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Resenhas

The Skeptical Environmentalist
Bjørn Lomborg

Debunking Pseudo-Scholarship: Things a journalist should know about The Skeptical Environmentalist
World Resources Institute

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Debunking Pseudo-Scholarship: Things a journalist should know about The Skeptical Environmentalist
World Resources Institute

por Rafael Evangelista

Além dos claros inimigos que Bjørn Lomborg, o autor de The Skeptical Environmentalist, conseguiu arregimentar - capazes até de jogar uma torta em sua cara, como mostra a foto ao lado - muitas autoridades do mundo ambientalista e da ciência levantaram suas vozes e apontaram defeitos no polêmico livro do estatístico dinamarquês. O World Resources Institute (WRI), ONG ambiental norte americana, disponibilizou em seu site, no endereço http://www.wri.org/press/mk_lomborg.html, um conjunto de textos voltados para a imprensa e para o público em geral, em que diversos argumentos do livro de Lomborg são colocados em questão.

Desse conjunto de textos, o principal documento se chama "Nove coisas que os jornalistas deveriam saber sobre The Skeptical Environmentalist". Nele, estão listados nove críticas ou observações sobre o livro de Lomborg, que servem para mostrar para os jornalistas como o livro não é uma obra confiável. De fato, a preocupação do WRI justifica-se pois The Skeptical Environmentalist ganhou bastante repercussão na mídia baseado na afirmação de que a situação ambiental no mundo não estaria tão ruim quanto apregoam os ambientalistas. Uma afirmação como essa, quando é lida rapidamente e sem cuidado, pode ter diferentes efeitos, entre eles o de que alguns leitores não dêem a devida importância a questões como o efeito estufa, a destruição da camada de ozônio, a poluição do ar e dos rios etc.

Então, segundo o WRI, o que os jornalistas devem saber sobre The Skeptical Environmentalist é que:

1. Ele é pseudo-acadêmico. Apesar de conter mais de 3000 notas de rodapé haveria, no livro, diversas citações escolhidas pelo autor apenas para reforçar seu ponto de vista - algumas contrariariam até o argumento do autor citado. Além disso muitos desses trabalhos não seriam confiáveis pois não passaram pelo sistema de revisão por pares.

2. Ele confunde assuntos. Haveria uma confusão entre a melhoria da qualidade de vida material com a melhoria das condições do meio ambiente. Entretanto, esses seriam dois assuntos diferentes podendo, inclusive, um ter efeito sobre o outro - mais industrialização, com a degradação ambiental decorrente, pode significar mais bens de consumo.

3. Há estatísticas falaciosas. Lomborg atribuiria as melhorias ambientais a melhorias no padrão de vida, ao invés de reputá-las às pesquisas científicas que possibilitam o entendimento dos problemas. Em países desenvolvidos altamente poluídos a melhoria da renda levaria automaticamente a melhorias no meio ambiente.

4. A influência da aquicultura é ignorada. Ao falar dos oceanos, o autor cita a produtividade marinha que teria quase dobrado desde a década de 1970. Contudo, em outra parte do livro, o próprio Lomborg mostra dados que dizem que a pesca aumentou apenas 20% desde 1970. O restante da produção teria origem na criação comercial de peixes, a aquicultura - proporcionalmente, então a pesca passou a ser menos representativa. Além disso, o aumento da pesca não significa o aumento da população de peixes, apenas mostra a maior eficiência do processo.

5. Truques estatísticos são usados para diminuir a importância das florestas. Através da expressão da área total de florestas do mundo em porcentagem, Lomborg diminuiria o impacto de números como "milhões de hectares". Grandes áreas devastadas seria reduzidas a frações da área total da Terra. Lomborg também misturaria áreas de floresta primária, natural, com áreas de plantio de árvores.

6. A extinção de espécies é minimizada. Lomborg afirma que os ambientalistas exageram o número de espécies em extinção. Segundo o WRI, entretanto, se os dados oferecidos por Lomborg são utilizados para se calcular o número de espécies extintas por ano o resultado a que se chega é o mesmo que Lomborg refuta: 40000 espécies por ano, 1500 mais rápido que a taxa natural esperada.

7. Estudos importantes sobre mudanças climáticas são ignorados. Lomborg acha que as mudanças climáticas não serão grandes e que as ações a redução da emissão de gás carbônico são muito caras. No entanto, o WRI aponta que o autor usa estimativas de gasto feitas para 30 anos a as calcula como anuais. O WRI lembra também de um exaustivo estudo feito pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos que afirma a gravidade das mudanças climáticas. Lomborg citaria seletivamente alguns estudos econômicos para fundamentar seu argumento de que é mais caro cortar as emissões de gás carbônico do que pagar o custo de seus efeitos.

8. O autor tem credenciais limitadas. O WRI aponta que Lomborg é apenas professor adjunto da cadeira de estatística do Departamento de Ciência Política da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Sua especialidade seria Teoria dos Jogos e simulações computacionais e ele não teria treinamento em áreas ambientais.

9. É preciso cautela. O WRI vai criar um novo site com a documentação de todas as citações mal feitas, mal uso de dados e interpretações contraditórias que constariam no livro de Lomborg. O autor estaria agindo dentro da tradição da literatura que quer apenas causar polêmica e sensacionalismo.

O leitor que estiver interessado em um detalhamento maior das críticas feitas ao trabalho de Lomborg pode acessar também o site da revista Grist. No endereço há links para textos de especialistas que analisam a abordagem do autor em assuntos como clima, extinção de espécies, estatística, florestas e outros. Entre os autores estão cientistas renomados como o fundador do Worldwatch Institute Lester R. Brown e o biólogo Edward Wilson.

Se o movimento ambiental tem interesse em exagerar alguns dados para obter publicidade e atenção, Bjørn Lomborg também conseguiu garantir sua cota de publicidade - e de venda de livros - ao acusar os ecologistas. É preciso cuidado ao analisar tanto os alarmes dos ecologistas quanto as críticas do ambientalista cético Bjørn Lomborg pois os interesses são muitos, há grandes somas de dinheiro envolvida e o que está em jogo pode afetar a todo de maneira dramática.

Atualizado em 10/02/02
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