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Entrevista com
Kate Oakley
Três perguntas a Graham Screen
 

Perspectivas para o governo eletrônico

Martin Ferguson enfatizou necessidade de se criar formas participativas de democracia digital.

Como as TIC podem conduzir a uma maior participação social? Para o pesquisador da Universidade de Birmingham e consultor da Agência de Melhorias e Desenvolvimento (IDeA) do Reino Unido, Martin Ferguson, é importante desenvolver formas "transformadoras" de participação social através das TIC e não apenas automatizar os serviços ou informatizar departamentos. É preciso reestruturar o sistema de tomada de decisões, incentivando a democracia local (na cidade, no bairro). Isto pode ser feito com o estímulo a diferentes formas de participação.

Na "tipologia da participação democrática" apresentada por Ferguson, essas formas de participação vão do mais simples e passivo (como o referendo) ao mais ativo e complexo (deliberação), cujo potencial transformador é maior.

Essas formas de participação são realizadas diferentemente segundo os meios utilizados, como lembrou Deborah Peel, professora do Departamento de Planejamento e Design Urbano da Universidade de Westminster. Na situação tradicional, a "consulta" corresponde a exibições, encontros públicos, enquetes; a "deliberação" a grupos de interesse (focus groups), júris populares e debates induzidos. Na situação digital, a "consulta" corresponde a referendos via Internet, e-mails, pesquisas de opinião através de sites e outros; e a "deliberação" a discussão formal ou informal de grupos eletrônicos (grupos de discussão), teleconferências, etc.

Em qualquer uma das situações, há barreiras à participação. Por exemplo, necessidade de implantar os recursos tecnológicos necessários, dar acesso à população aos computadores, adquirir know-how técnico, possuir habilidade para processar grandes quantidades de informação, além dos tradicionais idade, tempo disponível, grau de educação/escolaridade, etc. "Se quisermos implantar uma democracia eletrônica inteligente", afirma Peel, "é preciso vencer essas barreiras, universalizar o acesso à tecnologia, educar e tornar as pessoas aptas à participação, assegurar que os benefícios da participação ultrapassam o esforço e o tempo gastos, aumentar a confiança da população na tecnologia e no governo e, finalmente, repensar o próprio conceito de democracia".

Finalmente, vale lembrar, como disse Cláudio Weber Abramo, secretário geral da Transparência Brasil, que não basta ao governo (eletrônico) expressar a preocupação com transparência apenas no discurso, mas estabelecer mecanismos concretos para promovê-la. Até o momento, argumenta o jornalista, as poucas administrações que, no Brasil, declararam implantar projetos de governo eletrônico não criaram canais adequados de diálogo com parceiros que contribuam para o desenho adequado dessas iniciativas e os sistemas são muito pouco funcionais, ineficazes, difíceis de utilizar e geralmente herméticos (apenas os iniciados ou conhecedores do tema e da tecnologia conseguem se orientar nos bancos de dados e sites de governos). "É preciso negociar e orientar soluções [tecnológicas] nas quais as características de uso imponham a especificação dos sistemas e não o contrário. Ao mesmo tempo, é exagerado imaginar que governo eletrônico se confunde com tomada de decisão, numa espécie de 'democracia eletrônica'. Se a demanda por informação estruturada na Internet for baixa (como é o caso do Brasil), não há participação democrática da população e, como o poder não se move senão quando empurrado, isso funciona como desestímulo à maior transparência no governo eletrônico", conclui Abramo.

 

Atualizado em 21/12/2001

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