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À
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Carlos Vogt
Compreender a dinâmica do cérebro e de suas conexões com as funções psíquicas, tanto em estado de normalidade como em estados patológicos é, de modo geral, o objetivo da Neurociência. Pela riqueza dos fenômenos envolvidos e pela complexidade de seu objeto de estudo, entende-se que a Neurociência se caracteriza, cada vez mais como campo do conhecimento eminentemente multidisciplinar e, operacionalmente, multi-institucional. No Brasil, vários grupos de pesquisa se destacam e algumas iniciativas de programas agregadores têm sido tomadas e buscam ser implementadas. Uma dessas iniciativas é a que se organiza em torno do Projeto CInAPCe - Cooperação Interinstitucional de Apoio a Pesquisas sobre o Cérebro - que visa à formação de uma rede de grupos de pesquisa e laboratórios voltados exatamente ao estudo da dinâmica cerebral normal e patológica. Vários grupos de pesquisa, de diferentes instituições, pretende-se que participem ativamente do projeto que hoje está organizado em duas linhas principais, a de Neurociência, propriamente dita, e a de Técnicas, Tecnologias e Modelos. Esta segunda linha compreende as seguintes áreas temáticas, com ênfase nas técnicas, nas tecnologias e nos métodos que a Biofísica pode oferecer: ressonância magnética; neurofisiologia; medicina nuclear; redes neurais, modelos teóricos e simulações; instrumentação. A primeira linha, de Neurociência, compreende: epilepsia; doenças neurodegenerativas; desenvolvimento e plasticidade; neuropsicologia/neuropsiquiatria.
O projeto é, como diz o professor Li Li Min, da Unicamp, um dos responsáveis por sua organização e coordenação, uma adaptação das diretrizes da Campanha Global contra Epilepsia - Epilepsia Fora das Sombras -, lançado em 1997 e liderada pela Organização Mundial de Saúde (WHO), Liga Internacional Contra Epilepsia (ILAE) e Associação Internacional dos Pacientes com Epilepsia (IBE). Trata-se, pois, de uma iniciativa para integrar o Brasil nos grandes movimentos internacionais para tratamento da doença e que envolve, além dos aspectos assistenciais de saúde, de metodologias de diagnóstico, de técnicas de abordagem terapêutica, de formas de apoio psicológico e social, pesquisas científicas fundamentais em vários campos do conhecimento e o uso de tecnologias avançadas para compreensão dos mecanismos de funcionamento do cérebro humano, criando, por interação necessária, áreas epistemológicas em que se cruzam, convivem e se complementam a física, a biologia, a medicina, as ciências sociais e as tecnologias de informação.
Um desses grupos é o que se organiza, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em torno das pesquisas do professor Ésper Cavalheiro que desenvolveu, juntamente com o polonês Lechoslaw Turski, um método experimental para o estudo das lesões associadas ao mal epiléptico e que consiste na administração de uma dose elevada de policarpina para induzir em ratos o estado de excitação neuronal que é conhecido como mal epiléptico. A policarpina é uma droga derivada da planta sul-americana Pilocarpus jaborandi, utilizada como colírio no tratamento do glaucoma, sendo que o jaborandi, conforme se pode ler em José Ribeiro do Vale, A Farmacologia do Brasil, foi introduzido em Terapêutica em 1874, pelo médico pernambucano Sinfrônio Coutinho. Por outro lado, o jaborandi e o curare parecem ser, ambos no século XIX, segundo especialistas, as duas únicas inovações farmacêuticas do Brasil até há anos recentes. De qualquer modo, no domínio da Farmacologia para o tratamento da epilepsia, o país tem avançado e na própria Unifesp, apoiado pela Fapesp, um grupo de pesquisadores da equipe do professor Luiz Eugênio Araújo de Moraes Mello, do Laboratório de Neurofisiologia, vem desenvolvendo um importante medicamento a base de sais de escopolamina, substância usada para provocar amnésia e que poderá contribuir fortemente para evitar o surgimento da epilepsia pós-traumática, decorrente de traumas provocados por fortes pancadas na cabeça. Os grupos de pesquisa da Unifesp, dada a sua importância científica e relevância social de seus trabalhos, foram objetos de reportagem de capa da revista Pesquisa Fapesp, no número 66, de julho de 2001.
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Atualizado em 10/07/2002 |
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