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Democracia digital

A experiência brasileira de Porto Alegre dá uma resposta positiva à questão. Apresentando o caso do site do Orçamento Participativo (OP), o diretor-presidente da Companhia de Processamento de Dados (Procempa), Rogério Santana, explicou que o seu papel é o de ampliar a divulgação das informações relativas ao OP (agenda, regimento, estrutura, etc), permitir o controle e fiscalização das demandas por parte dos cidadãos à distância e ampliar a participação da sociedade. Neste caso, o alvo é principalmente a classe média, tradicionalmente menos presente às reuniões do OP. "Essas pessoas são menos motivadas para participar das reuniões noturnas, até porque vivem em bairros onde já há boa infra-estrutura básica e de serviços. Para eles, a possibilidade de enviar suas demandas e opiniões via e-mail facilita e amplia o potencial de participação", esclarece Santana.

Outro projeto da prefeitura de Porto Alegre, dirigido a uma comunidade distinta, é o dos Telecentros, salas informatizadas, instaladas em bairros da periferia, onde as pessoas, além de aprender a lidar com o computador e a Internet (com auxílio de monitores), podem ouvir música e ter contato com outras manifestações culturais. "Nosso objetivo é sobretudo atrair os jovens, afastando-os do tráfico de drogas", diz o diretor do Procempa.

Há experiências semelhantes em outras cidades brasileiras, embora por vezes elas esbarrem em graves dificuldades financeiras, como é o caso da cidade de São Paulo. Conforme explicou a secretária municipal de administração, Helena Kerr do Amaral, a prefeitura está implantando um projeto de Telecentros paulistanos (que são montados em espaços originalmente reservados a lojas, em conjuntos da Cohab, hoje abandonados ou sem uso), mas a situação de "desinvestimento, atraso tecnológico e ausência de rede" em que foi deixada a prefeitura nos últimos anos dificulta muito a modernização tecnológica. Nos Telecentros que vêm sendo implantados na cidade, os micros são doados por empresas e os monitores são funcionários da Prefeitura e voluntários da comunidade, os quais dão cursos de informática geral, uso de processadores de texto e Internet. Os micros também podem ser usados livremente pela comunidade.

O principal desafio, no entanto, diz Helena Kerr, é a mudança do padrão de gestão. "Depois de haver encontrado a cidade numa situação financeira caótica, estamos tentando mudar o quadro, implantando um novo padrão de gestão, mais descentralizado e com maior transparência. Para isso, é preciso modernizar e informatizar a administração e criar condições para o acesso, aprendizado e incorporação das tecnologias de informação pela população. É o que estamos fazendo através dos Telecentros e do Programa de Modernização da Administração Tributária (PMAT)".

No Paraná, a experiência de governo eletrônico está baseada em três princípios, segundo o diretor-técnico da Celepar, Danilo Scalet: ampliação dos serviços, criação de pontos de acesso e alfabetização digital da população. Em 2000, foi criado o projeto E-Paraná, no qual está prevista a instalação em todas as secretarias de governo de micro-computadores interligados à Internet, de onde se pode solicitar qualquer serviço público, mesmo não sendo referente à secretaria em questão. Além disso, há um programa de treinamento para a população, com cursos rápidos, de 3 horas de duração, que está sendo feito em convênio com as prefeituras, as quais ajudam a formar os instrutores (cerca de 12 mil até o momento).

Vários casos relatados no Seminário Brasil-Reino Unido mostram soluções interessantes para o uso das TIC na administração pública, mas eles estão longe de constituir a regra. Fato é que o Brasil (assim como o Reino Unido e outros países, embora de maneira mais intensa) vê concretizar-se o conceito de "divisão digital" (digital divide), com seus dois mundos coexistentes. Um moderno e informatizado, cujos padrões nada deixam a dever aos países mais desenvolvidos (veja-se, por exemplo, o projeto da rede Ansp e Internet 2, gerenciados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O outro obsoleto e excluído da "sociedade da informação". No dizer de Carlos Vogt, o Brasil está "dentro e fora ao mesmo tempo" (veja artigo "Informação e Simulacro", no dossiê Sociedade da Informação - Com Ciência, março/2001).

Atualizado em 21/12/2001

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