O que é o produto natural

O sentido do termo "produto natural" em farmacologia é diferente daquele que empregamos no senso comum. Para entender o que ele significa para os farmacologistas, é preciso pensar que todo medicamento tem na sua origem uma molécula (chamada molécula-líder), a qual tem o efeito curativo desejado para um problema (químico) previamente identificado no organismo humano. A obtenção de tal molécula pode ser feita através de diferentes procedimentos de pesquisa. Um deles é o de investigar, na natureza, substâncias que tenham esse efeito. Foi assim que surgiram, por exemplo, antibióticos como a eritromicina; imunosupressores, como a ciclosporina A; e anti-tumorais, como o paclitaxel.

É nesse sentido que se fala de "produtos naturais". Eles são uma fonte de moléculas-líder, cuja principal vantagem é a de gerar medicamentos com menos efeitos colaterais e passíveis de utilização em sua forma natural. Por outro lado, eles envolvem geralmente mais tempo de pesquisa, o que cada vez mais é considerado uma forte limitação, já que a indústria farmacêutica impõe pressão constante e crescente pela redução dos prazos de criação de novos medicamentos.

Com o desenvolvimento de novos processos de descoberta de fármacos, como o ultrahigh-throughput screening (uUHTS), química combinatória e tecnologias baseadas na genômica, a pesquisa de produtos naturais parece ter perdido importância. Mas esta é uma falsa impressão, como argumentam Kai Bindseil e colaboradores, em artigo publicado na revista Drug Discovery Today, em agosto de 2001 . Eles lembram que dos 520 novos fármacos registrados entre 1983 e 1994, 39% eram produtos naturais (PN) ou seus derivados. Além disso, novos métodos de análise estão incentivando e desenvolvendo a pesquisa com produtos naturais. Um deles é a análise de compostos-puros (pure-compound screening), que consiste em comparar estruturas moleculares já conhecidas, estocadas em bancos de dados, com a molécula inovadora, permitindo a identificação de características já conhecidas e a especificação de procedimentos posteriores mais eficientes.

Para o Brasil, investir na pesquisa de produtos naturais é uma estratégia muito interessante para o desenvolvimento do setor farmacêutico, conforme argumenta o diretor do Centro de Toxinologia Aplicada (CAT) do Instituto Butantã, Antônio Camargo. "Com a enorme biodiversidade de que dispõe o país, há grande potencial de descoberta de novas moléculas em produtos naturais, muitos dos quais não existem em outros lugares do mundo", diz o pesquisador. Desse modo, a pesquisa com produtos naturais permitiria, além do potencial de gerar medicamentos mais eficazes, explorar melhor os recursos da fauna e flora brasileiras. (MM)