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Ética e poder na sociedade da informação
Gilberto Dupas, Ed. Unesp, São Paulo, 2000.

por Rafael Evangelista

Para entendermos o que é e de que se constitui a tal Sociedade da Informação é preciso ir além do simples jogo de palavras e de frases de efeito que constituem o ideário da pós-modernidade. Faz-se necessário um profundo exame das causas e dos processos históricos que resultaram - na hipótese de terem resultado - nesse novo momento do capitalismo, que produz novas mercadorias; flexibiliza, precariza e impõe novas posturas no trabalho; cria novos laços sociais enquanto desfaz outros; e faz surgir novos atores sociais ao mesmo tempo em que mina o poder dos antigos.

É isso o que faz Gilberto Dupas no livro Ética e Poder na Sociedade da Informação, pequeno livro, porém de grande caráter explicativo sobre a emergência da sociedade pós-moderna. O autor, com uma perspectiva abrangente, coloca suas lentes principalmente na exclusão social que o processo de globalização vem criando.

Apesar de todas as conquistas da ciência, a humanidade não foi capaz de torná-las acessíveis a todos. Pelo contrário, nos últimos anos, o que se vê é um crescimento da riqueza e do alto padrão de vida de uns poucos ao custo do aumento da pobreza da maioria. Até mesmo alguns países que tinham conseguido contornar o problemas do desemprego e da miséria têm que enfrentar novamente essas questões no século XXI.

Trecho
"A ciência pós-moderna é o instrumento essencial da disputa das capacidades produtivas do Estado-nação. Sob a forma de mercadoria informacional indispensável ao poderio produtivo, o saber é o fator mais importante na competição mundial pelo poder. No entanto, na medida que perde poder para as transnacionais, esse Estado transforma-se em fator de opacidade para uma ideologia da transparência comunicacional, que se relaciona estritamente com a comercialização dos saberes." (p.122)
(...)
"Que fazem os cientistas chamados à televisão, entrevistados nos jornais, após algumas 'descobertas'? Eles contam a epopéia de um saber que, entretanto, é totalmente não épico " (p.125)

A ciência da segunda metade do século XX, que foi capaz de produzir bem-estar para alguns, é problematizada por Dupas pela "autonomização da técnica com relação a valores éticos". Segundo ele, os rumos da ciência não são controlados por decisões da sociedade. Todas as falas no sentido de uma maior precaução com os rumos do progresso tecnológico são lidas como posições exageradas daqueles que não querem um crescimento técnico. Devido a alguns êxitos das novas tecnologias, elas adquirem uma "auréola mágica e determinista, colocando-as acima da razão e da moral. O homem comum já tem o sentimento de estar submetido a potências invisíveis, embora reais, ativas e incontroláveis. Tais potências começam a ocupar o lugar deixado vago pelos gênios e deuses antigos. A razão técnica teria a sua própria lógica e um poder sem limites".

Segundo Dupas, o grande problema em colocar o destino da humanidade nas mão dos "magos da ciência" é que "o saber atual encontra-se a serviço do capital".O progresso das técnicas tomado como um processo determinado, unívoco e inexorável, somado à concepção dos cientistas como neutros, são "sofismas extremamente funcionais para o processo de acumulação do capital".

Um dos maiores méritos da análise empreendida por Dupas é conseguir integrar aspectos da cultura e da economia, fazendo suas observações sobre temas como a ciência, a flexibilização do trabalho e o processo de globalização ganharem maior sentido e profundidade. O cotidiano nas sociedades contemporâneas é apresentado como "uma imensa acumulação de espetáculos". Dupas fala na vida social degradando-se do "ser"para o "ter" e daí para o "parecer-ter" e em seguida para o "identificar-se-com-quem-parece-ser-ou-ter".

De fato, para poder articular-se em um ambiente em que os discursos ideológicos são vendidos como slogans de propaganda e em que a discordância com o modelo de sociedade proposto é vista como um "pensamento atrasado", é preciso integrar as diversas esferas em que o modo de dominação se impõe.

Atualizado em 10/03/01
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