Notícias da Semana

Notícias Anteriores

Eventos
Março
Abril

Maio
Junho

Divulgue
seu evento


 


Conflito de interesses no Piauí resulta em ameaças à equipe arqueológica


No sertão do Piauí está a maior concentração de pinturas rupestres do mundo, boa parte delas no Parque Nacional da Serra da Capivara. Administrado pela Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), o parque foi construído em 1979 e concentra cerca de 700 sítios arqueológicos, dos quais 590 têm pinturas rupestres. Atualmente, o Parque da Serra da Capivara enfrenta uma de suas piores crises desde que foi fundado: além das dificuldades financeiras, que comprometem a manutenção básica do parque, parte da equipe que trabalha na região está sendo ameaçada de morte desde o começo de março. Entre aqueles sob ameaça está a arqueóloga Niède Guidon, fundadora do parque, pesquisadora dos sítios da área há 30 anos e presidente da Fumdham. De acordo com a assessoria da Fundação, as ameaças podem ter vindo tanto de conflitos de terra com a população local, quanto de disputas políticas.

De acordo com Guidon, a idéia inicial do parque era construir uma série de projetos sociais para atender a população, o que acabou não aconteceu por falta de recursos. "Tivemos que fechar algumas escolas construídas na região do parque porque não tínhamos como mantê-las", exemplifica. Atualmente, o parque tem sofrido constantes ataques ao patrimônio, que se intensificaram neste ano. A arqueóloga conta que além de roubos de peças e destruição de pinturas rupestres (muitas vezes irreversíveis), há ainda uma constante ameaça à flora e fauna da região, principalmente devido à caça promovida pelas comunidades locais, considerada ilícita. Mas a caça para quem vive no sertão do Piauí pode ser um meio de sobrevivência já que na região, riqueza e pobreza convivem proximamente. Ao lado de São Raimundo Nonato, que concentra boa parte da riqueza arqueológica da região, está a cidade de Guaribas, considerada a mais pobre do país, onde o presidente Lula lançou o programa Fome Zero em 2003.

O problema com as invasões no local agravou-se no ano passado, quando o Incra anunciou que faria um assentamento na região. Desde então, estima-se que mais de mil famílias se inscreveram para serem assentadas, além de outras 200 que moram na vizinhança do Parque.Em fevereiro, Niède Guidon reuniu-se com representantes da Procuradoria do Meio Ambiente do Piauí e da Procuradoria da República, que determinaram a retirada das famílias que ocupam a área do entorno do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Pintura Rupestre
Créditos: Arquivo Fundham
Panorâmica do Parque Serra da Capivara. Créditos: Arquivo Fundham

Conflito de terras
O conflito de interesses nas redondezas do parque vai além das comunidades locais. De acordo com a assessoria da Fundham, existem grandes projetos econômicos na região como o plantio de mamona para a produção do biodiesel, que utiliza mão-de-obra dos assentamentos rurais do sertão do Piauí. Outro agravante apontado é que os assentamentos estão localizados em área de acesso da fauna entre os Parques Nacionais da Serra da Capivara e o da Serra das Confusões, de acordo com informações publicadas no Jornal da Ciência. Além disso, o fato de jazidas de níquel terem sido descobertas na região chamaria a atenção de várias empresas de grande porte dedicadas à sua exploração.

Para o grupo coordenado por Guidon, a solução que promoveria o desenvolvimento econômico e social da região seria o estímulo do turismo justamente com as atividades do parque. Atualmente, as duas estradas federais que dão acesso ao parque, de Teresina e de Petrolina para São Raimundo Nonato, estão com problemas de tráfego por causa de buracos. Para as vias, não há previsão de obras, mas o aeroporto internacional está sendo construído pelo governo do Piauí desde 1996. "O povo de São Raimundo Nonato e região não tem condição, mas deveria perceber, que a tábua de salvação chama-se aeroporto internacional", enfatiza a assessoria. A previsão é que ele fique pronto ainda neste ano.

De acordo com um levantamento feito por especialistas suíços e italianos, o Serra da Capivara pode receber, por ano, cerca de três milhões de visitantes, caso haja investimento em infra-estrutura. Atualmente, o parque recebe uma média de apenas 15 mil turistas ao ano. "Investimentos iniciais em infra-estrutura já conseguiriam atrair um fluxo considerável de turista à região e promover o aquecimento da economia local", diz.

Um dos agravantes da situação da Fundação Museu Homem do Homem Americano é o orçamento flutuante, vindo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). No ano passado, uma crise financeira levou a Fundação a buscar parcerias com a Petrobras, Correios e Ministério da Cultura com R$ 1 milhão e recorrer ao trabalho voluntário de funcionários que foram demitidos. No final de 2003, o governo liberou R$ 50 mil para o parque, sendo que seriam necessários, segundo estimativas, mais de R$ 200 mil por mês para a sua manutenção. E em 2001, a falta de verbas levou a instituição a interromper parte dos seus projetos sociais, que incluíam postos de saúde para a população local, escolas para crianças e aulas de artesanato para os adultos. Para este ano, o orçamento ainda está em negociação, mas a presidente da Fumdham acredita que o ideal seria obter um orçamento fixo para o Parque.

O ano de 2005 começou turbulento no que se refere aos conflitos de terras brasileiras. No início de fevereiro, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi assassinada na Amazônia, onde lutou por mais de 25 anos para a manutenção da floresta. Pouco depois, ainda em fevereiro, o ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho também foi assassinado, desta vez no Rio de Janeiro.


Exposição mostra riqueza arqueológica da região

A riqueza arqueológica da região do Parque da Serra da Capivara e de outras regiões do Brasil - como os sambaquis do litoral e as cerâmicas marajoara da Amazônia - pode ser conferida na exposição Antes - Histórias da Pré-História em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília, até o dia 10 de abril. A exposição reúne peças, fotos e vídeos que contribuem para a compreensão da importância da preservação dos sítios arqueológicos e do trabalho arqueológico. Também estão presentes algumas peças de países como Peru, Espanha, Romênia, Polônia, Alemanha, Hungria, Austrália, entre outros. A previsão é que a exposição siga em julho para o CCBB de São Paulo, onde deverá ficar até setembro.

 

Leia mais:
- Artigo da Niède Guidon na ComCiência Arqueologia da região do Parque Nacional Serra da Capivara - Sudeste do Piauí
- Brasil é rico em sítios arqueológicos, mas poucos sabem disso
-Monção de apoio a Fundham

Atualizado em 18/03/05
http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2001
SBPC/Labjor

Brasil