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              A construção da posição brasileira sobre o Regime Internacional de Acesso e Repartição de Benefícios da Biodiversidade começou a ser sistematizada durante um seminário em Brasília nos dias 9 e 10 de novembro, organizado pelo Ministério do Meio Ambiente, Ministério das Relações Exteriores e diversas ONGs. Fernando Mathias, advogado do Instituto Socioambiental, destaca que, durante o evento, foram expostas as dificuldades do Brasil em estabelecer uma posição internacional, diante da incerteza em relação à lei de recursos genéticos do país. O seminário deverá subsidiar a posição do governo no encontro sobre o tema que acontecerá na Tailândia, em fevereiro do ano que vem. Os 180 países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica estarão lá para preparar o terreno para a próxima Conferência das Partes, a ser realizada no Brasil em fevereiro de 2006. 
						Atualmente, a regulamentação de acesso e proteção aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais está por conta de uma Medida Provisória (MP). O anteprojeto que substituirá a MP foi elaborado em 2003 com a participação de representantes de comunidades tradicionais, comunidades científicas e de ONGs, em uma câmara criada pelo Conselho do Patrimônio Genético (CGEN). Porém, desde dezembro daquele ano, o texto foi para a Casa Civil e a discussão fechou-se. As divergências existentes nos diferentes ministérios, quanto aos pontos que constam no anteprojeto, preocupam alguns dos representantes. "Tememos pelo grau de retalhamento que poderá acontecer. Estamos imaginando que a proposta poderá sair bem diferente da que foi elaborada pela câmara do CGEN", lamenta Mathias.
						Já Mauro Wilian Barbosa Almeida, antropólogo da Unicamp e representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na área de humanas do Conselho, espera que o texto do anteprojeto seja mantido em sua integridade e que cause um amplo debate. "É possível que o texto enfrente uma reação das empresas de biotecnologia e dos pesquisadores que irão encontrar limites antes inexistentes para o acesso e uso da biodiversidade, devido à ênfase que o texto dá na proteção do patrimônio genético e dos conhecimentos tradicionais. Houve um esforço para distinguir as pesquisas com finalidade científica das que apresentam finalidade comercial", avalia o pesquisador, lembrando do esforço feito pela câmara para contemplar ao máximo as diferentes dimensões do problema. 
						O caso Katukina
							Um dos desafios enfrentados pelos membros da câmara criada pelo CGEN foi pensar em como uma legislação pode regulamentar a proteção e repartição justa dos benefícios decorrentes do uso dos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade.
						
            Mauro 
              Almeida lembra que em 2003 representantes dos Katukina procuraram 
              o Conselho e solicitaram ajuda na proteção aos seus 
              conhecimentos tradicionais. A "vacina 
              do sapo", uma secreção da rã Phyllomedusa 
              bicolor utilizada em diferentes rituais pela tribo, estava ameaçada. 
              Desde a década de 1970, várias pesquisas vêm 
              sendo realizadas sobre as propriedades da secreção 
              da rã, primeiro por pesquisadores italianos, depois franceses, 
              israelitas e, mais tarde, por pesquisadores norte-americanos da 
              Universidade de Kentucky que, inclusive, patentearam uma das substâncias 
              encontradas na secreção em parceria com a empresa 
              farmacêutica Zymogenetics. O caso serviu de referência 
              para elaboração do texto do anteprojeto, pelos membros 
              do CGEN que visitaram a tribo.
						
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