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Editorial:
Admirável Nano - Mundo - Novo
Carlos Vogt
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Aplicações militares estão sendo incentivadas no EUA
Nanotecnologia une diferentes visões de ciência
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O que é nanotecnologia?
Cylon Gonçalves da Silva
Nanoredes
Marcelo Knobel
Nanotecnologia molecular e de interfaces
Oscar Loureiro Malta
Nanodispositivos semicondutores e materiais nanoestruturados
Eronides F. da Silva Jr.
Nanomagnetismo
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Nanobiotecnologia e Saúde
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Nanociência e nanotecnologia
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Nanociência e nanotecnologia no LNLS
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Rede de pesquisa em nanobiotecnologia
Nelson Durán e Marcelo De Azevedo
Há mais espaços lá embaixo
Richard Feynman
Poema:
Pós-Realidade
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Aplicações tecnológicas dependem de investimentos privados

Amparada pelos conhecimentos da física, química, biologia e engenharia, a área de nanotecnologia e a nanociência (N&N) promete aplicações futuras em muitos setores da vida cotidiana. No Brasil, ainda está engatinhando. Precisa de mais "atores" e mais investimentos para prosperar e alcançar o estágio em que já se encontra em outros países. Até agora, apenas o governo federal tem investido em redes de pesquisa. Faltam incentivos para que a indústria brasileira compreenda a importância de se investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para que a nanotecnologia seja impulsionada. "O empresário brasileiro não tem cultura de pesquisa, desenvolvimento e inovação", lamenta Edison Zacarias da Silva, físico da Unicamp que faz parte de uma das redes financiadas pelo governo federal.

Por enquanto, existem algumas iniciativas do governo com o intuito de potencializar a pesquisa em N&N no Brasil. Entre elas está uma primeira tentativa de atender aos anseios da comunidade científica. Em 2000, o CNPq, órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia, elaborou o Programa Nacional de Nanociências e Nanotecnologia que contou, inicialmente, com o auxílio de 32 pesquisadores, e do qual resultou um "mapa" dos cientistas que, no ano de 2000, já atuavam na área de nanociência e nanotecnologia. Dentre os cientistas, 99 trabalhavam com física, 51 com engenharia, 16 com química, 14 com biologia e 9 com farmácia. A intenção era traçar um plano de ação para definir os rumos da tecnologia no país. Foi feita, então, uma divisão por áreas que deveriam ser consideradas prioritárias, resultando em 6 segmentos: o primeiro composto por nanodispositivos, nanosensores e nanoeletrônica (25 grupos); materiais nanoestruturados (39 grupos); nanobiotecnologia e nanoquímica (15 grupos); processos em nanoescala com impacto e aplicações em meio-ambiente e agricultura (7 grupos); energia (2 grupos) e, por fim, o da nanometrologia (1 grupo).

A partir de fevereiro de 2002foram criados, então, 4 redes, que juntas envolvem cerca de 40 instituições de pesquisa do Brasil, 6 do exterior, além de duas empresas - a France Telecom e a brasileira PQSD-Ponto Quântico Sensores e Densímetros. As redes estão dispostas nas instalações da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Unicamp, e as outras duas na Universidade Federal de Pernambuco. Juntas, elas receberam R$ 3 milhões para os próximos dois anos, ou algo em torno de R$ 700 mil para cada. É um investimento tímido, considerando que há, aproximadamente, 200 pesquisadores envolvidos em cada centro. Sem contar que, apenas para efeito comparativo, os Estados Unidos investiram, só em 2002, US$ 604 milhões, com expectativas de atingir US$ 710 milhões em 2003.

Com a falta de recursos, é fácil ter uma idéia do que foi possível fazer. Segundo apurou-se, até agora, esses recursos foram usados apenas para a realização de encontros destinados à orientação dos trabalhos. Alguns dos participantes das redes acreditam que não haja, no momento, evidências claras sobre a continuidade do financiamento, tudo vai depender do próximo governo.

Outra iniciativa por parte do governo brasileiro, via Ministério da Ciência e Tecnologia, é o Instituto do Milênio em Nanotecnologia. Coordenado pelo físico Alaor Chaves (veja artigo nesta edição), da Universidade Federal de Minas Gerais, o instituto foi aprovado em janeiro de 2002, sendo formado por pesquisadores de 21 instituições brasileiras e, segundo estimativa de Chaves, já deve ter recebido do CNPq investimentos de cerca de R$ 2 milhões. O Instituto irá pesquisar vários sistemas nanoestruturados, reconhecidos como prioritários para o desenvolvimento tecnológico em microeletrônica, optoeletrônica, fotônica, telecomunicações e bioengenharia.

O MCT solicitou um estudo da viabilidade de criação de um Centro Nacional de Referência em Nanotecnologia ao físico Cylon Gonçalves da Silva, físico e ex-diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) (veja artigo "O que é nanotecnologia?"). O Centro ainda não foi criado, aguardando as definições do próximo governo. Gonçalves da Silva explica que a diferença entre uma iniciativa e outra é que "as redes têm seu foco principal nas pesquisas básicas e no treinamento dos recursos humanos e, embora se ocupem da questão de inovação, não possuem instrumentos institucionais e financeiros para a exploração de seus resultados. O Centro viria preencher esta lacuna, isto é, a aplicação dos resultados das pesquisas acadêmicas na forma de uma secretaria executiva, responsável pela articulação dos esforços do país na área".

Até o momento, a preocupação tem sido somente qualificar recursos humanos nas universidades, mas ainda é preciso convencer empresários da importância em se investir em P&D. A Fapesp tem tentado estabelecer esta mentalidade com incentivos para projetos conjuntos entre a universidade e empresa, a exemplo do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) e o de Parcerias de Inovação Tecnológica (Pite).

Algumas áreas específicas têm um maior potencial para receberem os benefícios das inovações da N&N. "A pesquisa de novos materiais e a simulação e modelamento têm chance de contribuir para novas aplicações, aliadas à física experimental. Sou otimista de que coisas interessantes poderão vir. A agroindústria e a indústria farmacêutica certamente vão receber os primeiros benefícios", diz o físico Zacarias da Silva.

Também está otimista o pesquisador do departamento de química da UFMG, Rochel Montero Lago: "a área de N&N tem caminhado e acredito que as expectativas sejam de um razoável desenvolvimento nos próximos anos". Para isso, no entanto, será necessário um planejamento estratégico de investimentos em P&D à longo prazo, por períodos longos como uma década, como sugere Eronides Felisberto da Silva Junior, coordenador da Rede Cooperativa para Pesquisa em Nanodispositivos Semicondutores e Materiais Nanoestruturados da UFPE. Atualmente, não existe previsão quanto aos investimentos que serão feitos no futuro.

Os laboratórios acadêmicos vêm cumprindo o seu papel. Nas áreas de física, química e biologia o trabalho é intenso na busca pelo conhecimento, afirma Adalberto Fazzio, físico da USP. Entretanto, conclui, "não é nossa competência pensar no mercado".

A nanoeletrônica é uma das fronteiras do conhecimento. Para Fazzio, é nela que se pode esperar uma grande revolução, já que o paradigma dos dispositivos atuais baseados no silício já alcançou seu limite extremo de miniaturização. Segundo ele, a nanoeletrônica só vem sendo desenvolvida na área acadêmica, mesmo em nível internacional.

Um avanço considerável no estudo de nanoeletrônica foi feito em pesquisa com nanofios de ouro, considerados estratégicos para a fabricação de componentes para a próxima geração de computadores (veja artigo sobre o Nanocomputador Quântico), mais eficientes, menores e mais baratos do que os atuais, que utilizam silício. O estudo, desenvolvido pelos pesquisadores Edison Zacarias da Silva, da Unicamp, Antonio José Roque da Silva, do Instituto de Física da USP e Fazzio, foi destaque na revista científica Physical Review Letters, de 17 de outubro de 2001.

Para Walter José Botta Filho, do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos, coordenador do Laboratório de Metais Amorfos e Nanocristalinos, o Brasil só começou a se preocupar com a área de N&N no ano passado, com a criação das redes. Botta lembra que em agosto 2003 acontecerá o X International Symposium on Metastable, Mechanically Alloyed and Nanocrystalline Materials - um evento Internacional que tratará de materiais nanocristalinos metaestáveis e ligas preparadas por métodos mecânicos. Mais informações podem ser encontradas no site do evento.

(LO) (GB)

 
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Atualizado em 10/11/2002
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