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Simulação, feita pela Nasa, de choque de um meteoro na Terra
Fonte: BBC-online

 

Não há dúvida de que impactos de objetos extraterrestres vêm ocorrendo na superfície da Terra ao longo de sua história. No entanto, há controvérsias quanto à possibilidade de que a queda de tais objetos tenha causado extinções de organismos em grande quantidade (extinção em massa). A controvérsia mais conhecida, embora não tenha sido a maior, é a teoria de que a queda de um gigantesco meteoro teria extinguido os dinossauros, além de outros organismos.

Esta teoria foi fundamentada pelo físico norte-americano Luis Alvarez (Nobel de Física, 1968) e seu filho, o geólogo Walter Alvarez, em 1980, quando encontraram na Itália vestígios de que um meteoro teria se chocado com a Terra no final do período Cretáceo (há cerca de 65 milhões de anos atrás).

A evidência mais forte encontrada pelos Alvarez é uma camada de rocha sedimentar (originada do acúmulo de sedimentos) que contém grande quantidade de um metal raro, o irídio, encontrado em grandes concentrações em corpos celestes (espaciais, extraterrestres) e no magma (matéria incandescente encontrada no interior da Terra). Este metal encontra-se entre duas camadas de calcário. A camada inferior apresenta abundância de fósseis, enquanto a superior é quase desprovida destes, indicando aos Alvarez que a vida havia desaparecido subitamente e que a camada de rocha sedimentar tinha alguma relação com isso. A datação do material mostrou que sua origem estaria em torno de 65 milhões de anos atrás, o que corresponde ao mesmo período em que os gigantes dinossauros desapareceram do planeta.

Junto com outros cientistas, calcularam que o meteoro teria cerca de 10 km de diâmetro e que teria causado uma cratera de uns 300 km. Mas onde estaria? Em 1981, mostrou-se que uma enorme cratera na região de Yucatán, no México - que antes fora atribuída à atividade vulcânica - foi resultado do impacto causado pela queda de um meteoro há 65 milhões de anos. Além do irídio em rochas pertencentes à fronteira Cretáceo-Terciário (também chamada de limite K-T), como no caso da cratera, foram encontrados pequenos cristais de quartzo com um padrão de rachaduras que só poderia ter se formado sob calor e pressão intensos, sendo consistente com o impacto de um meteoro. A cratera recebeu o nome de Chicxulub, nome de uma cidade próxima.

Santanaraptor placidus. Réplica do dinossauro brasileiro que viveu na Chapada do Araripe (CE) há cerca de 110 milhões de anos.
Foto: Renato Velasco

O choque do meteoro no planeta teria causado ondas de choque com energia equivalente à de uma explosão nuclear, com ventos espalhando o fogo da explosão, e que teria durando semanas. É possível que tenham ocorrido terremotos e maremotos (tsunamis), além de ter levantado uma grande quantidade de poeira, fumaça e irídio na atmosfera, impedindo que a luz do sol penetrasse. Sem sol, plantas (mas não suas sementes e raízes), peixes, plâncton e dinossauros não resistiram, ao contrário de tartarugas, lagartos, crocodilos, mamíferos e aves. Segundo Paul Upchurch, geocientista da Universidade de Cambridge, os organismos que dependiam fortemente da luz e os do topo da cadeia alimentar foram muito afetados. Já os animais que puderam se abrigar, os que viviam na água doce, etc. ficaram razoavelmente bem.

O planeta viveu, durante meses ou anos, momentos de escuridão, frio intenso e chuvas ácidas, que teriam condenado à morte cerca de 85% de todas as espécies existentes, muitas das quais se extinguiram para sempre. Mais tarde essa poluição teria caído ao solo, formando uma fina camada de irídio.

Vestígios do impacto no Brasil

Uma das evidências mais fortes de que o meteoro teria caído na Terra se encontra na Bacia de Campos, localizada do norte do estado do Rio de Janeiro ao sul do Espírito Santo. Essa bacia tem enorme importância econômica, já que detêm 80% das reservas de petróleo do Brasil.

Foi na Bacia de Campos que os geólogos Alexandre Grassi e Luis Fernando de Ros, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, identificaram a presença de irídio e microesférulas (1 mm de diâmetro) que os levaram a relacioná-los com o impacto de um meteoro de grandes proporções há 65 milhões de anos. Durante sua dissertação do mestrado, de 1997 a 1999, Grassi estudou minúsculas algas fósseis, muito abundantes em rochas sedimentares, presentes na Bacia de Campos e na de Pernambuco-Paraíba. Através da análise quantitativa destes fósseis, ele identificou uma provável extinção em massa destes organismos, justamente no limite K-T, há 65 milhões de anos.

Segundo Grassi, "a origem do irídio já foi bastante controversa na literatura especializada. Entretanto, hoje em dia, a maioria dos geocientistas acredita que a concentração anômala de irídio no limite K-T esteja relacionada a um evento de impacto e não de vulcanismo. O irídio pertence ao grupo da platina. As proporções entre irídio e os outros elementos do grupo em várias seções do limite K-T mostraram-se sempre muito semelhantes àquelas encontradas nos meteoritos do tipo condrito (rochoso), mas são diferentes das encontradas nas emanações vulcânicas atuais." A pesquisa evidencia o mais distante vestígio do choque meteorítico já registrado a partir da área de impacto, a 7.800 km da cratera de Chicxulub.

Estudos feitos pelo geólogo Gilberto Athayde Albertão, também da Petrobrás, sustentam que rochas da Bacia de Pernambuco-Paraíba, em afloramento próximo à cidade de Olinda (PE), teriam origem catastrófica e estariam ligadas à um tsunami provocado pela queda do meteoro no final do Cretáceo.

Outras Teorias

Apesar da teoria do meteoro ainda ser a mais aceita no meio científico, ela ainda é pauta de discussão. O professor de geologia, Dewey M. McLean do Instituto Politécnico da Virgínia (EUA) acredita na possibilidade de ter sido a ação vulcânica, combinada com um efeito estufa, e não a queda do meteoro, a causadora da extinção do final do Cretáceo. Como citado anteriormente, o irídio também está presente em altas concentrações no magma que é expelido pelos vulcões em erupção.

De acordo com essa teoria, que também surgiu no início da década de 80, erupções volumosas e repetidas teriam ocorrido na Planície de Deccan, no sul da Índia, e desencadeado mudanças climáticas significativas na Terra. A atividade vulcânica teria emitido enormes quantidades de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, aumentando o efeito-estufa (elevando a temperatura média da Terra), que teria causado uma extinção em massa.

Em carta para o editor da revista Science (1993, vol. 259, pág. 877), ele afirma que a revista teria favorecido o debate sobre a teoria dos meteoros e menosprezado outras, como a da ação de vulcões. Ele mostrou que 24 artigos pró-meteoro foram publicados na revista de 1980 a 1992, enquanto apenas 4 contra-impacto, ou pró-impacto acrescidos de outras alternativas, foram publicados no mesmo período.

De acordo com McLean, em dezembro de 2000, durante a Reunião da União Americana de Geofísica (American Geophysical Union), foi reportado por membros que estavam investigando a estrutura de impacto de Chicxulub, em Yucatán, que a cratera não seria suficientemente grande para ter causado o período de inverno global e, conseqüentemente, a extinção em massa.

Outros pesquisadores acreditam na queda de mais de um meteoro. Outros, ainda, acreditam que a extinção do fim do Cretáceo tenha se dado graças a mudanças climáticas, alteração no nível do mar, envenenamento por níquel (elemento químico extremamente tóxico quando diluído em água), radiações que teriam causado câncer, ou até uma combinação destes fatores.

As reais causas da extinção do Cretáceo ainda não são conhecidas. Controvérsias como estas enriquecem a ciência e permitem que novas evidências sejam buscadas, até que se possa provar o que realmente teria acontecido há 65 milhões de anos. Especialistas apontam que fenômenos astronômicos, geológicos e climáticos sejam periódicos e fundamentais para a evolução dos organismos. Outros períodos de extinções em massa ou em menores proporções, vêm acontecendo no planeta há milhões de anos, todos com evidências múltiplas e incertas.

Pegadas de dinossauros na Bacia Rio Peixe, no Vale dos Dinossauros, no município de Sousa (PB)
Foto: Hebert Campos

Vale dos Dinossauros: Pegadas de dinossauros podem ser testemunhadas no município de Sousa (PB), a 427 km de João Pessoa. Estima-se que o Vale tenha cerca de 120 milhões de anos e contenha fósseis do Cretáceo. O Vale, com uma área de mais de 700 km2, está aberto para visitação todos os dias. Informações turísticas pelo telefone (83) 522-2688.

Outras informações no site da UnB.
É um trabalho do pesquisador que mais contribui para o desenvolvimento do Vale, o Prof. Giuseppe Leonardi.

Fósseis de dinossauros e outros animais do período Cretáceo podem ser encontrados na Chapada do Araripe (CE), Uberaba e Prata (MG), Presidente Prudente, Álvares Machado, Marília e outras regiões de São Paulo, Tesouro e Água Fria e outras regiões (MT), além de várias regiões no Maranhão.

Colaboração: Hebert Bruno Campos, estudioso de Paleontologia e Luciana Barbosa de Carvalho, pesquisadora do Museu Nacional/UFRJ

Outras extinções em massa e suas prováveis causas:

Período geológico*: Na passagem Pré-Cambriano-Cambriano (540 milhões de anos)
Causas**: Sem dados

Período geológico*: Na passagem Ordoviciano-Siluriano (440 milhões de naos atrás)
Causa**: Glaciação (congelamento das águas)

Período geológico*: Devoniano superior (365 milhões de anos atrás)
Causas**: Mudanças climáticas, esfriamento do globo e diminuição do nível de oxigênio

Período geológico*: Na passagem Permiano-Triássico (250 milhões de anos)
(Esta foi a maior extinção em massa. Cerca de 90% de todas as espécies foram extintas).
Causas**: Mudanças climáticas causadas por vulcões, alteração dos níveis do mar e de sua salinidade.

Período geológico*: Triássico Superior (214 milhões de anos)
Causas**: Mudanças climáticas e aumento da pluviosidade

Período geológico*: Na passagem Cretáceo-Terceário (65 milhões de anos)
Causas**:
Meteoro, vulcanismo e mudanças climáticas

Período geológico*: Na passagem Eoceno-Oligoceno (35 milhões de anos)
Causa**: Mudança do nível do mar

*Dados de Luciana Barbosa de Carvalho do Museu Nacional/UFRJ.
**Dados do site da BBC

   
           
     

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Atualizado em 10/02/2001

   
     

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