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Um guia diferente
Antonio Augusto Arantes

Produzindo um mapa cultural para São Paulo
João Baptista da Costa Aguiar

 

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Produzindo um mapa cultural para São Paulo

João Baptista da Costa Aguiar é designer gráfico, autor de trabalhos bastante conhecidos, principalmente sobre São Paulo, sua cidade natal, pela qual afirma ter grande afeto. No governo de Luíza Erundina, de 1989 a 1992, ele foi responsável por toda a programação visual da Secretaria de Cultura, na época sob a gestão da filósofa Marilena Chauí. O trabalho teve boa repercussão e o levou a desenvolver também a marca da prefeitura petista e trabalhos de sinalização para outros departamentos da administração municipal. Agora, após muitos anos distante da prefeitura de São Paulo, João Baptista volta a desenvolver um produto para a cidade que tanto ama. Retomando uma antiga idéia, ele está desenhando um mapa cultural de São Paulo, que inicialmente seria impresso, mas teve o seu projeto adaptado para a Internet.


Com Ciência - Como é o mapa cultural de São Paulo?
João Baptista da Costa Aguiar - Ele é um guia que traz diversas informações culturais. A partir de duas imagens da cidade, uma em foto feita por satélite e a outra de um mapa cartográfico (as duas ficam na tela do computador), o usuário vê São Paulo para descobrir onde está, por exemplo, o Masp. Isso é vital para o bom entendimento do projeto: o usuário olha a cidade pelos mapas e a partir disso detecta a sua cultura. É claro que a coisa mais evidente é a cultura "oficializada", como o Masp, a Bienal, a Biblioteca Mário de Andrade. Mas o diferencial é a cultura espontânea que é divulgada. Os guias comuns, publicados muitas vezes em revistas semanais e nos jornais diários não informam sobre as manifestações espontâneas da população e sim, apenas as atividades culturais oficiais. O que esse mapa traz de original é que, na medida em que se propõe a identificar essas manifestações culturais, o usuário fica conhecendo também as atividades fora do oficial, seja uma roda de pagode em Itaquera ou uma concentração de bordadeiras não sei onde. Aí surge uma discussão que é a de como definir o que é cultura e o que não é. Pagode em Itaquera é cultura ou não é? A bordadeira de não sei onde, ou os caras que fazem rap na Cidade Tiradentes é cultura ou não é cultura? A cidade, como uma usina cultural, tem muitas atividades que inclusive não há como classificar. Cabe, entretanto, ao mapa mostrá-las. Para isso criamos a seção de cultura espontânea.

Com Ciência - Segundo sua explicação, o mapa permite várias leituras. De que maneira?
João Baptista - Você tem "viéses" para escolher. Tem o viés da literatura, da música, do cinema e de várias outras expressões da arte. Ou seja, a mesma malha visual permite diferentes leituras, mas sempre olhando a cidade. A primeira informação é a imagem da cidade. Sobre aquela malha é possível ver tudo que há sobre uma expressão cultural desejada. E também é possível saber dos cursos. Por exemplo, um curso de gravura no Itaim Paulista ou um curso de fotografia na Vila Mariana. Tudo deverá estar contido no mapa.

Com Ciência - Como exatamente surgiu a idéia?
João Baptista - A idéia surgiu em 1989, quando a Internet era ainda uma novidade. Na época, a secretária de cultura era a professora Marilena Chauí, que se entusiasmou muito com o projeto e colocou-o como uma de suas prioridades, mas ele começou a trombar com uma série de questões legais e administrativas e acabou não saindo. Na época, tinha sido programado para ser afixado em totens urbanos e teria também uma versão impressa [para ser distribuída]. Em determinados lugares haveria totens com uma sinalização dizendo: "Você está aqui". O mapa teria a localização exata e indicações de como chegar aos museus, centros culturais, teatros, etc. A Internet ampliou as possibilidades do projeto.

Com Ciência - Em que fase está o trabalho?
João Baptista
- Agora, com a volta de uma administração petista e a entrada de Marco Aurélio Garcia na Secretaria de Cultura, surgiu a oportunidade de retomarmos a idéia do mapa e eu pensei na Internet como suporte, mesmo porque a Secretaria já tem material impresso com sua agenda cultural. Além disso, os museus e as galerias também já possuem seu próprio material para divulgar suas atividades. O mapa cultural serviria como suporte que permite englobar todas as atividades. É claro que ele não supre todas as necessidades, mesmo porque o acesso à Internet ainda não é tão democratizado quanto se espera ou se deseja. Há essa limitação. Mas por outro lado permite dar magnitude com várias leituras, com acesso a outros sites, o que só é possível pela Internet. Fazer isso via papel é função de um guia, mas não do mapa. Aliás, o grande risco é ele ser confundido com um guia. Na verdade, ele é muito mais um demonstrador do "caldo de cultura". Não a cultura aparente, convencional, mas sim a cultura espontânea que se descobre nos diferentes pontos da cidade, que pode ser um tipo de artesanato que se faz em um bairro afastado ou um tipo de culinária em uma vila próxima ao centro e que se popularizou. Esse é o barato do mapa, pelo menos é assim que eu o vejo.

Com Ciência - Como o mapa será construído e atualizado?
João Baptista
- A idéia é ter uma sala de situação, uma redação, onde se agrupariam as informações. Haveria pesquisadores de campo, que sairiam para atualizar as informações a partir de uma divisão da cidade em áreas. Em períodos determinados, eles trabalhariam em diferentes regiões, entregariam as informações e partiriam para pesquisar outras áreas. Em dois anos, já deveriam ter as informações ao menos do centro estendido (até o rio Pinheiros e o Tietê). Para isso, haveria o envolvimento de universidades. Temos, em preparação, um convênio com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), uma parceria com a FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da Universidade Estadual de São Paulo (USP) e com empresas de tecnologia, que seriam as parceiras ideais para auxiliar na questão da Internet e da tecnologia de mapeamento, pois utilizar-se-ia o GPS (Global Positioning System), que é um sistema de processamento por satélite. O material fotográfico já existe, mas é preciso atualizá-lo periodicamente. A prefeitura faz isso em média a cada dois anos. Em seguida, esse material precisa ser digitalizado e depois inserido no sistema. As imagens, tanto de satélite, como do mapa cartográfico, que ficam na tela do computador representam apenas uma parte do mapa da cidade. Ao 'clicar' nas setas para ver o que há ao lado, essa imagem fecha e o sistema abre outro mapa, que é a imagem que se segue e que completa o todo. É como um dominó. À medida que você vai andando com o mouse ela vai fechando uma tela e abrindo outra. Trata-se de uma tecnologia razoavelmente sofisticada. Mas ela existe e é disponível.

Com Ciência - Seus trabalhos anteriores na prefeitura de São Paulo lhe inspiraram de alguma forma neste projeto?
João Baptista
- Quando eu propus criar a identidade visual da Secretaria de Cultura, na gestão de Marilena Chauí, preparei um sistema de logotipos no qual a secretaria teria tantas marcas quantas as atividades que realizasse. Se estivesse fazendo algo sobre dança, a marca incorporava um ícone que remetesse à dança; se fosse sobre questões urbanas, a mesma coisa e assim por diante. Era um sistema de logomarca móvel. A Marilena gostou disso, levou para a prefeita, que também gostou, e que me pediu para fazer a logomarca da cidade. Eu obviamente fiquei envaidecido por poder fazer a marca da minha cidade. Mas foi um parto. Imaginar qual é a marca da cidade é muito difícil. Em Roma, tem o Coliseu, nos Estados Unidos, tem a estátua da Liberdade, em Paris, a Torre Eiffel, em Londres, tem o Big Ben e em São Paulo...? Não há um ponto e sim muitos pontos. São Paulo tem muitas imagens e esse é o fascínio da cidade. A cidade é multifacetada. E aí bate de novo com o mapa cultural, que tem várias facetas e pode ser visto de várias formas. Para fazer o logotipo, a primeira marca que eu tinha era um desenho que partia da mancha urbana. Eu transformei isso em uma linguagem gráfica. Gosto dessa idéia até hoje. Apresentei, a prefeita gostou muito e eu saí da prefeitura felicíssimo, com a marca aprovada e muito satisfeito porque ia fazer a marca da minha cidade, que é o sonho de qualquer designer. Apesar de ter sido aprovada pela prefeita, pela secretária de Cultura e pela secretária de Habitação (na época, a arquiteta Ermínia Maricato), a marca foi apresentada em uma reunião de secretariado e não houve consenso para a aprovação. A prefeitura nunca se importou com isso e a idéia ficou abandonada. Eu fiquei muito triste, mas continuei o meu trabalho na Secretaria de Cultura.

Com Ciência - Mas no fim você fez uma marca para a administração, não?
João Baptista
- Fiz sim. No final de 1989, houve a eleição presidencial e o Lula, que estava concorrendo com o Collor, perdeu. A derrota foi atribuída em grande parte às administrações municipais petistas, inclusive à de São Paulo. Foi então que essa administração se deu conta de que estava com um problema de comunicação. Então eles me pediram de novo uma marca. Aí eu voltei ao caminho iniciado da outra vez, em cima do Monumento às Bandeiras, obra de Victor Brecheret, que fica no Ibirapuera. A idéia era extrair do esforço coletivo, que é a idéia do monumento, a saga do povo paulista, do esforço das pessoas. Era uma das necessidades da gestão: trabalhar o conceito de cidadania, que cada pessoa se percebesse como um cidadão de São Paulo. Eu então isolei um dos elementos da obra do Brecheret, para tirar, do todo, o cidadão. E essa ficou sendo a marca de São Paulo, que foi aprovada a toque de caixa. Como o PT não estava ligando muito para a questão da comunicação, eu fiz a marca da cidade e depois comecei a desenhar tapumes de obras, placas de obras e uma série de coisas para lugares variados. Durante todo esse tempo, eu segui fazendo o trabalho da Secretaria de Cultura, mas comecei a trabalhar também com as demais secretarias. As coisas foram acontecendo exatamente porque o pessoal da prefeitura não estava muito atento a isso, pois se estivessem teriam contratado uma agência de publicidade, ou teriam proposto um concurso. A comunicação acabou sendo feita por uma só pessoa, que tem um olhar generoso sobre a cidade, modéstia a parte, e por isso foi bom pra cidade.


Com Ciência - O design do transporte urbano paulistano também foi trabalho seu?
João Baptista
- Sim. Eu padronizei visualmente os ônibus da cidade de São Paulo, que eram, naquela época, em torno de 10.500, a maior frota de superfície existente no mundo. Existiam 75 modelos de frente e eu precisava fazer um projeto que pudesse ser implantado em todos esses modelos. A idéia foi a seguinte: separou-se a cidade nas zonas básicas - norte, sul, leste e oeste - e se atribuiu a cada uma delas uma cor de sinalização - azul, amarelo, vermelho e marrom. Criou-se um símbolo para a municipalização, que é o M, que representava não só o movimento dessa faixa, mas também estava ligada à tipologia do São Paulo para Todos. Fez-se na época uma pesquisa para saber como as pessoas tomavam o ônibus, se liam a testeira do ônibus ou se identificavam pelo número e como faziam os analfabetos? Há muitos analfabetos na cidade. Mas a pesquisa não ajudou muito, pois a metade conhecia pela 'cara', outros liam, outros olhavam o número e percebemos que a cor diferenciada seria suficiente e foi isso que ficou. O projeto envolvia todo o entorno também, com a padronização de numeração, de tipologia, dos pontos de ônibus, dos terminais, etc.


Com Ciência - O que ficou para você dessa experiência na prefeitura petista?
João Baptista
- O que ficou é que, pela primeira vez o município teve uma padronização na sua comunicação. Nunca se fez isso em São Paulo ou no Brasil e poucas cidades do mundo têm isso. Foi um privilégio ser o autor desses projetos. E a omissão da gestão me possibilitou correr por fora e fazer esse tipo de coisa sem muita burocracia. Quando eles se deram conta, já estava pronto, funcionando e com muita eficiência. O projeto de identidade da secretaria de cultura, por exemplo, foi premiado no exterior, é publicado no exterior. Enfim, foram projetos bem sucedidos na área específica de comunicação visual e artes gráficas. Eu até organizei uma exposição na galeria da Consolação, que é uma passagem subterrânea para atravessar a Consolação, que na época estava revitalizada, estava muito bem cuidada e hoje está em ruínas de novo, onde coloquei tudo o que foi produzido, pelo menos o que cabia, para que as pessoas percebessem que existia uma intenção de se criar um padrão visual para a cidade. Como a cidade é muito grande, as pessoas não vêem o todo. Vêem um ônibus aqui, um táxi ali, pega o ingresso do Pacaembu aqui. Na exposição estava todo o material reunido: tapumes de obras, placas de obras, os cartazes da Secretaria de Cultura, que são obras de arte gráficas, também bem sucedidos e premiados. Essa coleção dos cartazes está na biblioteca do Congresso em Washington. E agora temos de novo uma administração petista que não consegue retomar isso, que não consegue olhar para isso. Essa coisa do mapa cultural, por exemplo, não anda. Se você me perguntar por que isso acontece eu vou te responder que falta vontade política. Falta ver que isso é importante. A minha experiência não serviu pra São Paulo, porque ela foi desmontada assim que possível. Não serviu para o partido, que não a utilizou em nenhum outro município. Mas serviu pra mim, pra minha carreira, para o meu portfólio. Eu sou petista desde a fundação do partido, sem ser filiado. Sempre votei no partido, mas eu fiz tudo isso pela cidade, através do partido, com o qual eu tenho afinidades, mas em primeiro lugar vem a cidade.

Com Ciência - Você acha que as administrações pensam na cidade como um todo?
João Baptista
- Nunca se pensou a cidade como urbe e aí acontecem os desvios. Há um trecho do centro de São Paulo com prédios projetados por Ramos de Azevedo, digamos que de maneira não ordenada, não planejada. No eixo Viaduto do Chá, prédio dos Matarazzo, prédio da Light, Teatro Municipal, ou seja, aquele núcleo com as grandes obras dele, é possível perceber que se havia pensado em uma metrópole européia. O que era uma metrópole européia na época de Ramos de Azevedo? Era pessoas de terno, bem vestidas e bem calçadas. Se o Ramos de Azevedo passasse hoje por esse trecho ele morreria. Isso porque em algum momento o que se pensou para a cidade, se mostrou inviável. Pensava-se que São Paulo seria uma Chicago. Não se previa onda migratória interna, nem pobreza, nem a selvageria da economia. A cidade é inviável como urbe. Quem planejou uma cidade copiando a ópera de Paris, não poderia imaginar o Teatro Municipal cheio de gente em frente jogando búzios, travestis com silicone e um monte de camelôs. O plano diretor de São Paulo levantou que 60% da população de baixa renda mora no centro. A idéia de que a periferia é capaz de abrigar essa população é uma falácia. Eles vivem em habitações coletivas, os cortiços. O cara mora no quarto número 13, cama número 9, travesseiro do lado da parede, esse é o endereço do cara. E ele tem um armarinho onde ele tranca tudo pra não ser roubado. Esse é o uso da cidade. Mas o Ramos de Azevedo não poderia imaginar isso.

Com Ciência - Como o público é levado em consideração na criação de marcas para a cidade?
João Baptista
- A questão do desenho gráfico está muito ligada ao luxo, à excelência do produto, à sofisticação, o que acontece muito em São Paulo. Você está no Jardins, pensa que está em Manhattan. Há lojas Giorgio Armani e Dolce & Gabana. Mas atravessando a rua tem uma favela, com muita pobreza. Por que o cartaz da Secretaria de Cultura tem esse grau de sofisticação, que faz com que seja premiado no exterior, e tudo mais? Mas por que dar desenho de segunda, terceira categoria para o povo? É direito do cidadão receber informação de boa qualidade. Esse era o meu fascínio. Você pode gastar as mesmas quatro cores, o mesmo tipo de papel fazendo essa porcaria que se faz para gestões públicas de qualquer cidade e de qualquer administração. Mas por que não cuidar? Por que não pegar um profissional competente e que faça o trabalho? Ou seja, um cara da Cidade Tiradentes está recebendo o mesmo tipo de informação que o cara da Oscar Freire. Não é porque é público que tem que ser feio. O Estado tem o dever de dar informação de boa qualidade.

Com Ciência - Quais foram os símbolos de São Paulo que você considerou na criação da logomarca da cidade até chegar ao monumento de Brecheret?
João Baptista
- O prédio do Banespa, era um candidato, mas não era verdade. O centro da cidade também não. Isso porque São Paulo não tem um único marco. O museu do Ipiranga não é um símbolo, o Masp não é um símbolo, o Vale do Anhangabaú também não é. Nada é símbolo, porque a cidade é muito facetada. Eu cheguei a pensar em usar azaléias, que durante uma época diziam que era uma flor paulistana. Mas eu queria também tratar de questões como cidadania e trabalho e eu queria usar um elemento da cidade para representar isso. Precisava ser algo que tivesse a ver com São Paulo, mas enquanto movimento, enquanto gente e cidadania, e acho que com o Brecheret eu consegui isso. Em outra ocasião a Avenida Paulista ganhou um concurso para ser o símbolo da cidade, o que é uma coisa mentirosa, pois São Paulo é um misto de muitas coisas. Uma vez eu peguei um mapa cartográfico e, pensando no uso que eu fazia da cidade quando criança, fui marcando onde ficava a minha casa, a escola, o clube que eu freqüentava, a casa do meu amigo, todos os meus trajetos. O que obtive foi uma mancha. As pessoas usam uma parte muito pequena da cidade. Então, não dá pra dizer que a Avenida Paulista representa um todo. Um todo é muito grande para você representar por uma única avenida, onde está centrado o poder econômico. Pode representar o FMI, mas não a cidade. A cidade não é aquilo, pelo contrário.

Com Ciência - Mas você usa bastante a imagem de conjunto de arranhas-céus representando São Paulo...
João Baptista
- Sim, mas eu lamento de certa forma usar essa imagem. Eu fiz um logotipo para uma comemoração da cidade, que era uma imagem feita do Anhangabaú, que está no imaginário. Mas aquela é uma metrópole primeiro mundista. É uma cidade que não é a nossa. O mesmo raciocínio que eu fiz da Avenida Paulista eu acabei fazendo aqui. Usar essa imagem dos prédios ou usar essa mancha onde aparece a Paulista, ou as outras coisas como símbolo da cidade não é verdadeiro, na medida que você tem uma favela [mostra uma foto de favela paulistana], que hoje é muito mais São Paulo do que as outras imagens. No final da gestão da Erundina já me veio a idéia dessa cor de tijolo, dessas casas feitas em mutirão, que é a grande paisagem da cidade. Quando você chega em São Paulo é isso que você vê. Mas eu não cheguei a fazer nada com esse tom. São Paulo hoje, infelizmente, é muito mais isso.

Com Ciência - Como o designer lida com essas disparidades sociais para fazer uma programação visual?
João Baptista
- O designer não pode fechar os olhos. O que é mais representativo? Claro que o poder econômico gera o seu visual, a sua cara. A Rua Gabriel Monteiro da Silva, por exemplo, se transformou em cinco anos. Ela virou uma rua inteira de lojas de decoração, com produtos importados, sofisticados. E isso é um reflexo do que acontece no país. A cidade começa a se fechar, para os poucos que podem pagar. Ocorre uma perda da noção do social. Da cidade como ágora, como espaço para troca de informações, para convívio. Isso acaba. O certo é mostrar todas as imagens da cidade. Tem que mostrar que São Paulo tem uma loja Dolce & Gabana, mas tem que mostrar que tem a favela, o bairro onde as casas são feitas em mutirão. Dizer que Jardins é São Paulo não é verdade, assim como dizer que é só periferia também não. A minha formação me habilita a lidar tanto com uma imagem como com outra. Alternando, você consegue mostrar o todo.

Atualizado em 10/03/02

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