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Aids deteriora condições sócio-econômicas
de países africanos

Apesar dos avanços terapêuticos da aids que levaram a uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes, a África ainda é o continente mais prejudicado pela doença. As previsões para os próximos anos não são nada otimistas. Até 2020, 38 países, sendo 34 africanos, sofrerão com redução de 5% a 35% na sua população economicamente ativa, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para HIV/AIDS (Unaids). "A aids tem produzido um profundo impacto em todos os setores das sociedades sul-africanas atingidas pela epidemia (educação, saúde, economia), colocando em risco, inclusive a governabilidade e sustentabilidade de alguns países", pontua Paulo Roberto Teixeira, consultor do Programa das Nações Unidas para Aids e do Comitê Internacional para Aids e Governabilidade na África.

O último relatório, divulgado na Conferência Mundial sobre Aids realizada na Tailândia em julho deste ano, mostrou que a infecção pelo HIV na chamada África sub-saariana está provocando fortes abalos na estrutura social do país. Esses abalos, que já estão sendo sentidos, e devem se intensificar, são um reflexo da escassez de mão de obra na agricultura, provocada pelas mortes dos portadores de aids.

"Nos países africanos, a população rural ainda é majoritária e suas economias são fortemente baseadas na produção agrícola. Como as mortes por aids concentram-se na faixa produtiva da população, pode-se prever para as próximas décadas um forte abalo nesse setor, além de um 'vácuo' cultural, tecnológico e educacional provocado pela falta de capital humano", alerta Teixeira.

De acordo com o consultor, a redução na expectativa e qualidade de vida trazida pela epidemia de aids neutralizou os avanços obtidos na área de saúde nas últimas cinco décadas, como as melhorias na nutrição e nas condições de higiene, saneamento básico e vacinação infantil.

Segundo relatório, além dos impactos no sistema produtivo de maneira geral, as famílias africanas estão sofrendo uma profunda desarticulação, uma vez que mulheres e crianças precisam cada vez mais assumir a responsabilidade pelos doentes e pela manutenção da casa. As pessoas que precisam fazer um tratamento contra aids na África têm apresentado uma queda de 60% a 80% na renda, em função da compra de medicamentos, e o número de crianças que deixa a escola para ajudar em casa cresce a cada dia.

"No Brasil os gastos relacionados a Aids são pagos pelo Estado, além disso, temos capacidade de produzir remédios com custo mais barato e com boa qualidade, o que não acontece com os países africanos", afirma Francisco Pinkusfeld Bastos, médico e especialista em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Bastos acredita que a determinação estrutural da epidemia africana é tal que não se pode reverter apenas com ações na área de saúde, mas são necessárias políticas de apoio econômico e suporte social e comunitário. "Em uma cidade em que 40% das pessoas estão infectadas, como acontece em cidades africanas, acaba havendo um efeito de desorganização sobre tudo. Os próprios médicos, enfermeiras e professores estão doentes. Nessa realidade, mesmo que houvesse remédios, não seria possível fazer uma rede de distribuição e controle que torne o programa de saúde efetivo", conclui.

Outros dados preocupantes revelam que metade das novas infecções pelo HIV concentram-se na população afro-americana e que, caso se mantenham os índices atuais de disseminação, antes de 2020, cerca de 1/5 da população agrícola da África sub-saariana deve estar infectada com HIV.

Aids no Brasil
No caso brasileiro, os índices e projeções feitas pelo relatório da Unaids são otimistas. O país possui uma média de infecção pelo HIV de menos de 1% na população. "O quadro é inquestionavelmente positivo, mas otimismo não pode afrouxar iniciativas públicas e individuais de prevenção e tratamento", alerta o pesquisador da Fiocruz. Além do índice de infecção, considerado baixo pelos órgãos mundiais de saúde, os casos de aids estão em declínio na maior parte das regiões do país.

"O acesso à terapia hoje está muito ligado à prevenção, além de viverem mais e melhor através do tratamento as pessoas podem ficar com a carga viral próxima de zero e, de uma forma geral, quando você reduz o vírus circulante do HIV você diminui as chances de transmissão", explica Bastos. Segundo ele, é importante salientar que isso não significa cura ou risco de transmissão zero, mas redução das chances de propagação.

Ao contrário da África, onde as condições sócio-econômicas são consideradas as principais responsáveis pela transmissão do HIV, no Brasil a transmissão está relacionada ao uso de drogas injetáveis e relações sexuais entre homossexuais masculinos. Esses dois grupos são os mais atingidos desde o auge da epidemia na década de 1980. Segundo o relatório da Unaids, em algumas cidades brasileiras 60% dos usuários de drogas introvenosas possuem HIV.

Atualizado em 04/10/04
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