêa

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Tecnologia e inovação para o desenvolvimento empresarial

Um dos maiores desafios postos para o amadurecimento do setor de pesquisa & desenvolvimento no Brasil tem sido introduzir a prática de pesquisa tecnológicas e inovação no ambiente empresarial. O Diretor do Departamento de Tecnologia da Fiesp/Ciesp e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (EAESP - FGV), José Augusto Corrêa fala sobre as iniciativas em Ciência e Tecnologia nesse ambiente empresarial; suas inovações em produtos, processos, gestão e design, comentando também a importância da Propriedade Intelectual no Brasil. Corrêa fala sobre o papel da Fiesp/Ciesp em induzir as empresas a inovar e, juntamente com a sociedade, exercer pressão sobre os governos para criarem políticas públicas de incentivo à inovação tecnológica.

Com Ciência - Qual deve ser o papel da Fiesp/Ciesp no incentivo da prática da Ciência e da Tecnologia no ambiente industrial, como por exemplo a instalação de laboratórios que desenvolvam ciência nas indústrias?
José Augusto Corrêa -
Especificamente, acredito que ciência, com o sentido de estudar diversos campos chegando à fronteira do conhecimento, não é assunto para empresas, exceto em casos especiais.

Empresas devem inovar em produtos, processos, gestão e design, usando laboratórios próprios ou externos para isso.

O papel da Fiesp e do Ciesp é de induzir as empresas sócias do sistema a inovar, fazendo-as ver as vantagens disso. Por outro lado, como a inovação em todo o mundo é fortemente incentivada pela sociedade, através do Estado, temos que exercer pressão sobre nossos governos, para que criem políticas públicas de incentivo à inovação tecnológica.

Com Ciência - A indústria tem se posicionado favoravelmente aos incentivos do governo frente ao desenvolvimento de pesquisas nas indústrias, sob o argumento de que isso favorece o desenvolvimento nacional. Ao mesmo tempo, em geral, as inovações tecnológicas significam a diminuição do uso de mão-de-obra. Como equacionar essas duas coisas de maneira que esses investimentos não sejam concentradores de renda?
Corrêa -
Eu não uso a expressão mão-de-obra, pois trabalho humano está cada vez se sofisticando mais. É só lembrar como se faziam automóveis há vinte anos. Tudo era soldado por pessoas, por exemplo, trabalho hoje feito por robôs. Mas a inovação cria novas oportunidades. Em 1990 não se conhecia o CD, o notebook, o celular etc. Imagine quanto emprego se criou com todos esses novos produtos. O que ocorre também é que ninguém deseja trabalhar em condições insalubres ou desconfortáveis. Os próprios adicionais salariais legais a esses serviços são um estímulo econômico para viabilizar a automação. Empregos não especializados são extintos, mas há demanda crescente por pessoas bem qualificadas, o que gera a óbvia necessidade de treinamento.

Com Ciência - O acordo para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) prevê novas regras para os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento dentro das indústrias. Como os investimentos do governo através de programas de incentivo podem ser colocados em prática sem serem entendidos como subsídios?
Corrêa -
Como fiz constar do texto do artigo publicado na "Gazeta Mercantil" de 23/08, baseado em minha palestra na Conferência Regional de Ciência Tecnologia & Inovação, é um equívoco pensar-se que subsídios são proibidos. No acordo da OMC, no capítulo "Subsídios", estão claros os que são permitidos, chamados "não-acionáveis". O acordo teve o apoio dos países desenvolvidos, que nunca o subscreveriam se proibisse esse apoio às empresas, feito em larga escala pelos governos. É por isso que eles são desenvolvidos.

Com Ciência - Que tipos de programas ou parcerias a Fiesp/Ciesp mantém para estimular o empresariado a investir mais em ciência e tecnologia?
Corrêa -
Os mais conhecidos são os relativos a design. Mas como há inúmeras iniciativas de outras entidades, como o Sebrae, o IPT, a Finep, a Fapesp, etc, estamos preparando há meses o SPtec, fórum permanente que reunirá todos os envolvidos, para facilitar a divulgação do que existe, com uso de moderna tecnologia, reduzindo a dispersão de esforços. O lançamento do Sptec deverá ser em outubro.

Com Ciência - Qual a evolução de registros de patentes no Estado de São Paulo até o momento?
Corrêa -Não tenho os dados solicitados nesta pergunta. Mas propriedade intelectual é uma das nossas preocupações, pela falta de conhecimento da importância desse campo no Brasil. Isso inclui os governos que não investiram em educação divulgando a propriedade intelectual nas escolas. O resultado é que os inovadores não conhecem os caminhos do patenteamento e os governos mantêm uma estrutura que desestimula aqueles que porventura desejam trilhá-los.

Com Ciência - Como o senhor avalia a diferenciação de apoio à instalação de empresas nacionais e estrangeiras no país, em relação a benefícios fiscais. Uma reforma tributária pode alterar essa relação? Isso poderia significar benefícios para investimentos em P&D?
Corrêa -Certamente o problema ecológico mais grave do Brasil é a poluição tributária. Deixa longe as queimadas, os gases e o material particulado, pelos danos que está provocando às empresas e, por consequência, às pessoas que não vêem surgir os empregos necessários. As empresas estrangeiras inovam com juros negativos e nós, no Brasil pagamos Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais muitos pontos percentuais de juros, além de garantias comuns a financiamentos de pouco risco. Desenvolvimento tecnológico é investimento de altíssimo risco. Muitas tentativas têm que ser feitas, para que uma resulte em inovação comercializável. E o ambiente brasileiro para isso é extremamente hostil.

Atualizado em 10/09/01

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