|  
         
 Resenhas Enciclopédia 
            da Floresta Etnoconservação  Envie 
            sua resenha   | 
       
         
 
 Etnoconservação: 
              novos rumos para a conservação da natureza por Susana Dias "O 
              estudo dos saberes do Outro sobre a natureza é um exercício 
              difícil,  O vento da insustentabilidade sopra sobre a humanidade anunciando possíveis mudanças no clima do planeta. As nuvens que se aproximam trazem de volta à cena a discussão sobre a conservação da natureza por meio da criação de reservas naturais, porém focalizando a possibilidade de "seqüestrar o carbono" e suavizar os possíveis problemas decorrentes do efeito estufa. Vários projetos têm sido propostos desconsiderando questões relevantes sobre a conservação da natureza que são abordadas neste livro, organizado por Antonio Carlos Diegues. O livro reúne textos produzidos por antropólogos, historiadores, filósofos, cientistas políticos e naturais, de várias partes do mundo, que questionam os modelos de conservação fundamentados na ausência do ser humano, os interesses subjacentes à conservação do mundo selvagem que transformam a conservação da natureza em negócio, os princípios científicos e políticas que orientam a legislação das reservas, e a própria produção do conhecimento científico marcada durante certo tempo pela negação e exclusão do conhecimento dos povos tradicionais. Há fortes indícios de que os modelos adotados no Brasil, e em outros países em desenvolvimento, em parte importados de países desenvolvidos que apresentam uma realidade distinta da nossa, têm fracassado inclusive no que concerne à proteção da biodiversidade. Os autores narram inúmeras situações de conflitos com as comunidades locais que foram gerados com a implantação de reservas ou parques. O pesquisador indiano Ramachandra Guha destaca que, na Índia, por exemplo, a instalação de reservas criou problemas para as comunidades mais pobres como a falta de água, pastagens e combustíveis resultando em um empobrecimento da população e, inclusive, intensificando a degradação ambiental. Em grande parte esses conflitos estão relacionados ao modelo dominante de conservação que parte do princípio que a natureza para ser conservada deve estar separada das sociedades humanas. Nessa perspectiva qualquer intervenção humana é essencialmente negativa e prejudicial à conservação do mundo natural. Segundo Guha, entre os que defendem este modelo estão principalmente os habitantes das cidades, ONGs ambientalistas, elites governamentais e cientistas naturais, que apresentam objetivos os mais diversos - lazer, turismo, educação, conservação para a posteridade, preservação da biodiversidade - e que unem-se pela hostilidade às comunidades que habitavam, e habitam, as reservas, considerando-as as grandes responsáveis por efeitos como desaparecimento de espécies, erosão dos solos e desmatamentos. A idéia de criar parques para tigres na Índia, por exemplo, veio de uma elite de ex-caçadores e agências conservacionistas como a WWF. Porém, vários estudos mostram que as populações tradicionais apresentam formas de relação com a natureza que garantem de forma eficaz sua conservação. Stephan Schwartzaman apresenta em seu artigo alguns exemplos, entre eles o sucesso das reservas extrativistas na Amazônia que resultou de uma pressão do Conselho Nacional dos Seringueiros, uma organização criada por Chico Mendes, sobre o governo para que o subsídio à borracha fosse feito em bases sociais e ecológicas. Diegues, que também explorou esta questão no livro O Mito Moderno da Natureza Intocada, ressalta que quando se fala em modelos importados não está se referindo apenas à aspectos estruturais dos parques e reservas, mas também à própria forma de pensar a relação do ser humano com a natureza. O autor destaca que há uma grande resistência das instituições governamentais em começar a avaliar seus próprios modelos de conservação do mundo natural apesar dos inúmeros estudos já realizados.  Os 
              novos rumos para a conservação são marcados 
              por uma mudança de postura diante do conhecimento e práticas 
              das comunidades locais. A valorização dos saberes 
              de caiçaras, camponeses, índios, passa por uma revisão 
              da própria comunidade científica em relação 
              à imagem da ciência como a única que detém 
              o poder de indicar os caminhos da conservação. Além 
              disso, os cientistas estão buscando construir um novo cenário 
              teórico e metodológico que possa compreender as comunidades 
              locais o mais próximo possível da lógica delas. 
              Para essas comunidades a natureza é o lugar onde vivem, herdado 
              dos antepassados e sujeito a transformações decorrentes 
              de ações humanas e sobrenaturais. Esta visão 
              não carrega a dualidade cultura-natureza que influenciou 
              várias linhas de pensamento conservacionistas. "Os 
              pescadores buscam o semblante e olham para o onde ele corre, 
               
  | 
    |
|  
         | 
    ||
|  
         contato@comciencia.br 2002  |